Hospitais psiquiátricos noruegueses estão propondo cortar ou reduzir drasticamente o uso de medicamentos pelos pacientes. Embora o ministro da Saúde norueguês viesse pedindo essa solução às instituições públicas – o que só começou a acontecer três anos atrás –, ela foi posta em prática pela primeira vez no Centro de Recuperação Hurdalsjøen, um hospital particular perto de Oslo, inaugurado em 2015.
A iniciativa surgiu a partir de evidências de que, a longo prazo, a taxa de recuperação para pacientes com esquizofrenia é melhor sem medicação do que com remédios. O espaço possui alojamentos aconchegantes, promove o convívio social, e propõe uma boa dieta em refeições comunitárias, contato com a natureza, exercícios físicos e relações estreitas entre pacientes e profissionais.
A primeira paciente a ser tratada sem medicamentos no Centro de Recuperação Hurdalsjøen foi Tonje Finsås, uma mulher com 31 anos. Ela tem um histórico mais do que complicado: distúrbio alimentar aos oito anos, uso de antidepressivos desde os 11, mais de 200 internações ao longo da vida e uma lista de prescrições de 31 remédios no momento em que chegou ao Centro. Três deles eram antipsicóticos. Com se não bastasse, ela havia passado os três anos anteriores internada em isolamento, vigiada por dois auxiliares e frequentemente contida por camisa de força. Após quatro anos em Hurdalsjøen, ela só toma dois medicamentos, vive sozinha em uma cidadezinha próxima e começou a trabalhar em meio período na instituição, dirigindo a sala de atividades.
Dentre as unidades públicas, a primeiro a criar uma enfermaria sem medicamentos foi o Hospital Asgård, em 2017. Já foram tratados cerca de 50 pacientes – mais de 90% tiveram um diagnóstico psicótico e metade deles não tomou nenhum neuroléptico durante a hospitalização. A maioria não apresentou sintomas psicóticos; outros apresentaram às vezes, mas começaram a encontrar “novas maneiras de lidar com os sintomas” segundo o diretor Magnus Hald. Doses mais baixas também mostraram muitos benefícios: “Essas pessoas têm um sentimento muito forte de ter de volta as suas emoções, e isso também é vivenciado por suas famílias. Uma mulher nos disse: ‘Pensei ter perdido meu marido há quatro anos e agora ele voltou’”.
Hoje, há no país 56 leitos em 14 hospitais para tratamento sem medicamentos (ou para sua drástica diminuição). E a demanda dos pacientes por esse tipo de cuidado está crescendo.
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