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Adolescência: o sujeito em busca da sua verdade

A ADOLESCÊNCIA é um “conceito” construído socialmente. Constitui uma fase da vida que, em geral, é vista pelos pais como um “período crítico” do sujeito, que está “rebelde”.

Trata-se de um PROCESSO DE TRANSIÇÃO conturbado e conflitante, e é esperado que seja assim. Porém, também é possível que esta seja a fase mais bonita da vida 🙂

O adolescente (que tem, em média, entre 13 e 18 anos) vivencia (literalmente) na pele as mudanças físicas da puberdade: alteração no timbre da voz, pêlos no corpo, espinhas, menstruação – no caso das meninas etc., e também enfrenta as mudanças psicológicas comuns a esta idade (cobranças, responsabilidades, escolhas a fazer).

Já não é mais possível e nem desejável que os pais decidam pelos seus filhos adolescentes: preferem um programa com os amigos a acompanhar os pais nos passeios em família, queixam-se das broncas e dizem que os pais estão “ultrapassados”, confrontam valores e ideias, adotam alguém como ídolo (geralmente banda, artista ou alguém da mídia), vestem-se de maneira arrojada e parecem querer “marcar” o seu corpo de alguma maneira (tattoo, piercing, cabelos coloridos ou arrepiados, roupas extravagantes, etc). Por essas e outras dizemos que a adolescência compõe um processo de desligamento dos pais/figuras parentais.

Tudo isso que acontece do lado de fora do sujeito adolescente faz parte do seu processo interno de autoconhecimento, de construção da identidade, de questionamentos (“quem eu quero ser quando crescer?”) e de elaboração de escolhas. Os confrontos com o outro podem ser uma maneira de se auto afirmar e até mesmo de mostrar que tudo parece um pouco confuso agora. Existe aí um processo de luto pelo corpo infantil e pelos pais da infância (que já não o vêem do mesmo jeito).

A sexualidade e a agressividade também ganham ênfase nesta etapa da vida do sujeito e compõem, junto com outros afetos, os traços da personalidade do adolescente. Sua personalidade irá florescer de acordo com aquilo que o adolescente vem cultivando ao longo do seu desenvolvimento e estará diretamente relacionada com as referências que ele tem (ou com a falta delas), isto é, com os tipos de vínculos familiares que construiu e com os significados que ele atribui a estes vínculos.

Assim, é neste período que se concretiza (e não que se define) a orientação sexual do sujeito, os critérios de escolha do parceiro amoroso, a forma de lidar com as frustrações e privações que a vida impõe, a relação com o dinheiro, com o trabalho, com os estudos e com tudo aquilo que se torna seu objeto de desejo.

Por outro lado, os pais do adolescente possuem expectativas e ideais depositados sobre o filho: “Meu filho vai ser isso ou aquilo”, “Vou dar a ele o que eu não tive”, “No meu tempo se fizesse isso era assim, assado, etc.” Contudo, ao fantasiar demais o “filho ideal”, superproteger e controlar, muitos pais não fornecem o espaço necessário para que o adolescente assuma papéis sociais e adquira autonomia para FAZER ESCOLHAS PRÓPRIAS. Logo, os pais podem dar “asa” ao seu filho, mas ele precisará “voar” sozinho.

É claro os LIMITES, as REGRAS e os “NÃOS” são necessários e muito importantes. É preciso que os pais conheçam o círculo de amigos do filho, estabeleçam horário para chegar em casa e exijam o RESPEITO às tradições familiares (respeitar não é obrigar), além de cobrar que ele faça as tarefas que é capaz de fazer. Mas, também é necessário muito DIÁLOGO (ouvir e falar), muita NEGOCIAÇÃO e muita PACIÊNCIA para construir uma relação de CONFIANÇA com o filho.

Talvez confiança seja a palavra chave para esta e para qualquer outra fase da vida. Se o filho confia nos seus pais (sejam eles biológicos ou adotivos, avós, parentes ou quem quer que seja que exerce estes papéis) ele poderá confiar em si mesmo e SABERÁ ESCOLHER O QUE É MELHOR PARA SI não importa onde ou com quem esteja.

Acredito que a maior contribuição que os pais podem dar ao filho adolescente será sempre o AMOR, junto com o seu olhar, a sua atenção e a sua disponibilidade para apoiá-lo. É a procura do amor do outro que aplacará a sensação de desamparo sentida pelo adolescente. E, para oferecer este amor será preciso que os pais também saibam lidar com suas próprias inseguranças e com seus erros, expostos pelo filho adolescente.

Portanto, cabe aos pais e aos filhos adolescentes saber se colocarem um no lugar do outro e reconhecer que eles têm formas diferentes de enxergar o mundo e de interpretar as situações (e sempre terão!) e, principalmente, que também PODERÃO FALHAR.

É válido considerar, ainda, que ser adolescente na década de 60 e ser adolescente em 2017 é beeemmm diferente. O contexto social afeta muito a auto imagem do adolescente e os ideais que ele traça para si próprio ao se deparar com padrões de beleza, de status profissional, de bens de consumo, entre tantos outros.

Você já se perguntou o que a sociedade atual espera do adolescente? E o que esta mesma sociedade oferece ao adolescente? Além do que, vemos muitos sujeitos (inclusive pais) que estenderam a sua adolescência por muitos anos a frente e que ainda não conseguiram elaborar e superar todos os conflitos deste período, afinal, ser eternamente jovem e belo é uma imposição da sociedade atual. Mas, este já seria assunto para um próximo post…

Por fim, não se esqueçam de que todos estes conflitos podem ser compreendidos durante a psicoterapia, que consiste na oferta de um espaço de escuta clínica que ajuda a revelar, através da palavra, a verdade de cada sujeito.

* Por gentileza, peço que atualizem meu mini currículo no site:

Psicóloga de abordagem psicanalítica. Oferece serviços de: Psicoterapia, Psicodiagnóstico Infantil, Orientação Profissional e Atividades para grupos (palestras e workshops com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano). É apaixonada pelo que faz.

Muito obrigada!

Att.

Imagem de capa: Shutterstock/Lydia Vero

Audrey Vanessa Barbosa

Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).

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