“Gosto da construção diária. É mais lenta, porém muito mais sólida. Não promete milagres, mas sustenta-se nas verdades adquiridas através de empírica jornada.
A construção diária é feita com muito trabalho e camadas sequenciais de prudência, mas também de pitadas de ousadia e inovação, que permitem a visão aberta para novas formas de construir.
Gosto da construção diária porque quem ama a construção lida melhor com a queda e com a reconstrução constante que a vida exige de nós.
Afinal de contas, aprender a levantar também é uma arte e só quem construiu várias coisas sabe o valor de cada uma das experiências anteriores.
Um bom construtor, com certeza, construiu e reconstruiu muitas casas (dentro e fora de si).”
Josie Conti
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Essas lindas palavras da querida Josie Conti levantam reflexões que considero bem importantes. Nas primeiras palavras ela traz uma ideia bastante propagada principalmente no oriente, que é o caminho do meio.
Se temos excesso de prudência, na realidade ela se torna medo: medo de enfrentar o novo, medo de ousar, medo do julgamento alheio, medo de fazer diferente. Porém, se somos ousados demais podemos tomar decisões precipitadas que farão com que nos arrependamos lá na frente, e muitas vezes o excesso de ousadia faz com que firamos algumas ou muitas pessoas no meio do caminho.
O ideal é termos essa ousadia para pequenas novas ações todos os dias. Sabe um exercício interessante que há muitos anos eu faço? Procuro aprender algo novo todos os dias. E esse algo novo não é nada extraordinário, pode ser, por exemplo, uma palavra nova do inglês que memorizei, ou um caminho diferente para chegar um pouco mais rápido no trabalho, ou um livro que me fez despertar para algo que nunca havia pensado antes etc.
Fazendo isso diariamente, você vai perceber ao longo dos meses e dos anos o quanto a persistência e a constância agregam valor à vida como um todo. Esse é o tipo de exercício simples e eficaz que tenho vontade de levar pra vida inteira, sempre aprender algo novo, por menor que seja, todos os dias…
A palavra construção tem uma etimologia linda. Ela significa “criar, empilhar, reunir junto”. Ou seja, eu vou acrescentando um tijolinho a mais todos os dias, vou juntando e construindo uma linda casa.
Mas aí vem o que jamais podemos esquecer, a impermanência. Lembra as palavras famosas do filósofo da antiguidade Heráclito? “O que permanece é a mudança”. Tudo muda o tempo todo e estamos sujeitos a todo tipo de intempéries. Assim como uma casa se deteriora com o tempo e precisa constantemente de cuidados, assim somos nós.
Estamos desgastando nosso corpo dia após dia e sabemos que nosso tempo por aqui é bastante limitado.
Sabendo disso o melhor a fazer é sempre levantar e seguir adiante todas as vezes que essa impermanência insistir em mudar o curso do rio da nossa vida… Não há tempo a perder!
Concluo com uma breve reflexão acerca do amor pela construção diária. Isso é praticamente um sinônimo de felicidade. Quando a gente ama cada etapa dessa construção diária, o sentimento de felicidade simplesmente brota de dentro de nós naturalmente, porque estamos com nossa energia completamente envolvida com o hoje, com o momento presente. Infelizmente existem milhões de pessoas que ficam pensando no que pode acontecer no futuro, ou ficam remoendo as coisas do passado, e nos dois casos, quase sempre enfatizando o negativo, os erros, as dificuldades. Dessa forma acabam perdendo a magia dos momentos, o verdadeiro presente (dádiva) que é o momento presente.
Que tal aprendermos a amar a construção diária? Ela só traz vantagens para a nossa vida e a serenidade para viver um dia de cada vez, com suas alegrias e tristezas, altos e baixos, construções e desconstruções…
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Foto de Daria Shevtsova no Pexels