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Desde a antiguidade, sempre foram mencionadas e reconhecidas as qualidades que um bom terapeuta deve possuir a fim de proporcionar um atendimento que permita a compreensão da natureza da doença, o estabelecimento da afinidade entre terapeuta e paciente e a correta aplicação da técnica para que a atuação seja positiva e virtuosa.

Segundo os clássicos da medicina chinesa, o terapeuta deve ser cauteloso como quem atravessa um rio no inverno, prudente como se tivesse perigos por todos os lados, indiferente como se fosse um estranho, débil como gelo que começa a derreter-se, puro como jade, adaptável como a água e vazio como um vale.

Essa cautela não deve ser vista como algo que impeça a ação, mas recomenda um espírito de alerta e atenção que não permite ver a situação de forma displicente e leviana. A indiferença como qualidade não revela frieza e distanciamento, antes exorta a manter um certo distanciamento emocional para que se possa compreender a natureza da afecção, preservando a racionalidade. “Indiferença como se fosse um estranho…” exorta a sermos imparciais e sem julgamentos, para que possamos ter uma visão limpa, pura e abrangente do paciente e de seus processos.

A prudência é a regra de ouro: a precipitação frente ao paciente quase sempre conduz ao fracasso terapêutico. A máxima “a soberba precede a ruína” não é verdadeira apenas no campo da filosofia e do comportamento humano, mas também serve de referência para todos os que buscam genuinamente trilhar o caminho da restauração da saúde de forma holística.

Alguns terapeutas, em certos momentos, tendem à confiança excessiva devido ao tempo de prática que possuem, perdendo com isso a prudência. Como tudo é mutável, a situação mais simples pode complicar-se, e a mais complicada tornar-se simples. É necessária a prudência, pois desconhecemos muitos dos mecanismos que regem a estrutura da doença e a condição do enfermo.

A fragilidade do terapeuta, que remete ao gelo derretendo-se, não indica falta de força ou de confiança, mas uma forma de amoldar-se ao paciente, para continuamente estar compreendendo os mecanismos que o adoecem e o próprio processo do adoecimento. “O débil vence o forte”: esse amoldamento ante o paciente é uma atitude de reconhecimento de uma estrutura que está enferma; assim a debilidade aparente se transforma em poder, não pela força, mas pelo conhecimento.

A pureza do terapeuta não é algo que possa ser definido. É a capacidade de compreender que embora todos sejam humanos, as diferenças entre cada ser podem ser maiores que a distância entre o céu e a terra. Os diferentes meios sociais onde cada pessoa se desenvolve, os hábitos e noções que adquirem precisam ser compreendidos, pois na maioria dos processos de adoecimento percebemos que a pessoa deixou de ajustar-se aos seus valores, objetivos, ideais, perspectivas, sonhos e, nesse processo o terapeuta deve esvaziar-se de si, pois também é um ser que carrega sua própria bagagem, para que dessa forma possa verdadeiramente compreender a realidade que está diante de si.

Adaptáveis como a água: o terapeuta não pode forçar o caminho do paciente de acordo com sua visão, deve auxiliá-lo a ver a questão de forma mais abrangente para que ele possa fazer escolhas mais conscientes, mas nunca forçá-lo, como, por exemplo, a não fumar ou não beber porque faz mal… Antes, deve lhe explicar por que bebe, por que fuma e por que está enfermo. A água também remete à transparência: o terapeuta deve ser sincero e transparente em suas intenções e ações.

‘Vazios como o vale’: Lao-Tsé, quando cita o vazio do vale, pode exemplificar um lugar preenchido com qualquer coisa, um local onde se reúnem todas as experiências. Nos vales, a natureza é mais generosa, a vida se desenvolve em abundância. O terapeuta deve possuir um “vale vazio” dentro de si para que possa receber as influências do paciente; se estiver cheio, não pode deixar germinar suas percepções do paciente, não pode sentir essas influências.

Tao Te Ching diz: “Quem conhece os homens é erudito. Quem conhece a si mesmo é iluminado. Quem vence os homens tem força. Quem vence a si mesmo é realmente forte…”

Nota da página: Esse texto é um fragmento de um artigo escrito por um fisioterapeuta acupunturista e que fala da terapia no tratamento oriental, provavelmente da própria acupuntura. Achamos válido a reprodução do trecho porque o texto apresenta uma linguagem universal onde o terapeuta descrito é um ser empático e que reconhece a presença e as necessidades do outro.

Imagem de capa: Shutterstock/Ake13bk

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