Por Psicóloga Angelita Scardua

Antidepressivos: como o nome já diz, combatem a depressão mas não promovem a felicidade.

Vencer a depressão não é o mesmo que ser feliz!

Os antidepressivos podem ajudar uma pessoa deprimida a retomar as atividades de uma vida considerada normal. Os remédios contra a depressão visam favorecer a superação de um estado afetivo, cognitivo, social e físico que minimiza as chances de uma vida feliz. Independentemente do gatilho – e possível origem – emocional da depressão, em geral, o estado de apatia profunda que acomete o deprimido relaciona-se com alterações fisiológicas de fundo neuroquímico. É aí, na regulação dos processos endógenos, que o medicamento irá atuar. Quem obteve um diagnóstico de depressão sabe a importância do antidepressivo para retomar o controle da própria vida. Mas também sabe que isso não implica em felicidade, embora possa trazer sentimentos muito positivos ao restaurar a esperança em si mesmo e na vida.

Uma vida feliz não significa a ausência de tristezas. Eliminar um problema que nos aflige não nos habilita automaticamente a embarcar no cruzeiro da felicidade. Ao nível da relação cérebro/mente, felicidade e infelicidade têm seus próprios circuitos e sua química especial. Por exemplo, os dois hemisférios cerebrais atuam no processo das emoções, contudo o hemisfério direito tende a ficar mais ativo quando experienciamos emoções negativas, ao passo que nos momentos emocionalmente positivos a atividade é mais intensa no lóbulo frontal esquerdo. Mas, de forma alguma isso significa que as emoções positivas e negativas sejam independentes umas das outras.

Se você aguardou por muito tempo por um encontro romântico e chegou a hora de vivê-lo, é muito provável que dentro de você emoções positivas como alegria, otimismo, esperança e satisfação se alternem com emoções negativas como medo e insegurança. Dependendo da sua história prévia de relacionamentos amorosos, do nível da sua auto-estima e da sua auto-confiança, você tenderá mais para um pólo emocional ou outro. Mas as duas polaridades emocionais, positiva e negativa, continuarão desencadeando uma série de reações no seu corpo e na sua mente.

Por quê isso acontece? Porque os sistemas cerebrais para percepções negativas e positivas são interligados, de tal forma que um estado afetivo positivo é capaz de substituir, momentaneamente ou não, um estado negativo. O princípio do conflito entre os opostos em nosso cérebro se aplica a todos os neurônios individualmente. Cada neurônio está ligado a outras células nervosas, e ao mesmo tempo que algumas dessas células emitem sinais que ativam o neurônio, outras enviam sinais que o inibem. Esse antagonismo entre os estímulos que chegam ao nosso cérebro pode ser muito bem compreendido quando experienciamos algo que é, igualmente, prazeroso e doloroso, como comer pimenta, por exemplo.

A dor emocional envolvida na depressão, entretanto, embota essa dinâmica dos contrários. Como assim? Na depressão a pessoa não consegue perceber os afetos positivos que emergem no fluxo emocional característico do nosso processo mental. É como se a pessoa só conseguisse perceber (focar) as emoções negativas. O porquê dos distúrbios de humor acontecerem é ainda um mistério para a ciência. O fato é que fatores fisiológicos e psicológicos estão envolvidos nas alterações do humor, como é o que ocorre na depressão. Tanto é que, estatísticamente, os melhores resultados obtidos no tratamento dos distúrbios afetivos implicam combinar psicoterapia com medicamentos.

Assim, buscar a felicidade nos antidepressivos é guiar-se por uma miragem. Em especial numa época em que tantos leigos e profissionais tendem a confundir tristeza com depressão. Psicologicamente falando, é fundamental que entendamos que emoções negativas como tristeza, medo, insegurança, etc., são parte essencial da experiência afetiva humana, e que a vivência dessas não significa uma impossibilidade para a felicidade. Confundir tristeza com depressão seria como igualar fome à inanição. Fome sentimos todos os dias, e é importante que a sintamos até mesmo para sabermos quando é que o nosso organismo precisa ser nutrido. Inanição é uma condição patológica na qual a privação de alimento coloca em risco a vida. Similarmente, tristeza é o outro lado da alegria, a depressão é a privação total de emoções positivas e, também, coloca em risco a vida.

Ser feliz não é uma equação de 0 ou 1! Ser feliz tem muito mais a ver com o valor que damos às experiências do que com o conteúdo que elas trazem. O que distingue uma pessoa feliz de uma infeliz não é a quantidade de experiências positivas ou negativas, mas a qualidade atribuída a cada uma das experiências.

 

Angelita Corrêa Scardua

Psicóloga, Mestre e Doutoranda pela USP (SP). Especializada em Desenvolvimento de adultos, na experiência de Felicidade e nos estudos da Psicologia Social.

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