De repente, o filho que sempre foi bem no colégio começa a apresentar queda no rendimento escolar e mudança de humor. Ou então passa a ter dores de cabeça inexplicáveis, diarreia, suor excessivo e náusea, coincidentemente no momento de ir à escola.
Indícios de algum problema físico? Até pode ser, mas não descarte a possibilidade de a criança estar sendo vítima de bullying (agressão, intencional e repetida, sem motivo aparente, em que se faz uso do poder ou força para intimidar ou perseguir alguém, segundo o dicionário).
“Quando a criança muda de comportamento, algo está acontecendo. Por exemplo, é calma e começa a agredir os colegas. Ou costuma bater em todo mundo e, inesperadamente, fica amuada. São atitudes que podem significar muita coisa, como problemas físicos ou em casa, mas também podem ser sinais de bullying”, diz Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, e autora, em conjunto com Anna Flora, do livro infantil “Gato Xadrez – Vamos Brincar Outra Vez” (Editora Suplegraf), em que aborda o problema.
A lista de sinais de que o bullying pode estar angustiando a criança ou o adolescente é longa. Fora as mudanças de humor ou sintomas psicossomáticos –que podem incluir dores de estômago e tremores–, ainda podem existir dificuldades nas relações sociais e transtornos do sono ou alimentares, como afirma a educadora Cléo Fante, pesquisadora do tema e autora do livro “Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz” (Verus Editora), entre outras publicações sobre o assunto.
Uma das maiores dificuldades é fazer o filho contar o que está acontecendo. “Geralmente, a criança se mantém em silêncio por vergonha de se expor ou por se achar impotente diante do problema. Há também o medo de represálias ou de ser incompreendida pelos adultos. Por isso, é preciso promover um ambiente familiar acolhedor, com diálogo, compreensão e afeto. Um ambiente tenso, agressivo e inquiridor fará com que a criança se feche em seus problemas”, diz Cléo Fante.
Para Neide Noffs, uma boa maneira de fazer com que o filho se abra é partir para uma abordagem lúdica. “A brincadeira é um espaço muito importante para os pais identificarem o que está acontecendo com o filho”, declara, já que, ao brincar, a criança costuma expressar seus sentimentos, suas angústias e suas dúvidas.
Nessa hora, os pais devem dirigir a conversa sutilmente para os assuntos que queiram abordar. Do tipo: por que a boneca está levando bronca? Por que os carrinhos estão sendo quebrados ou destruídos? Mas isso deve ser feito calmamente e com delicadeza, para que a criança não se assuste ou se feche.
Importante também é saber o que não deve ser feito: os pais jamais devem ficar bravos com o filho porque ele não quer contar o que está acontecendo, tampouco devem ameaçá-lo ou expor a criança diante dos irmãos ou dos amigos. Esse é o momento de reforçar a autoconfiança e a autoestima da criança.
“É preciso apontar todas as qualidades do filho e valorizá-las”, fala a psicóloga Regiane Machado. “E é imprescindível que os pais mantenham a calma, não incentivando o revide nem responsabilizando a criança pelo que está acontecendo. Devem encorajá-la a não aceitar qualquer forma de agressão e a buscar ajuda da família e da escola”, afirma a educadora Cléo Fante.
Bullying identificado, o próximo passo é entrar em contato com o colégio. “De imediato, os pais devem comunicar o fato à escola, que deve encontrar alternativas pedagógicas para cessar os ataques e tratar o problema com os estudantes envolvidos, seus familiares e os profissionais do colégio”, diz Fante.
Também é preciso observar cuidadosamente o comportamento dos filhos e, caso seja necessário, recorrer a psicólogos ou pediatras.
A mudança de colégio nem sempre é indicada. “Tirar imediatamente a criança da escola pode acentuar sua fraqueza diante do problema”, afirma Neide Noffs, da PUC de São Paulo.
Já para a psicóloga Regiane Machado, dependendo das consequências geradas, a mudança de escola pode ser considerada. “Se possível, é importante a criança aprender a enfrentar esse tipo de situação e superar”, diz ela. Mesmo porque, de acordo com a pesquisadora Cléo Fante, para muitas crianças, a mudança significa transferir o problema e, às vezes, agravá-lo. “Se o estudante não consegue se posicionar em sua defesa e fazer cessar os ataques, dificilmente, sem ajuda profissional, o fará em outro estabelecimento”, diz.
No entanto, ela fala que, em alguns casos, para garantir a integridade física e psicológica da criança, a mudança de escola é recomendável.
Texto original em Uol Mulher
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