Para entendermos melhor a personalidade perversa sugiro implicar ‘perversão’ ao quê se costuma chamar em estratégia política de ‘subversão’. Aliás, essas duas palavras, perversão e subversão, são encontradas como sinônimas em alguns dicionários. Mas como fazer isso?
Vamos primeiro tentar entender um pouco a estrutura desejante das personalidades neuróticas (histérica, Obsessiva…) segundo a lógica do Xadrez como é tradicionalmente conhecido. Temos então o seguinte: As peças sempre se movimentam de modo a se prepararem para um embate inevitável, mas que é constantemente adiado. Parte importante dessa dinâmica se deve as regras de movimentação, com limites e atribuições de movimento definidos para cada peça e seus respectivos espaços no tabuleiro.
Seguindo essa comparação temos que o sintoma neurótico é como o movimento/impasse das peças em um jogo de tabuleiro ocidental. Para o autor Joël Dor (1997,p 48) A variedade de movimentações/impasses possíveis na neurose estão dispostas conforme um “jogo regrado” estruturado em cada categoria clínica; então temos a militância da suposição ser/não-ser (o falo) no caso da histérica e a suposição da posse do objeto (nostalgia do falo) no caso da lógica obsessiva.
Não há oposição entre uma categoria e outra, mas sim um conjunto de possibilidades bem delimitadas que denunciam o modo como se da o contato com a castração, e com isso a configuração das “sobras fálicas” que constituem os objetos: Ser para a Histérica e ter para o obsessivo. Agora nos casos da personalidade perversa é possível depreender algum jogo estrutural?
Segundo o livro “Estruturas Clínicas”Joël Dor (1997,p 48) : “A estratégia perversa permanece sempre fixa qualquer que seja a variedade de suas efetuações. “Ela consiste sempre em desencaminhar o outro com relação às balizas e aos limites que o inscrevem diante da lei.””
Existe um jogo de tabuleiro Chinês chamado Go que expressa perfeitamente uma lógica perversa. Esse jogo possui algumas diferenças com os jogos ocidentais, pois no Go as peças são colocadas nas intersecções das linhas, literalmente “nas entrelinhas” (ocupando parcialmente 4 casas), e depois disso não se movimentam mais, fixam-se em um território onde dificilmente podem ser removidas. Com isso o objetivo do jogo é cercar o adversário conquistando o maior território possível –Sem o conflito direto- como, aliás, se prescreve a Arte da Guerra.
Enquanto o neurótico joga pela lógica do Xadrez tradicional cuja dinâmica segue o reconhecimentos das regras e a expectativa dos enquadramentos, o perverso “joga Go” frustrando as expectativas do oponente forçando-o sempre a jogar cair no engano de que há um sentido bem delimitado nas movimentações…
O neurótico acredita na eminencia de um embate regrado que resolverá a situação e por isso não enxerga a movimentação do perverso, mais do que isso – ele não quer saber -, e, portanto torna-se um cumplice, em outras circunstancias ele pode até desejar essa mesma versatilidade também vinculada aos seus impulsos perversos recalcados.
Joël Dor (1997,p 48) “O que permanece mais importante para o perverso é o fato de que o outro seja suficientemente engajado, inscrito num balizamento conhecido, sobretudo de respeitabilidade para que cada nova experiência ganhe figura de devassidão, isto é, para que o Outro se veja extraído do seu sistema, e para que aceda a um gozo onde o perverso detém em toda instancia, o controle”.
A lei secreta do perverso é uma grande sujeição à dialética desafio/transgressão que sempre toma o outro como potencial participe, e o gozo aqui está na reação de constrangimento/medo que esse outro esboça ‘assinalando’ a existência do limite bem como a proporção do excesso – Precisamente nisso ele é absolutamente dependente do outro -.
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