Por: Laila A. Wahab
Advogada e psicoterapeuta cognitiva
A angústia é e sempre será o maior enigma humano, desafiando a psicoterapia. Sem dúvida para a psicanálise é o propulsor em si mesma, e ao mesmo tempo a abertura para questões interiorizadas. Neste bojo está o desamparo, que por sua vez, indica que a vida psíquica vivida fora de si, para um outro, não responde. Surge então no âmago desta questão aquilo que Winnicott denomina primitive agonies. Em francês, o termo etimológico, “agon” é a luta, o combate. A “agonia primitiva” traz dentro desta questão, como base o desamparo, do desamparo extremo, e a de um combate, de uma primeira resposta contraposta ao perigo, o desamparo do bebê.
Um termo também interessante, referente a ruptura de mecanismos psíquicos é o “ breakdown”, apontando para este rompimento, que pode embocar no vazio, no silêncio, na própria queda, colapso, portanto. A forma mais nítida de tradução deste estado é o ímpeto súbito de lágrimas, em prévia autorização. O desamparo portanto, fica além da angústia, mas ensejador desta , sendo aquela um afeto desta ou ainda, a manifestação desesperada desta.
A crise emocional, manifestada especialmente nestas datas festivas de finais de ano, denotam o sofrimento interno psíquico, tão desconcertante que ultrapassa limites da tolerância pessoal. Tal qual o descarrilamento de um vagão. Quando a pressão excede os limites, irrompe o surto.
Passar por crises, é uma experiência absolutamente normal na vida, certamente grande maioria das pessoas já vivenciou. É inclusive saudável vivenciar oscilações, pois instiga o indivíduo para a busca de um equilíbrio entre si mesmo e o seu entorno, o que o torna adaptativo. Todavia quando este equilíbrio é rompido, e ainda que o indivíduo tente meios de superá-lo e não consegue, está instaurada a crise. Em outras palavras, a alteração no equilíbrio psíquico deste indivíduo, gerada por um fracasso na resolução de problemas, traz caoticidade interna, que nada mais é que o sentimento de desordem, de desesperança, tristeza, confusão. Gerando inclusive as crises que mais desestruturam, as crises de pânico.
Se pudéssemos resumir a percepção do que seria esta desordem emocional, poderíamos dizer que é o colapso ou a falência nas estratégias prévias de enfrentamento ou nas expressões que ouvimos em nossos consultórios “ Sinto-me esmagado. Não dou conta…”.
É preciso compreender que o estado de crise é mapeado no tempo, ou seja , quase sempre vem acompanhando ou precedendo um evento desencadeador, que é a perda, a dor, enfim o evento traumático. Todavia é importante também que se diga, que a resolução final, ou o prognóstico para a recuperação mental do indivíduo, depende de fatores como a gravidade do evento e dos recursos pessoais e sociais da pessoa que enfrenta a crise.
Ainda assim, é importante frisar que “ crise ” não deve ser entendido somente como algo negativo. Utilizando de recurso meramente explicativo, seria como o ideograma chinês, que se apresenta com dois significados, por duas figuras: “perigo” e outra “oportunidade”, ou seja, pode ser encarado como uma oportunidade para mudanças. Assim, considerando o lado positivo pode ser visto como um momento delicado, mas que também um ponto de propulsão a sacar o indivíduo do fundo da crise e leva-lo a um marco especial em sua vida.
Costumamos ver um exemplo disto, quando conversamos com sobreviventes que nos contam, que o período turbulento passou, e que passado este período pode-se olhar para trás e ter orgulho de si mesmo.
Também não podemos deixar de reconhecer a dificuldade e delicadeza do momento de uma crise, que obviamente ameaça à saúde mental.
Fato é que resolvida satisfatoriamente a crise, o indivíduo pode voltar a funcionar melhor do que antes de tê-la. Pode inclusive ser uma auxiliadora para o próprio desenvolvimento pessoal do afetado. Todavia, não resolvida a crise, pode também aumentar a vulnerabilidade para mais enfermidades, aumentando ainda mais os riscos para transtornos mentais neste indivíduo. Os sintomas clínicos são em geral respostas que o corpo apresenta em forma de sinais ao estado danoso causado pela crise. Em resumo, a crise nada mais é que a reação frente a uma situação tida pelo indivíduo como perigosa, que traz séria ameaça à sua integridade pessoal, física ou psíquica ou ambas.
Voltando ao argumento de que a crise pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal, nasce neste momento a necessidade de elaboração de conflitos, tanto do passado quanto de formas estratégicas para lidar com os conflitos no presente. As habilidades que podem ser desenvolvidas a partir da adoção de determinadas estratégias de manejo de crise, certamente auxiliarão na resolução de problemas também no futuro.
A angústia é tida socialmente como uma doença a ser tratada, ou um demônio a ser exorcizado por via medicamentosa ou terapêutica. Na contramão desse entendimento, Jacques Lacan concede à angústia um status diferenciado, entendendo ser a angústia o único dentre os afetos, um sinal do real, referindo-se à emergência do desejo de um “ Outro”, mas não de um outro, imaginário ou simbólico, mas de um “Outro” real, sendo este “Outro” um indivíduo. Importante que se diga, dentro do conceito de desejo caprichoso e inconsistente.
Na angústia o sujeito não se situa, não há coordenadas simbólicas para serem testemunhadas por um ponto de vista, é como se o sujeito não se sentisse visto por este “Outro”. Outra forma de compreensão sobre a angustia, em especial a que se percebe neste período do ano, decorre dos eventos diários da violência urbana, causando significativo impacto sobre a saúde mental das pessoas em geral, atormentadas pelo medo, sentindo-se desamparadas, sofrem emocionalmente, muitas ainda, pelo impacto da perda de entes queridos (familiares ou não) e de prejuízos materiais e econômicos. Infelizmente apenas nos últimos anos é que se atentou para este tipo de sofrimento psíquico.
Interessante é que as reações emocionais muito intensas são proporcionais a intensidade da exposição aos eventos traumáticos vivenciado em toda sua extensão de danos. Quanto antes for detectada maior eficácia na intervenção. A abordagem precoce de qualquer problema de saúde mental é a maneira mais efetiva de prevenção de transtornos mais sérios que costumam aparecer, a médio e a longo prazo, após o evento traumático 75% das pessoas expostas a uma situação traumática podem apresentar distúrbios psíquicos com comorbidades associadas tais como: depressão, ansiedade, fobia, abuso de drogas e álcool.
***
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”
Por que temos tanta dificuldade em nos livrar de roupas que não usamos? Segundo especialistas,…
Segundo a mãe, a ação judicial foi a única forma de estimular a filha a…
Uma pequena joia do cinema que encanta os olhos e aquece os corações.
Uma história emocionante sobre família, sobrevivência e os laços inesperados que podem transformar vidas.
Você ama comprar roupas, mas precisa ter um controle melhor sobre as suas aquisições? Veja…
Qualquer um que tenha visto esta minissérie profundamente tocante da Netflix vai concordar que esta…