Diante da Pandemia do COVID-19, dados inquietantes sobre saúde mental servem de alerta. Inúmeras pessoas têm vivenciado ansiedade, depressão, estresse, medo, ou qualquer tipo de inquietação mental, em seus sintomas agravados em decorrência dessa situação.

A possibilidade de contágio por uma doença desconhecida, trouxe a incerteza e suas consequências futuras para suas vidas. Com o medo, as situações se tornam estressantes, seriam até certo ponto normais e saudáveis, contudo, o excesso de preocupação, pode adoecer.

Aliado ao medo, temos que o perigo é invisível e desconhecido, até certo ponto; dificultando ainda mais a compreensão dos indivíduos, que não estão preparados para lidar com ele. Ainda, há quem resista muito, e até negue a adesão de um repertório de condutas recomendadas pelos organismos mundiais de saúde pública para frear a contaminação.

Contudo, de fato o grande medo e da qual não estamos preparados é para o atual perigo iminente da morte. Faço uso das sábias palavras do professor do Departamento de Psicologia da UFMG, Gilson Iannini. “Sempre denegamos a morte, pois, no nosso inconsciente, somos imortais. Pensar sobre a própria morte pode ser muito difícil e insuportável. Neste momento, estamos diante dela. Por isso, é impossível não pensar sobre”.

Ainda, por ser um período atípico, com características globais, em relação as outras situações já vivenciadas, aumentam os fatores estressantes, capazes de desencadear reações emocionais e efeitos físicos no corpo. Mas, como o medo atua nesse caso? Precisamos ter em mente, que diante de uma ameaça, real ou imaginária, o medo é um meio considerado benéfico, pois existe para preservação da vida. Considerado um mecanismo de proteção contra perigos, cuja ação é preparar o corpo para uma luta ou fuga diante de situações que tragam risco iminente à vida. Todavia, o excesso de medo é o problema.

Ainda que o medo atue como um alerta para nos avisar do perigo, o medo intenso, pode levar o corpo a um desequilíbrio emocional importante dificultando o entendimento do momento e alterando a capacidade de atenção, entendimento e racionalização. O medo aliado a insegurança do momento pode gerar sofrimento além do suportável. Cujas consequências são agravadas pela impaciência e a irritabilidade.

Cada pessoa tem uma reação muito específica diante deste quadro de medo patológico, desde ansiedade, angustia, irritabilidade, que pode ser agravada com agressividade. Todo este quadro emocional adoecido tem sérios efeitos e impactos nas relações familiares. Assim, não só os pais adoecem mas trazem estas tensões para o seio familiar, afetando frontalmente a saúde mental de todos seus familiares, em especial de seus filhos. Não raro temos encontrado crianças com relatos de terror noturno. A má qualidade do sono, é a ponta do iceberg, no histórico das relações familiares, assim como a falta ou o aumento substancial no apetite, repercutindo no ânimo ou na falta dele. Problemas de saúde, como depressão e pânico, e em casos mais graves, as tentativas de autoextermínio.

Diante de tantas incertezas, as vezes uma demissão ou falta de recursos financeiros, nos nocauteia. Nos deparamos com situações que parecem não ter solução, naquele emaranhado de problemas parece ser impossível seguir adiante, nada parece favorecer e nesse temporal, andamos cabisbaixos, desmotivados. Em que pese este estado emocional não ser favorável às formas diferentes de interpretação da realidade, contudo, é o medo excessivo o grande vilão, é ele que nos paralisa. O medo turva nossa visão e piora as situações que por si só se mostram complicadas, mas se agravam por falta de capacidade nossa em ver possibilidades e soluções. Sempre é mais fácil desistir, justificar, jogar a toalha ou simplesmente fugir. Mas, a vida arma um laço que se torna possível desatar e seguir se você se atrever a sair de sua própria prisão, o medo.

