Você tem coragem de partir para a briga? Bom, para a maioria dos nossos antepassados do sexo masculino só haviam duas respostas possíveis para essa pergunta: SIM ou NÃO! E por incrível que pareça, a resposta dada pelo nosso corpo diante de uma ameaça/perigo é sempre a mesma, não importa se a nossa escolha é lutar ou fugir.
Quando nos vemos diante de uma situação que nos ameaça, quando nos sentimos amedrontados, pressionados e desafiados, nosso corpo reage exatamente como o dos nossos ancestrais das cavernas: a taxa de adrenalina no sangue sobe, nossa musculatura se contrai, o coração bate mais forte e a circulação de sangue no organismo aumenta; transpiramos, nossas pupilas se dilatam, nossas narinas se expandem para absorver mais oxigênio… resumindo: o nosso corpo nos prepara para enfrentar o perigo, seja ele real ou imaginário. E toda essa preparação física serve igualmente para o embate “corpo a corpo” e para o estratégico “sebo nas canelas”. Tanto correr quanto lutar exigem tonicidade muscular, acuidade visual, maior quantidade de sangue irrigando nossas veias e maior oxigenação dos pulmões.
O que faz o nosso corpo reagir ao medo? A reação do nosso corpo ao medo é uma resposta fisiológica que a espécie humana desenvolveu para enfrentar os desafios do ambiente. Pense numa coisa bem simples: se os nossos antepassados não tivessem reagido às ameaças do ambiente nós não estaríamos aqui, nem eu escrevendo e nem você lendo! Quando lutar fisicamente contra a ameaça era possível, as mudanças corporais permitiam aos nossos antepassados partir para a briga! Quando a ameaça era maior, mais forte ou mais poderosa que um humano, a única alternativa de sobrevivência era fugir.
Durante grande parte da história da espécie humana, os papéis de proteção envolvendo força física foram desempenhados pelos homens, e isso graças a um hormônio masculino chamado testosterona. O hormônio masculino testosterona é responsável pela maior força do macho de nossa espécie ,que é caracterizada pela maior tonicidade muscular, maior estatura e ossatura mais desenvolvida. A testosterona também está envolvida na formação das características sexuais masculinas secundárias como laringe maior (que favorece o tom grave da voz), desenvolvimento do pênis e de sua função erétil na puberdade, assim como a presença de pelos no tórax. Ou seja, quase tudo que torna um homem mais atraente para uma mulher.
E o que a testosterona tem a ver com a nossa sobrevivência? Estudos têm demonstrado que há uma íntima relação entre os níveis de testosterona no sangue e a emergência de sentimentos/emoções advindos de uma disputa, competição, etc. Ou seja, tanto o impulso para a “batalha” quanto o sentimento positivo da vitória associa-se à forte presença de testosterona no sangue masculino. Portanto, parece que a testosterona é gerada para preparar o organismo para responder a competição e/ou desafios. Isso não quer dizer, necessariamente, que a testosterona seja “O” hormônio da violência. Até porque violência e agressividade não é a mesma coisa. Antes, a testosterona seria um hormônio associado aos comportamentos de busca de dominância. Sendo assim, os machos da espécie humana, que no passado eram responsáveis pela proteção do grupo, necessitavam de altas taxas desse hormônio no sangue; o que poderia garantir não só os atributos característicos da força masculina como a dose necessária de estímulo psicológico para combater o perigo. Mas, hoje, a maior parte dos desafios enfrentados pelos homens é muito mais de ordem mental, emocional e cognitiva do que de ordem física e, portanto, não mobilizam parte das funções originais da testosterona com a mesma frequência que no passado.
Assim, os homens com altas taxas de testosterona são mais propensos a reagirem agressivamente aos desafios da vida cotidiana, como é o caso de homens jovens. Acontece que reações explosivas e agressivas geram tensão, e isso se associa à elevação súbita dos níveis de adrenalina no sangue. Essa alternância desequilibrada de hormônios ligados a comportamentos de ataque-defesa (lutar ou fugir), torna os homens mais vulneráveis à doenças cardiovasculares, e a processos judiciais. Hoje, os presídios estão abarrotados de homens que recorreram à própria agressividade para resolver os conflitos do dia-a-dia. A violência resultante de comportamentos agressivos e subsidiada pelos altos índices de testosterona no sangue não mais facilita a existência masculina, muito menos contribui para que a sociedade valorize os homens, ao contrário disso acaba por levá-los ao tribunal.
