Por Cristina Trilce
O amor é pura adrenalina e foge de qualquer tentativa de racionalização: não podemos controlá-lo e não podemos decidir quando queremos que ele aconteça. Simplesmente acontece e causa algo extraordinário, tão assustador e especial ao mesmo tempo que não deixa ninguém indiferente. Assim, não se pode dissimular nem ocultar o amor. A natureza mágica do amor faz com que não possamos forçá-lo a ocorrer quando desejamos. Na verdade, quando o filósofo francês Sartre afirmou que somos livres, menos para decidir querer sê-lo, ele se esqueceu de adicionar a sensação de estar apaixonado: não se escolhe, essa sensação surge e pode chegar tanto em um bom momento da nossa vida como em um mau momento.
As relações de rebote
Certamente você já viveu alguma vez a terrível dor que provoca um rompimento sentimental, e por isso conhece melhor do que ninguém as consequências dessa perda emocional: dá-se o nome de “relações de rebote” a aquelas que se iniciam logo após terminar outra relação deixou suas feridas.
“O que se ama quando se ama, meu Deus: a luz terrível da vida
ou a luz da morte? O que se busca, o que se acha, o que
é isso: amor? Quem é?”
-Gonzalo Rojas, poema “O que se ama quando se ama?”-
Nem todos os relacionamentos que começam depois de um rompimento são produto deste efeito rebote, mas em muitos casos, o que acontece é que as pessoas acreditam que isso alivia o sofrimento e tentam seguir em frente de forma errada: sem perceber, elas pensam que essa nova pessoa vai resolver o desconforto e unir os rasgos da antiga pessoa que amavam.
Na verdade, por trás deste comportamento há solidão e instabilidade: estamos tão mal que não conseguimos superar, mas ocultamos isso porque é mais fácil do que enfrentar. Ou seja, o vínculo perdido nos faz pensar que precisamos de outro vínculos para nos sentirmos completos: buscamos amar desesperadamente para apagar o passado, esquecendo que só ama de verdade quem está pronto para isso.
O medo de estar solteiro
Compartilhar a vida com alguém não é nada fácil, mas se existe amor verdadeiro, as peças se encaixam e a relação avança com felicidade. Da mesma forma, também não é fácil conviver consigo mesmo se houver algo lá dentro que esteja fora do lugar e que precise de atenção. Portanto, antes de tentar correr atrás de um equilíbrio em casal, deve-se aprender a estar com a solidão própria ou, caso contrário, qualquer união formada será uma miragem.
Para superar a solidão ou, melhor dizendo, para nos darmos conta de que a solidão pode ser positiva, a primeira coisa que temos que fazer é enfrentar o medo: muitas pessoas não amam o seu companheiro, mas têm medo de não ter mais ninguém. Enquanto não entendermos isso, provavelmente vamos repetir o erro muitas vezes nos nossos relacionamentos.
O medo de estar solteiro é um problema cada vez mais comum no mundo ocidental, que às vezes não permite a quem sofre dele passar pelo processo de luto que exige um rompimento. Este acontecimento cria dependência emocional e conceitos errados acerca da solidão e da liberdade: estar sozinho não indica “ser um amargurado” nem estar com alguém significa “falta de liberdade”.
“Não há fórmula.
O amor
é a fronteira milimétrica
que separa a alma
da matéria mais absoluta,
uma fantasia bastante tangível”.
-Suso Sudón, poema “Metamor”-
O feitiço de coincidir
Como dissemos anteriormente, só ama de verdade quem está preparado para isso, quem já reconheceu que não quer cair nas mesmas armadilhas do passado e quem se atreve a assumir o risco, pois o que a pessoa sente é maior do que o seu medo. O feitiço de coincidir com alguém acontece quando você menos espera e quando sabe que você só tem a opção de experimentar. Neste momento, ame sem reservas.
Ame quando estiver pronto para amar
Há quem queira se sentir amado o suficiente para deixar que seu coração se nuble de ilusões, há quem não ame a si próprio e pretenda ser amado, há quem só escute a sua mente para tomar uma atitude e se esqueça da emoção. O amor é emocional e não pode ser medido ou calculado. Quem consegue se sentir apaixonado, no fim, percebe que não precisou fazer esforços para conseguir fazer isso: porque era o seu momento e a vida o tinha guardado.
Era a sua história
Se cruzou com a minha
Tanta gente, tanta gente aí fora
E coincidir aquele dia“
-Canção Coincidir, Macaco-
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