Não pensei que as flores virtuais fossem verdadeiras..Elas pareciam-me falsas nas páginas do Facebook, apesar de suas cores maravilharem meus olhos e me levarem a achar que alguém estava me desejando amor, alegria, felicidades. As flores eram o cartão postal virtual e frio.  Talvez se as flores falassem como disse Cartola, elas me diriam sobre sua missão na Terra.. São tantas, as missões das flores. Mas sua vida virtual é efêmera e veloz. Emocionam de verdade? Ou ficamos acostumados a associá-las à emoções presas ou quietas no canto da alma? Basta começar. Você faz um perfil. Espera esquentar durante uma semana, digamos, diz o que está pensando, põe fotos suas, da família, de suas atitudes mais singelas, ou sentimentos, intimidades. Está dado o primeiro passo. Parece surreal em princípio. Não se põe muita fé na atração fatal que os olhos provocam no seu sistema neurológico e sua mente. Está criada a ponte para um mundo virtual e tão real, em termos psicanalíticos, que lá está o encontro das águas. Você se torna escravo cotidiano de um trabalho efêmero. Diverte-se. Alienado ou não, tem um prazer imenso em ser fazer falar, nem que seja através de um ‘ curtiu’.

Para quem lê, você se torna mais um facebuquiano. Aquele que tudo lê ou não, mas faz parte desta comunidade onde não sabemos ao certo no que vai dar. Afinal não temos os endereços, nem queremos ter. Os amigos virtuais são um súbito muito prazer, até o primeiro contato, ou até, imagine, a discussão, o argumento preso na sua garganta com alguém que você pode ter um certo diálogo, mas nunca poderá sentir, ver, se apresentar ao vivo. Inúmeras faces de apresentam a nós que escolhemos os assuntos e postagens mais semelhantes aos nossos desejos. Tem um lado perigoso que já virou febre. O deslocamento completo de nós mesmos para a rede virtual. é quando os parceiros do Facebook tomassem vida e tivessem super poderes para controlar e guiar nossos pensamentos.

Aí reside o perigo anunciado por George Orwel no seu livro 1984. Você está controlado pelas regras e seduções do FB. ´ Muitas vezes é inconsciente, mas quando você menos espera, já está enlouquecido pela ideia de ver o que tem para hoje.Tudo contribui para o seu prazer diário, com temas atraentes, entre os quais podemos mencionar, as postagens de auto-ajuda, piadas, comentários políticos bem rasos e líquidos, para usar a linguagem de Zygmunt  Bauman. Vivemos os tempos líquidos, onde tudo é efêmero como a própria linha do tempo. Muitos, contraditoriamente, são solitários.

Se você quer privacidade, não frequente o FB. Mas, se quer entrar em grupos, com discussões diversas, deve se preparar para debates intrigantes onde as pessoas se desnudam ao som do teclado. Há muitas orações, ao lado de um pouco de erotismo. enfim, uma metáfora da sociedade exposta para você usar a seu modo. Mas, sem esquecer que você está expondo o que pensa, e será visto deste modo, do lado de lá. Amigos líquidos, amigos que levam a sério a conversa e desejam feliz dia, seja por solidão ou mero vício. Assim corre a linha do tempo e quando você menos se dá conta é mais um usuário fascinado pela repetição, seja para sair do tédio, seja porque está preso ao poderoso sistema virtual. Até quando?

 

Fernanda Villas Boas

Fernanda Luiza Kruse Villas Bôas nasceu em Recife, Pernambuco, no Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingivel; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica, caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.

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