Aonde vai a agressividade masculina? A agressividade não tem sido bem vista na nossa sociedade, ela é a parceira incômoda da violência e de tudo àquilo que se entende por um comportamento inadequado. Para nossa sociedade, a agressividade é incompatível com a postura dos homens de bem: que são aqueles que cumprem seus deveres de cidadão e pagam suas contas em dia.
A agressividade é a face reprimida do modelo de masculinidade associado à ideia do que deve ser um bom pai, um bom marido, um bom filho, um bom vizinho, um bom empregado… Um bom moço! Acontece que toda essa aparente “bondade” exigida pela sociedade não extingue a agressividade latente na biologia masculina, ela apenas camufla, sufoca e reprime. E não podendo ser expressa de maneira saudável, a agressividade emerge como uma “doença” sociocultural que enche as telas de cinema/TV e as páginas de jornal com crimes bárbaros, violência doméstica e sexual, brigas mortais entre torcidas, gangues de rua e outras formas desequilibradas de expressão da agressividade.
Seria a agressividade masculina uma “faca de dois gumes”? Em situações de stress, o corpo do homem arma-se dos recursos biológicos favoráveis à expressão da agressividade. Na impossibilidade de utilizar positivamente esses recursos, os sintomas do stress avançam, potencializam-se e tomam conta dos processos fisiológicos responsáveis pela vida emocional…
O stress é um dos principais responsáveis pela queda dos níveis de testosterona no sangue. Por um lado, essa condição pode levar à perda de massa muscular, ao acúmulo de gordura (em especial abdominal), à disfunção erétil e a várias outras consequências físicas e psicológicas. Por outro lado, dados estatísticos apontam para o fato de que, altos índices de testosterona no sangue quase sempre estão associados aos comportamentos violentos que “engordam” as estatísticas policiais em nosso tempo. Apesar de tudo isso, do ponto de vista científico, uma dúvida ainda paira no ar: será que homens com níveis altos de testosterona têm uma probabilidade maior de se tornarem criminosos violentos, ou ser um criminoso violento aumenta os níveis de testosterona em um homem? Seja como for, no Brasil, 90% do contingente carcerário é de homens, e são também os homens a maioria das vítimas de acidentes de trânsito, de consumo de drogas, de violência urbana e de suicídios!…
E então, você tem coragem de partir para a briga? Se para nossos antepassados do sexo masculino haviam duas respostas possíveis a essa pergunta, para os homens de hoje só há uma resposta possível, e ela é SIM! Mas se a briga a ser enfrentada pelos nossos antepassados envolvia desafios como tigres dente de sabre, intempéries naturais e tribos rivais; a nossa se dá no trânsito, no medo do desemprego, nas exigências do mercado de trabalho, nos conflitos de gerações, nas demandas das relações sexuais e afetivas, nas variações do mercado financeiro e similares. As ameaças que enfrentamos hoje são tão importantes para a nossa sobrevivência quanto às dos nossos ancestrais eram para eles, a diferença entre nós e eles é que não há como sobrevivermos se fugirmos da briga.
Portanto, os homens do nosso tempo podem e devem utilizar o potencial que o hormônio masculino tem para prepará-los para a luta. Como? Aprendendo a conviver com a própria agressividade, canalizando-a para atividades produtivas como a prática de um esporte, por exemplo. A agressividade bem direcionada também pode ajudar no crescimento profissional, favorecendo a autoconfiança, a ousadia, a criatividade, a coragem para correr riscos e várias outras características ligadas ao empreendedorismo e a uma carreira de sucesso. O fato é que a agressividade não pode simplesmente ser negada, desconhecida ou suprimida. Os homens devem reconhecer sua agressividade, confrontar-se com ela e fazer dela uma aliada. Da mesma forma que a agressividade, um dia, ajudou os homens a protegerem suas tribos e a transmitirem seus genes; ela hoje pode ajudá-los a superar a inércia de uma vida passiva que cria barriga e entope artérias… Afinal, isso também é sobrevivência!
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