Por Marcelo Costa
Para começar essa discussão eu cito o paragrafo do texto de Alvarenga que diz “O amor tem um grande poder. Como estímulo reforçador ele pode modelar os mais diferentes comportamentos” (2012, p1). Lendo o texto cheguei a vários pontos em que discordo do autor. Falar em amor como estimulo reforçador específico para uma resposta me parece não ter lugar dentro de uma Análise do Comportamento baseada no Behaviorismo Radical. Entendo o amor não como um estímulo que reforça uma classe de respostas específicas e sim como uma operação motivadora que potencializa respostas de amar.
Indo além, eu posso dizer que o amor enquanto matéria não existe. É um constructo cultural não passando apenas de um estado nomeado por uma comunidade verbal especifica. O amor seguindo essa definição não pode ser considerado um estímulo reforçador por sí só, mas como uma operação motivadora poderosa que aumenta consideravelmente que a probabilidade de respostas amorosas de um organismo seja emitida para outro organismo alvo, seja na presença dele ou não.
Um rapaz que está apaixonado ou amando tem maior probabilidade de emitir certas respostas como “mandar flores”, “dar presentes”, “ fazer ligações” ou mesmo ousar no comportamento sexual. Mas essas respostas não são reforçadas pelo “amor” e sim pelas consequências diretas das respostas que o estado nomeado como amor proporciona. Mandar flores ou mandar um presente é consequenciado por um beijo ou por reforço social e não pelo estado também corporal descrito como amor.
O autor continua “Amor é comportamento! Sim, é comportamento. Sei que parece esquisito, mas amor é comportamento emocional sujeito a ação das consequências que produz.”(p.2) Esse é mais um ponto que discordo do autor. Amor não é comportamento. Não do ponto de vista de um operante e na verdade não entendi ao certo o que o autor quis dizer com “comportamento emocional” já que tudo é comportamento. Podemos dizer que Emoção, sentimento, pensamento é um correlato da contingência e, portanto é apenas comportamento, não existe até onde eu saiba uma diferenciação entre comportamento X ou comportamento Y.
O importante é entender que o comportamento amoroso está envolto em diversas variáveis nos três níveis de seleção. No nível filogenético é uma alteração na produção de certos neurotransmissores e hormônios específicos como a Oxitocína, Serotonina e Dopamina, no nível Ontogenético podemos falar em diversos condicionamentos, regras e auto-regras que podem modificar a percepção do amor enquanto estado corporal, além do nível cultural que praticamente dita regras de conduta amorosa.
Amor não pode ser comportamento operante. O que é comportamento operante é a relação entre os antecedentes e as respostas que aumentam a probabilidade de serem emitidas por esse estado descrito culturalmente por amor e que são reforçadas por outro organismo. Caso não sejam reforçadas o amor perde a função de operação motivadora e se torna uma operação abolidora. As respostas não tem mais probabilidade de acontecer com alta frequência. Agora o estado corporal amor, vai inibir a frequência e emissão de respostas, pois não haverá reforçamento tornando em muitas vezes tais respostas aversivas que vão ser punidas. É abolidora, pois as condições do estado amor não mais estabelecem um maior valor reforçador para um consequente e sim abolem esse valor.
Imagem de capa: Shutterstock/tostphoto
TEXTO ORIGINAL DE COMPORTE-SE
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