É tempo para fazermos uma reflexão sobre a importância da paternidade, a partir da perspectiva psicanalítica da função paternal. Pai em latim significa “pai da família” e ainda chamado de genitor ou progenitor, sendo que no plural se refere ao “pai e à mãe”.
No direito romano o pai exercia um poder absoluto sobre a família, tornando-se o tutor da educação, criação e sustento da prole. Com essa lógica patriarcal e suas mutações, o poder paterno assumiu no século 19 uma posição pública de autoridade masculina, que era visto como pai/professor/patrão.
Assim, a autoridade paterna moveu-se por diversas transformações históricas. Hoje, o poder do pai cede lugar ao modelo relacional e horizontal, que se estabelece com os filhos. Vamos, em resumo, caracterizar as mudanças na estruturação do papel do pai.
1. Pai provedor
Antes o pai era conhecido como pai patrão, que se transmutou em pai provedor no século 20, mas era ausente em suas funções de cuidador, que produziu uma geração de órfãos de pais vivos. E, mesmo assim, foi construído no imaginário social como o “pai ideal”.
2. Pai contemporâneo
O pai contemporâneo é um sucessor da heteronormatividade do pai patrão e provedor, que desenvolve um comportamento conformista nos costumes, mas que não assume diretamente a educação ética e moral de seus filhos. Aliás, ele resiste ser um modelo de autoridade ou de referência para sua família.
3. Pai irmão
Por não saber o seu espaço na criação e educação dos filhos, esse pai escolheu manter relações de coleguismo, ou seja, de “brother” dos rebentos. É um pai que se coloca como irmão de seus filhos, impedindo uma relação paterna autêntica, que retarda o amadurecimento e adaptação das crianças e adolescentes às normais sociais.
4. Pai simbólico
Muitas famílias não têm a presença do pai, em função do abandono ou do falecimento dos progenitores. Então, o pai simbólico passa ser a mãe ou responsável, substituindo o personagem paterno, na mantença e no cuidado da família. Mas, em geral, a mãe é o “pai figurado” pela sua coragem maternal e protetora, que contrapõem os riscos da ausência do universo paterno.
5. Pai cuidador
O pai cuidador é a nova configuração paternal, que emerge de um envolvimento simbiótico, sejam eles pais heterossexuais, homossexuais ou adotivos, que trazem uma relação de cuidado e permanente diálogo com seus filhos. Além disso, existem a subjetividade saudável e a clareza dos novos arranjos familiares, que ocorrem na interação, na acessibilidade e na responsabilidade por todo o núcleo familiar.
Enfim, ocorreu uma drástica mudança entre os modelos paternais, que passaram pela figura do pai romano e do pai no mito freudiano, que se fundaram no patriarcado. Porém, no século 21, expandiu-se à presença amorosa e cuidadora do pai com os filhos, ajudando a criá-los para se tornarem adultos resolvidos. É como disse William Shakespeare: “Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho”.
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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