A leitura dos fatos com exagero nos aspectos negativos, podem ser paralisantes do ponto de vista cognitivo e comportamental. As formas dicotômicas de interpretar os fatos dentro das nossas realidades trazem comprometimentos. Esquecemos que não precisamos ter controle sobre tudo e nem podemos. Será que precisamos efetivamente ter tanto controle sobre tudo que nos acontece? E se desestruturam por não terem sob controle o resultado de cada situação. Saber como serão os resultados antes de mesmo de começar ou preparar o futuro breve é para muitas pessoas uma frustração dolorosa. Mas é realmente necessário complicar tanto o presente para deixar previsto tudo o que virá?

E aí os pensamentos intrusivos, negativos, sabotadores aparecem de forma automática.

• Pensamentos automáticos: rápidos, repentinos, breves (e por isso mesmo é difícil que o sujeito tenha controle sobre eles). Estes pensamentos normalmente não envolvem uma reflexão racional, mas são extremamente importantes de serem observados, pois brotam das emoções. E estas se originam das situações vivenciadas. Uma das primeiras coisas a serem feitas nessa terapia é identificar os pensamentos automáticos para que eles possam ser avaliados e modificados, pois ao modificarmos o nosso modo de perceber as situações, modificamos também os comportamentos e emoções frente a elas.

Como lidar?

Não existe uma fórmula mágica capaz de resolver tudo instantaneamente, há que existir disposição e interesse, não é um trabalho simples equilibrar as emoções. Mas, em especial durante o isolamento social, manter a rotina e adotar alguns hábitos são formas benéficas e recomendadas para o enfrentamento do medo e suas consequências, o mais importante é distrair a mente de preocupações excessivas.

Adote comportamentos saudáveis:

Faça meditação;
Atividades físicas;
Cozinhe;
Brinque com as crianças;
Troque receitas com seus amigos;
Ouça música, ou instrumentos musicais.

A curiosidade ainda é a melhor ferramenta para manter a saúde do cérebro. Tente coisas novas, talvez um novo roteiro para seus dias e sua família. Uma estratégia capaz de evitar que sua mente direcione seus atos e suas ações para armadilhas que a mente humana arquiteta tirando sua alegria, num ciclo de preocupações sem fim.

No caso das crianças, ouça atentamente o que ela está dizendo e sentido, tranquilize-a no sentido de instalar nela esperança de que tudo irá passar. Que nada é permanente e que ela estará segura com os cuidados que a família toma. A forma mais eficiente de enfrentar e lidar com seus medos, principalmente relacionado à pandemia, é conversarmos sobre o que está acontecendo. Ainda que a conversa precise ser adaptada para a idade, o importante é sinalizar bons sentimentos, positividade e esperança.

A vida pode ser complexa, mas nem por isso precisamos adicionar mais dificuldades, as vezes o caminho passa pela simplificação e a busca por novas oportunidades. Tentar subjugar e controlar tudo é uma missão impossível, e muito frustrante. Agindo assim estaremos nos privando de novas possibilidade e grandes momentos de encontrarmos, conhecermos e surpreendermos a nós mesmos.

A vida tem muito mais para dar do que a sua mente, as vezes tão abarrotada por problemas, pode conceber. Por que nos fecharmos na prisão que envolve controlar e planejar absolutamente tudo? Não se trata de ir sem direção ou consciência, mas de deixar a porta aberta para que novas oportunidades. Explore o que a sua voz interior tem a lhe dizer. Decifre isso que você precisa e ache uma maneira de fazê-lo, dentro das suas possibilidades.

Você tem a chave.

Muitas vezes nosso potencial está adormecido, escondido em algum canto de algum cômodo da qual nós mesmos temos a chave. Mas, nos escondemos e projetamos uma vida que corta nossas asas ao invés de alçarmos o voo.

***
Photo by engin akyurt on Unsplash

Laila Ali Wahab Morais

Advogada, psicóloga clínica e escolar

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