Há uma nova série que acaba de estrear na Netflix e já abocanhou a primiera posição entre as mais assistidas do streaming, além de ter se tornado tema de muitas discussões nas redes sociais. Trata-se da sombriamente cativante “Bebê Rena”.
“Bebê Rena” já é hipnotizante por si só, mas os espectadores ficam ainda mais absortos na trama quando descobrem que a produção é baseada em uma história real de perseguição e abuso sofridos pelo próprio criador da série, o comediante Richard Gadd, que também protagoniza a atração.
Em sete episódios curtos, “Bebê Rena” se mostra ao mesmo tempo horrível e fascinante. A série conta a história de Donny, uma versão ficcional de Gadd, que em um dia de trabalho como garçom, resolve servir uma xícara de chá grátis para uma mulher chamada Martha (Jessica Gunning), sem saber que aquele simples ato de gentileza iria dar início a uma odisséia de vários anos de perseguição. Martha fica obcecada por Donnye e vai se tornando cada vez mais perturbada e violenta, direcionando sua raiva para os amigos, namorada e família do rapaz. “Bebê Rena” é um dos muitos apelidos que Martha dá a Donny, o objeto de sua obsessão.
Em meio ao assédio e ao trauma, Donny reflete sobre os abusos passados que sofreu e que ele acredita que o tornaram o alvo perfeito para alguém como Martha. Em um episódio de flashback, conhecemos a história de Darrien (Tom Goodman-Hill), um comediante e escritor muito mais velho que promete ajudar Donny em sua carreira, mas acaba se tornando um abusador.
As experiências de Donny com Darrien o deixaram traumatizado e vazio, o que contribui para a deterioração do relacionamento do protagonista com a namorada Keeley (Shalom Brune-Franklin). Ainda muito confuso e perturbado, ele engata um novo namoro com Teri (Nava Mau), uma mulher trans, ao mesmo tempo em que lida com a perseguição de Martha.
A série Bebê Rena é como se fosse o livro de memórias de Gadd em letras garrafais. A produção incorpora dois espetáculos do comediante, cada um sobre um trauma que sofreu. O espetáculo que deu origem à trama principal da série começou como um show solo no Festival Fringe de Edimburgo, em 2019. Este show, no qual o comediante fala pela primeira vez sobre a mulher que o perseguia, mais tarde se tornou uma peça de muito sucesso no circuito teatral de Londres. Antes disso, em 2016, Gadd estreou “Monkey See, Monkey Do”, outro show solo, este falando sobre a violência e o abuso que sofreu em sua realção com Darrien.
Embora os personagens Martha e Darrien sejam fortemente ficcionalizados, os fãs da série têm travado investigações online para tentar descobrir suas identidades reais, chegando ao ponto de acusar figuras da comédia britânica de serem Darrien. Gadd condenou este tipo de investigação amadora. “Pessoas que amo e admiro e com quem já trabalhei estão injustamente sendo alvo de especulações”, escreveu ele em um story no Instagram em 22 de abril. “Por favor, não criem especulações sobre quem poderiam ser as figuras reais por trás de qualquer um dos personagens. Esse não é o objetivo da série”.
A série criada por Richard Gladd é espectacular no sentido de que é impecavelmente produzida. Gadd escreveu sua história com nuances substanciais. Martha não é uma vilã caricata da Disney e Donny não é um cordeirinho inocente. Os personagens são reais e crus, em vez de simpáticos e perfeitos. As atuações são excelentes, principalmente a de Jessica Gunning, que está impressionante na pele assustadora de Martha. A perseguidora não é romantizada ou sexualizada, mas sim retratada como uma pessoa profundamente adoecida emocionalmente.
Apesar de ser uma produção esmerada, “Bebê Rena” não é um entretenimento para todos, visto que retrata de maneira crua e visceral alguns dos traumas mais horríveis que alguém pode vivenciar. Algumas cenas são bastante perturbadoras, especialmente as do episódio de flashback, que trazem representações intensamente gráficas dos abusos sofridos por Donny. É o tipo de violência na tela que permanece com você muito depois de os créditos terem rolado.
Gadd diz que queria capturar a complexidade da sua própria história, sem no entanto criar uma “narrativa de vítima”. Em entrevista ao site Tudum, ele disse o seguinte: “Acho que a arte é bastante interessante quando você não sabe por qual personagem torcer”, disse ele. “Eu queria que a história fosse contada em camadas e capturasse a experiência humana. A experiência humana é que as pessoas são boas, mas têm algumas coisas ruins e cometem erros.”
Veja o trailer de “Bebê Rena”:
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