Por Maria Beatriz Gonçalves
De maneira geral, ainda cuidamos mais do corpo do que das emoções. “A ansiedade é um dos nossos exageros. Todos esses obstáculos que a vida nos dá podem ser vistos como um impedimento que tem que ser tirado do caminho ou como um impulso para o seu crescimento. Mas a cultura muitas vezes quer vender o fim do sofrimento como um produto! Eu vejo que o maior problema é a ansiedade em ter ansiedade, ou seja: a impotência em lidar consigo mesmo. Esse é um grande problema”, diz a filósofa Viviane Mosé.
Por isso mesmo, Viviane defende que não se medicalize em excesso as características humanas que nos ajudam a sobreviver, principalmente se levarmos em consideração que um traço marcante da sociedade atual é querer “evitar a qualquer custo lidar com suas angústias”. Só assim, lembra ela, a ansiedade pode cumprir um pouco seu propósito transformador.
Da mesma maneira que pessoas desatentas podem potencializar a habilidade de serem, por exemplo, multitarefa, ansiosos também podem se beneficiar da ansiedade moderada se precavendo de situações desgastantes.
Foi isso que ocorreu na última edição do “MasterChef Brasil” com Izabel Alvares, a vencedora do programa. Nervosa, ela se descontrolou em frente às telas e mostrou, de cara, que a ansiedade poderia ser o seu maior inimigo na competição.
Mas, em um momento decisivo da prova, a chef atribuiu a um estado mais “relaxado” a incapacidade de prever um problema com a receita de lasanha – prato que era sua especialidade. “Pela primeira vez no programa eu cozinhei com tranquilidade”, disse Izabel. Mas foi nessa ocasião que ela foi mandada para casa. Sua ansiedade, no entanto, não a impediu de voltar ao jogo numa fase posterior para ser a vencedora desta edição.
Mas então, qual a fórmula do equilíbrio? Ninguém sabe ao certo. Pedir a um ansioso que ele simplesmente controle seus sentimentos ou que se acalme é tarefa ingrata e ainda pode agravar o estresse. Quem sofre demais precisa procurar ajuda: tratar ansiedade em grau alto é tarefa para um médico, sem dúvida. “Muita gente ainda não admite buscar tratamento e, no caso da ansiedade, é muito mais comum a pessoa chegar ao nível mais grave antes de se tratar”, diz o psiquiatra Wilson Joaquim. Para quem está no grau leve, um certo trabalho de “conformação da ansiedade” pode ser benéfico, lembra Frederico Mattos.
Para quem nasceu numa época cada vez mais parceira – para o bem e para o mal – de toda essa ansiedade, talvez valha como estratégia adotar o “primeiro passo” mais universal já inventado: pense em um problema de cada vez. Pensou e chegou a uma solução? Aplique a solução. Resolvido? Vá para o próximo problema. E leve a vida, ansiosa ou não, em frente.
Imagem de capa: Shutterstock/rudall30
TEXTO ORIGINAL DE UOL