Ajuda consciente para as questões do ser – 10 pontos fundamentais

Quem frequentemente se dedica a ajudar pessoas (de forma livre ou profissional) precisa estar consciente de alguns pontos pra não terminar frustrado ou mesmo se tornar um obstáculo ao desenvolvimento de quem necessita ajuda:

 
1 – A necessidade de mudança deve partir do interior
Tratando-se de uma questão emocional ou mais profunda, não há como ajudar quem não sente nenhuma angústia ou espécie de sofrimento, o que serve como agente mobilizador. A pessoa em condições de ser ajudada não estará feliz, confortável ou em paz. Muitas vezes, a angústia pertence mais a quem deseja ajudar, e não deve ser assim. É comum essa pessoa se identificar com a situação aparente do suposto sofredor. Em alguns momentos, porém, colocar-se no lugar do outro pode distorcer o que estamos vendo, pois a forma como uma pessoa passa por um sofrimento raramente é semelhante à nossa. É preciso sensibilidade e experiência pra saber o que o outro está realmente passando.

  

2 – A questão da empatia
Empatia, a capacidade de compreender emocionalmente uma outra pessoa, é o que de fato nos conecta à disposição de ajudar, porém pode reservar armadilhas. Se o sofrimento do outro passa a ser o seu, ao contrário do que pode parecer, você está sendo absorvido e, à medida que se envolve, sua capacidade de ajudar diminui. Conforme disse Hellinger, o pai das Constelações Familiares, “Para poder ajudar diante de um grande sofrimento, temos que nos deslocar para um nível superior. Nesse nível superior, estamos sem emoção, porém plenos de amor. O médico que faz uma boa cirurgia não mostra nenhuma emoção, mas está repleto de amor e, assim, pode operar. Um ajudante que realmente quer ajudar tem que suportar a dor sem deixar que o puxem para dentro desse sofrimento. Se suportar a dor, transmite força ao outro, mesmo não interferindo. Apenas a pessoa que tem o problema pode suportá-lo. Se uma outra pessoa quiser suportar esse problema no seu lugar, ele se torna fraco.”

Por um lado, a empatia é um requisito pra ajudar alguém, mas também predispõe o indivíduo a ser absorvido de forma prejudicial.

 
3 – Vitimização
Há pessoas que, de forma consciente ou não, costumam buscar mais a comoção no interlocutor do que uma compaixão equilibrada. É comum que o suposto sofredor utilize situações difíceis para atrair atenção sobre si e assim se alimentar continuamente de esforços bem intencionados sem uma intenção genuína de se transformar. Muitas pessoas bem-intencionadas estão dispostas não apenas a “dar o peixe” como também a “ensinar a pescar”, e mesmo assim o aprendizado pode não acontecer.

4 – Intervenção para efeito de curto, médio ou longo prazo
Uma intervenção de ajuda pode ser apenas terapêutica, proporcionando um alívio momentâneo – como no caso das conversas com amigos, dos cuidados paliativos, do assistencialismo, medicina alopática, terapias vibracionais (Reiki, massoterapia e terapias alternativas em geral), etc. Para ecoar a médio/longo prazo, deve haver mais profundidade na interação. As intervenções mais significativas são as que fazem uma diferença maior na vida de quem recebe e dependem do preparo de ambos os envolvidos.

5 – Se você não se importa
Se você nunca sente vontade de ajudar, na maioria das vezes ninguém irá procurá-lo. Não há nada errado em não poder ajudar, o melhor é conhecermos com quais habilidades podemos realmente contar. Por outro lado, muitas pessoas com grande potencial para oferecer ajuda, podem não desejar tal envolvimento apenas para evitar entrar em contato com seus próprios sentimentos, o que é uma limitação a ser superada.

 

6 – Ajudar não envolve necessariamente uma ação
Muitas vezes a melhor ajuda que podemos oferecer é a compreensão de um problema. A capacidade empática de quem ajuda não pode ser vista, mas quem está sendo ouvido a sentirá. Tal capacidade não precisa envolver uma ação prática ou aconselhamento, e sim uma habilidade construída ou inata. Ouvir com empatia pode parecer simples, quando na realidade é algo bastante sutil e raro, envolvendo um desenvolvimento interior tão profundo quanto aquilo que está sendo ouvido.

Quanto mais profunda essa compreensão, mais facilmente, em certos casos, o outro poderá transformar seu problema, mesmo que imaginário. Não importa se o problema é de fato real ou foi desenvolvido apenas mentalmente. Muitos problemas imaginários causam mais sofrimento do que os problemas reais.

7 – Os familiares
Os familiares podem ajudar, porém nem sempre serão a melhor fonte de ajuda, pois em última análise fazem parte do contexto que os gerou.

Se o caso for de menor gravidade ou o problema não tenha nenhuma relação com a família de origem (o que é raro), os familiares podem ajudar na medida de sua consciência e capacidade de lidar com os próprios problemas. Mas em geral, eles também precisariam de ajuda para uma compreensão mais ampla do contexto em que tudo surgiu. Muitas doenças psicossomáticas têm raízes profundas na psique coletiva de um grupo familiar. E as pessoas que não pertencem ao mesmo grupo podem ter mais condições de avaliar a questão de forma imparcial.

 
8 – O bem estar
É muito difícil conseguir ajudar alguém se você mesmo estiver precisando de ajuda. O verdadeiro bem-estar é uma sensação de ter mais do que necessitamos, e assim nossa disposição não “escoará” nos deixando esvaziados. A maioria das pessoas com experiência em ajudar possuem uma fonte, lugar ou método que utilizam para “se abastecer”, o que é fundamental em alguns momentos.
 

9 – Ajuda como intermédio
O indivíduo disposto a ajudar muitas vezes apenas possibilita que algo além do que conhece deflagre a mudança verdadeira, seja esta uma dimensão inconsciente dele mesmo ou da pessoa auxiliada. Infelizmente ou não, para desgosto de alguns, existem mais forças atuando em nossas vidas do que se pode observar a olho nu, mesmo com toda ciência e técnicas que já possuímos. As maiores transformações partem de agentes sutis que ainda não dominamos ou conhecemos. E talvez seja este fator indescritível o mais significativo em todo o processo de ajuda.

10 – Os benefícios
O bem-estar proporcionado pela relação de ajuda pode indicar que este é o caminho pra você, pois como em qualquer outro trabalho, você deve apreciar realizá-lo. Dessa forma, não estará fazendo algo apenas porque é “o correto”, mas porque se sente bem ao fazê-lo. Estar alinhado a seu real propósito gera uma sensação de harmonia e tranquilidade que independe de outras recompensas, as quais podem existir ou não.

Juliana Corrêa

Acredita que transformar-se e transformar o mundo são sinônimos. Especialista em Psicologia Transpessoal. Atendimento de adultos e famílias em Curitiba.

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