Aqui entramos em um terreno árido. Local onde parece não existir escolha para mães, mesmo quando o que se coloca em pauta é uma parte de seu próprio corpo.
O assunto circunda o imaginário da nova mãe, assim que o primeiro contato é estabelecido, às vezes ainda na sala de parto. A mãe vive um dilema interno em silêncio, já que expressar alguns sentimentos de negativa seria considerado egoísmo.
Amamentar não é tarefa fácil como alguns ainda acreditam. Por vezes, até achar a mão certa, ou melhor, a pegada correta, esta machuca, fere, cansa ou a própria mãe pode acreditar nesse ínterim, que não leva jeito para a coisa mesmo.
Muitas mães não querem insistir e desistem no meio do caminho, fora aquelas que se frustram em não conseguir amamentar o filho por uma série de fatores, contudo, invariavelmente, acabam sendo cobradas socialmente e sofrem. O fato é que o sentimento de culpa pode corroer algumas mães.
Casos de depressão pós-parto são mais comuns do que se imagina ou gostaríamos. Atualmente já se fala mais abertamente sobre o tema, muitos casos podem ter início justamente nesse processo de amamentação, já que ele para algumas mães é dificultoso e doloroso.
O fato é que a realidade é diferente das expectativas teorizadas ou divulgadas na mídia. Por vezes, aquela mulher que sonhou em amamentar o filho se vê prostrada com os seios doloridos, mamilos em ardência ou enormes rachaduras e fissuras. Assim, ficam expostas a dores físicas e emocionais, que não podem compartilhar ou expressar sem se sentir minimamente culpada.
Vários estudos relatam a importância do aleitamento materno e de longe minha posição não é contestar os milhões de benefícios a mãe e ao bebê nesse processo. Contudo, não podemos absolutizar, nem estabelecer obrigatoriedades morais para os outros, já que nem todos suportam o ônus do processo.
Muitas literaturas reforçam a importância da amamentação para o fortalecimento do vínculo entre a mãe e filho; demonstram os benefícios de imunidades e também relatam que a partir da amamentação, alguns traços de personalidade são iniciados, além de existir os estudos da retirada “correta” do aleitamento materno. Contudo, acredito que todos esses constructos desejáveis, só podem ser bons, caso o processo seja agradável para os envolvidos nessa relação, ou seja, mãe e filho devem estar em sintonia para o fortalecimento desse elo, já que o vínculo vai muito além de uma única razão, sendo ele multifatorial.
Eu amamento, tu amamentas não é uma conjugação obrigatória, já que o fato de acreditar fortemente em algo, não me torna apto para julgar aquela mãe, que tem por opção dar uma mamadeira ou que encontra outra alternativa de alimentar seu próprio filho. Ela também o ama.
Então, escute sugestões, que com certeza estarão presentes, mas faça suas escolhas do seu jeito ou do jeito que conseguir em determinado momento da vida, tentando filtrar as interferências, afinal, nem tudo funciona para todas as pessoas.
Acatar o direito da mãe que opta entre amamentar ou não o filho é um exercício que temos que praticar com respeito.
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