Ao longo da infância e, sobretudo, durante a adolescência, as amizades vão ganhando importância. Os estudos mostram que ser-se aceite e fazer parte do grupo de pares é fundamental para a construção da identidade do jovem, que assim vai definindo os seus valores, ideias e opiniões acerca dos outros e do mundo. No entanto, o formato das amizades dos adolescentes deste século é completamente distinto do dos seus pais, fruto do surgimento das redes sociais. Estas trouxeram importantes mudanças na forma de viver e construir uma relação de amizade.
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Enquanto os pais desenvolveram predominantemente amizades na escola, os adolescentes atuais têm muitas vezes mais tempo de contacto virtual com os amigos, do que tempo real. Como hoje em dia qualquer criança já sabe usar um computador e acender à Internet, chegada a adolescência é normal que tenham uma conta numa rede social e criem uma quantidade de amigos, uns reais e outros virtuais. A ausência de fronteiras atrai o jovem que está em processo de formação da sua identidade e à procura de um grupo. Estar diante de um écran de computador é mais fácil para muitos se expressarem, principalmente para aqueles que são mais tímidos.
Há uma desinibição associada ao fato de não estarem face-a-face. Sentem-se de alguma forma protegidos pelo écran, mas esta sensação é ilusória, já que apesar de o contato ser virtual, a comunicação estabelece-se entre duas pessoas de carne e osso. O amigo é virtual, porque não tem um rosto, mesmo que tenha enviado uma fotografia. Falta conhecer outros dados a que apenas podemos ter acesso pelo contacto direto, como é o caso do olhar, o toque, o sorriso, o odor corporal … aspectos que não fazem parte desse tipo de amizade.
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O próprio conceito de amizade parece ter-se alterado com as redes sociais. O amigo virtual é encontrado no ciberespaço, e é conquistado através de um teclado e de um écran de computador. É assim possível fazerem-se muitos amigos em poucos minutos, conhecerem-se pessoas de diversas nacionalidades, raças e cores. O vínculo com esses amigos virtuais fortalece-se à medida que se vão trocando, primeiro likes, depois comentários no mural e mais tarde mensagens privadas e conversas no chat.
Aparentemente, uma amizade deste tipo é mais facilmente administrada, tanto no seu início como no desenvolvimento. Cada um sente que tem o controlo da situação, uma vez que pode interromper a conversa se se sentir agredido, ou se o tema o estiver a aborrecer. Em último caso, pode até apagar da lista (desamigar) e bloquear, cortando definitivamente o contacto.
Com as amizades reais, tudo é bastante distinto, uma vez que o contato físico é imprescindível. Para construir uma amizade na vida real, é preciso haver um desejo mútuo de conhecer o outro e a relação é construída em privado, pela partilha de momentos que vão reforçando a cumplicidade. Torna-se necessário sair de casa, e o controle é sobre si mesmo. Há que seduzir o outro, no sentido de o cativar.
São importantes os olhares, a expressão, o tom de voz, os toques, os odores. Na vida real optamos geralmente por ter “poucos mas bons” amigos, enquanto nas redes sociais os adolescentes habitualmente procuram ter muitas amizades, sendo que a quantidade suplanta a qualidade.
FAZER AMIGOS NO CIBERESPAÇO
Desenganem-se quem pensa que as amizades virtuais não têm regras e que todos conseguem ser bem-sucedidos a este nível. Os estudos mostram o contrário. Há jovens que conseguem manter e engrossar a sua lista de amigos virtuais, enquanto outros não. Onde reside a diferença? Os mais populares mantêm-se, sobretudo, atentos às preferências dos outros e postam conteúdos diversificados e do interesse de muitos amigos.
Para além disso, estão em constante feedback, colocando likes e comentários nos murais dos outros. Esta interação facilita a consolidação da amizade virtual, desde que também não seja excessiva. É preciso manter um certo equilíbrio, caso contrário poderá ter o efeito oposto e começar a ser visto/sentido como aborrecido.
Por tudo que até aqui foi dito, importa acentuar que, apesar de as redes sociais poderem constituir um meio onde o adolescente consegue estabelecer muitas relações interpessoais, é importante não descurar as amizades reais. A sobrevalorização de umas em detrimento de outras, pode causar dificuldades em dar resposta aos desafios da vida real. Além disso, as redes sociais permitem a projeção de características idealizadas, que não correspondem necessariamente ao que o adolescente é, ou como se sente. Por exemplo, um jovem pode colocar uma mensagem, ou uma fotografia, que transmita uma enorme auto-confiança e alegria, quando na realidade se sente inseguro e desanimado.
Este facto pode levar a que os jovens, mesmo com inúmeros amigos nas redes sociais, se sintam extremamente incompreendidos e sós. Cabe então aos pais a tarefa de conversarem com os filhos sobre as amizades deles, com o objetivo de tentar perceber se de facto estes têm amigos com quem podem contar, na escola e nas redes sociais. Caso a maior parte das relações sejam virtuais, torna-se urgente ajudá-los no desenvolvimento das competências sociais, de forma a poderem conquistar amigos no mundo real.
AS VANTAGENS
Num mundo em que a maior parte dos pais desenvolveu um enorme receio de deixar os seus filhos conviver fora de casa, as redes sociais são muitas vezes o único local de convívio para os adolescentes. Através delas, os jovens partilham instantaneamente ideias e sentimentos, num meio relativamente seguro. Por exemplo, uma confidência revelada a um amigo virtual tem grandes hipóteses de ficar sempre um segredo entre os dois, uma vez que não há amigos em comum.
Esta garantia de confidencialidade, permite que mais facilmente surjam desabafos. Outro aspecto importante é que as relações nas redes sociais são mediadas e isto possibilita ao adolescente pensar antes de responder a um comentário, permitindo-lhe praticar as suas competências de comunicação, ganhar confiança nas interações sociais e construir amizades de forma mais confortável.
DO VIRTUAL PARA O REAL
Numa pesquisa realizada pelo Cincinnati Children’s Hospital Medical Center mostrou que um a cada três jovens vão ao encontro de desconhecidos com quem estabeleceram contacto via WEB. Este estudo, realizado somente com raparigas entre 14 e 17 anos, e revelou que estas poderiam estar a colocar-se em risco, quer por estabelecerem contacto com homens mais velhos, quer por marcarem encontros presenciais. É claro que nem todos estes encontros acabam mal, mas a hipótese disso acontecer é elevada!
ATENÇÃO!
As redes sociais não podem ser diabolizadas, porque os seus perigos decorrem do modo como são usadas. Aconselhe o seu filho a …
– Ser criterioso na escolha dos amigos a adicionar. Não aceite toda a gente só para fazer número.
– Acionar as ferramentas de segurança, de modo a não deixar o perfil à mercê de todos os olhares e visitas
– Não publicar fotografias em roupa interior ou em poses sensuais
– Não misturar audiências, ou seja, não adicionar pessoas com as quais mantém diferentes tipos de relação na vida real (professores, colegas, família) ou então fazer listas separadas
– Ter cuidado ao adicionar figuras públicas. Existem muitos perfis falsos e não se sabe muito bem quem está por detrás deles.
– Caso seja abordado/a por alguém desconhecido que lhe prometa algo em troca de um encontro presencial, nunca ceda e conte sempre a um adulto.
Imagem de capa: Shutterstock/ProStockStudio
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