Muito depois de acontecer o boom da psicanálise no começo do século passado, a exploração da mente pelo viés medicinal, os estudos de Kurt Goldstein sobre a natureza humana e do cérebro (meádos de 1940) e o fechamento de como a percepção muda a realidade, o florescimento da psicologia Humanista como novo paradigma para a realização humana, com expoentes como Carl Rogers, Alfred Adler, Fritz Perls, Maslow e Viktor Frankl, a psicologia teve o nascimento de um novo olhar a respeito da realidade e os fatos, propiciado por Martin Seligman e seus colaboradores em meados de 1990.
Comin (2012), discorre: “O movimento batizado de Psicologia Positiva surgiu oficialmente nos Estados Unidos, em 1997/1998, a partir da iniciativa de Seligman que, com outros pesquisadores, começou a desenvolver pesquisas quantitativas visando à promoção de uma mudança no foco atual da Psicologia”.
Seligman propôs que se focasse, em sua abordagem, no modo de pensar que o sujeito tem sobre os acontecimentos, fatos e passado, afim de observar os aspectos considerados ruins com a intenção de torná-los construtivos, positivos e se possível, até virtuosos. Tornar os aspectos da sua vida bons ou ruins, então, para a perspectiva da Psicologia Positiva é meramente algo que depende da percepção que se tem de eventos e vivências. É algo que se firma na habilidade e capacidade que o sujeito tem de ser resiliente.
Como Carl Rogers, em seu livro Tornar-se Pessoa, Seligman abordou as problemáticas e questionamentos de como é ser uma pessoa realizada, positiva e feliz baseando-se em estudos empíricos de larga escala ao redor do Estados Unidos e também alguns países a fora.
Assim, direcionando o foco não nas queixas, não no passado inglorioso, não no estudo do comportamento observável, tampouco em mecanismos inconscientes de defesa do Ego, Seligman e a sua psicologia convidam o sujeito a focar-se na expressão de seus sentimentos, fortalecimento da resiliência, busca da felicidade e promoção do bem-estar para si e a outrem.
Como é mensurada então, a felicidade? Para investigar o Bem-Estar, a Psicologia Positiva indica que este pode ser mensurado em cinco fatores distintos, que, se complementam, (Comin, 2012):
Emoção positiva
Engajamento
Relacionamentos
Sentido
Realização
É evidente que estes traços são, no mínimo, misteriosos e também tem um quê de subjetivos. Ainda bem, porque se felicidade e bem-estar fossem para todos a mesma coisa, creio que o mundo seria um tanto quanto monótono e todos seriam iguais. Ainda bem que não.
Comin (2012), reitera a leitura e compreensão de tais traços na Psicoterapia Positiva. Desse modo, conceitua que o objetivo da Psicologia Positiva é aumentar o florescimento pelo aumento da emoção positiva, do engajamento, do sentido, dos relacionamentos positivos e da realização. Em suas palavras: “O bem-estar não pode existir apenas na sua cabeça: ele é uma combinação de sentir-se bem e efetivamente ter sentido, bons relacionamentos e realização. O modo como escolhemos nossa trajetória de vida é maximizando todos esses cinco elementos” (p. 36).
Por fim, em seu livro Otimismo Aprendido, Martin Seligman sugere no segundo capítulo alguns exercícios pessoais que servem tanto para leigos quanto para profissionais na área de como observar e tornar o seu dia a dia mais positivo e bem humorado. Já que também, o humor é o traço mais visível quando se trata de se dizer se alguém está feliz ou não.
Este exercício é baseado em ressignificar fatos no cotidiano do sujeito, de forma que ele consiga entender os acontecimentos de uma maneira menos auto-defletiva, auto-punitiva e estigmatizante. É um exercício focado em aumentar e desenvolver a capacidade de resiliência.
O ABC DA PSICOLOGIA POSITIVA
Consideremos o seguinte acontecimento: o sujeito teve uma discussão feia, pois não quis pagar os 10% de um restaurante. Os garçons ficaram ofendidos, e o sujeito saiu se sentindo muito mal. Muita raiva envolvida gerou atitudes de que ele se arrependeu em seguida, em casa, tomando água e agora está se culpando por ser um idiota mesquinho.
O que Seligman propõe é o seguinte: A (Adversidade), B (Belief, ou crença) e C (Consequência). Em um caderno, computador, na cabeça, seja lá o que for, o sujeito vai exercitar o rever dos fatos, ressignificando as adversidades com crenças e pensamentos que devem ter caráter impessoal e não punitivo, até que se remova a responsabilidade do sujeito, para então antever as possíveis consequências.
Exemplo:
A (Adversidade) – Briguei com os garçon do restaurante porque não quis pagar 3,34 que era 10%. Foi uma briga feia.
B (Crença ou pensamento) – Eu estava no meu direito de não pagar, afinal, eu posso não ter dinheiro, eu posso não querer pagar, isso não é algo obrigatório. Talvez eles tenham sido rudes em não saber entender que clientes possam não pagar isso. Mas de fato, se cada um pagar, o trabalho tão oneroso e cansativo de garçom possa se tornar uma coisa mais agradável e eu devo ter sido um pouco mesquinho.
C (Consequência) – Vendo as coisas dessa forma, talvez seja uma boa ideia almoçar novamente lá, retratar-me com os garçons e pagar os 10 % da próxima vez. Não há nada demais nisso, de fato, acho melhor mesmo manter uma boa relação com eles, não quero que eles cuspam na minha comida.
Com isso, espero deixar clara a possibilidade de estudo da Psicologia Positiva e seus benefícios no entender do dia a dia e dos fatos. As coisas dependem muito mais de como nos observamos do que como realmente são. Afinal, o que as coisas realmente são ?
Eu não sei.
SCORSOLINI-COMIN, Fabio. Por uma nova compreensão do conceito de bem-estar: Martin Seligman e a psicologia positiva.Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2012, vol.22, n.53, pp.433-435. ISSN 0103-863X. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300015
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