Atualmente, é consenso entre cientistas e profissionais em saúde mental que os transtornos psicológicos (como a ansiedade e a depressão) têm duas principais fontes, ou causas: A genética e o ambiente.
Para conciliar estas causas, a prática terapêutica tende a enxergar os aspectos genéticos como predisposições, ou seja, certas tendências inatas de determinada pessoa a sofrer transtornos psicológicos. Já o ambiente é um contexto com mais variáveis, que podem agir para agravar as tendências inatas ou para reduzi-las.
Para usar um exemplo: Um homem que nasceu com maior sensibilidade no Giro do Cíngulo anterior e nas Amigdalas, que são estruturas cerebrais relacionadas às respostas de medo e ‘luta ou fuga’, pode ter uma vida perfeitamente agradável e livre de ansiedades debilitantes se puder evitar muita exposição a ambientes de extremo risco, competição ou incertezas. Este mesmo homem, no entanto, tem maior tendência a desenvolver quadros de ansiedade se tiver que enfrentar ambientes mais hostis e/ou competitivos.
Infelizmente, a noção de evitar exposição a ambientes de risco, competição ou incertezas pode parecer algo impossível. A comunidade em que vivemos (assim como tantas outras ao redor do mundo, seja primeiro ou terceiro) é pautada em contratos sociais que encorajam a competitividade, a dominância e a tomada de riscos. Neste cenário, como ficam aqueles que nasceram com uma variabilidade genética que torna este tipo de ambiente extremamente prejudicial para eles? Logicamente, ficam prejudicados.
Para os terapeutas, esse contexto levanta questões bastante sérias. Como tratar a ansiedade de uma pessoa que tem uma vida extremamente estressante? Como tratar a depressão de uma pessoa que não consegue uma chance no nosso mercado de trabalho e se sente inútil? Podemos, é claro, fazer o nosso trabalho: Ensinar formas de enfrentamento, buscar modificar padrões de pensamentos negativos e até recomendar o uso de remédios. A psicologia já é ciência bem avançada, afinal, assim como a psiquiatria, e existem muitos recursos. Mas e quando nos vemos limitados a tratar o sintoma (ansiedade ou depressão) e não a causa (o emprego estressante, a angústia e incerteza que vêm das dificuldades financeiras etc)?
Em outras palavras, e quando os sintomas são respostas saudáveis a um ambiente nocivo? Quando tratamos os sintomas para otimizar o funcionamento dos nossos clientes em ambientes nocivos, a quem estamos beneficiando?
Devemos, é claro, continuar tratando os nossos pacientes ao melhor das nossas habilidades, e esse não é um esforço em vão. Promover mudanças como aumento e autoestima e autoconfiança, receitar medicamentos apropriados que reduzir sofrimento, estas são medidas que ajudam qualquer pessoa a conviver melhor com nosso mundo turbulento e incerto. Mas determinadas questões sobre o propósito social da terapia e do uso de remédios devem continuar sendo debatidas, como têm sido. É deste debate que podem surgir ideias e práticas novas e melhores.