Compreendendo a Ansiedade
Muito se fala em ansiedade nos dias de hoje, devido à cobrança avassaladora pelo desempenho, pelo status, pelo conhecimento, pelas informações, entre outras. Estas cobranças, com a correria e estresse do cotidiano geram um estado ansioso, se muito intenso pode prejudicar a qualidade vida de uma pessoa.
A ansiedade é um estado emocional complexo, com características subjetivas, similar ao sintoma do medo, diferindo apenas nas suas características, pois o medo se desencadeia por fatores reais e palpáveis.
Companheira do homem, a ansiedade é um sinalizador que antecede uma situação de perigo real ou imaginária, é uma resposta adaptativa, podendo ser desencadeada diante de uma circunstância nova e desconhecida, por preocupações, pelo valor afetivo da situação, nos eventos agradáveis ou aversivos. No entanto quando excessiva pode produzir problemas físicos, comportamentais, prejudicar o desempenho, gerando angústia e sofrimentos.
O transtorno da ansiedade vai se caracterizar quanto à intensidade, frequência e duração prolongada no tempo.
Fatores que podem desencadear verdadeiras perturbações, atrapalhando as pessoas de agirem e enxergarem uma determinada situação de maneira mais clara, objetiva e ou “normal”, ou seja, irá interferir negativamente no bem estar e rendimento das atividades do dia a dia.
Medo X Ansiedade
O medo e a ansiedade são estados emocionais que apresentam considerável valor adaptativo, com origens nas reações de defesa, manifestados em situações desconfortáveis, de insegurança ou de ameaça.
A sensação do medo é natural a todas as pessoas e proporciona um estado de alerta a um estímulo aversivo, com liberação de hormônio, como a adrenalina, que causam imediato aumento dos batimentos cardíacos, preparando o corpo para duas situações possíveis “lutar ou fugir”. A reação do medo está no centro de vários transtornos do comportamento.
O medo está associado à percepção de um perigo real, como a aproximação de uma pessoa suspeita, um assaltante armado ou na iminência de um acidente. Trata-se de um receio específico, objetivo, que pode ser identificado, que está externo e tem uma ameaça verdadeira, provocando na pessoa um estado de desassossego e tensão.
Já a ansiedade é uma emoção subjetiva, vaga, indefinida, um estado emocional complexo, mas que produz a sensação interior do temor, de impotência igualmente a do medo.
A ansiedade é uma resposta fisiológica a um evento que está prestes a ocorrer, por exemplo, uma festa, um encontro, provas, entrevistas de emprego, apresentação de trabalhos escolares, vestibulares, entre outros. Trata-se de uma sensação de receio e de apreensão, de inquietação, de excitação física, que é ativado diante de eventos ou circunstâncias de incertezas. Tal qual no medo a ansiedade também é uma reação mediada pela adrenalina que antecede o stress.
O medo está no cerne de todos estados de ansiedade. É um estado psicológico implícito que governa a ansiedade, conforme afirma e exemplifica Clark, David A.; Beck, Aaron T. (2012).
Exemplo:
– Uma pessoa fica ansiosa ao ter que falar em público, com medo de lhe fazerem uma pergunta que antemão julga não saber responder. O constrangimento é o medo implícito a esta ansiedade. Todos irão pensar que a pessoa é incompetente.
– Ansiedade pela saúde, sempre ao sinal de incômodo abdominal, a pessoa sente ansiedade. O medo essencial é “e seu ficar muito doente, começar a vomitar, não conseguir parar e sufocar por não conseguir respirar”.
Percebe-se que a ansiedade não diz respeito a fatos acontecidos e sim a fatos futuros. Pode-se dizer que o medo é uma resposta normal e funcional na preparação do enfrentamento do perigo físico e real no presente. Mas quando o medo antecipa as situações ainda não vividas, ele deixa de ser funcional, porque gera a ansiedade A ansiedade está sempre conduzida ao futuro “E se?”.
A ansiedade pode ser normal, tanto quanto o medo, desde que proporcional às dificuldades, pois ajuda no enfrentamento saudável das mesmas. Ela é considerada um transtorno quando for desproporcional, improdutiva à situação e perdurar por longos períodos a vida de uma pessoa, o que poderá gerar um excessivo sofrimento.
A pessoa que sofre do transtorno de ansiedade tem tendência a se concentrar muito com as possibilidades negativas, com erros, fracassos, com dificuldades que podem ser reais ou não, o que minimiza sua capacidade de ver a situação como um todo e dar as devidas soluções.
Desvendando os sintomas da ansiedade
Atualmente o ritmo de vida é muito frenético, com um grande bombardeio de informações, o que leva as pessoas a ter um alto grau de preocupação e cobrança, seja ele dentro do âmbito familiar, social ou de trabalho. Portanto ter certo grau de ansiedade ajuda o individuo a resolver problemas e enfrentar desafios nas situações do dia a dia.
O problema está quando a ansiedade começa a ter aumento de intensidade, redução do limiar para que ocorra seu desencadeamento e duração, estas são algumas das características que podem ser identificadas no estado patológico. As pessoas neste estado antecipam muito sua preocupação com algum tipo de ocorrência e sofrem mais do que necessário, instalando uma sobrecarga mental, o que afeta de maneira física, emocional, comportamental e cognitiva. No entanto este diagnóstico não é uma tarefa fácil, portanto, é importante conhecer alguns sintomas para que se possa tentar identificar a ocorrências deles nas diversas situações do dia a dia:
Sintomas Físicos
Frequência cardíaca aumentada, palpitações;
Falta de ar, respiração rápida;
Dor ou pressão no peito;
Sensação de asfixia;
Leve tontura ou vertigem;
Sudorese, calores, calafrios;
Náusea, estômago embrulhado, diarreia;
Tremores, estremecimento;
Formigamento ou dormência nos braços e pernas;
Fraqueza, desequilíbrio, sensação de desmaio;
Tensão muscular, rigidez;
Boca seca;
Vazio no estômago.
Sintomas Comportamentais
Dificuldade para falar;
Evitação de sinais ou situações de ameaças;
Fuga e escape;
Busca de Segurança, reasseguramento;
Desassossego, Agitação, Andar de um lado para outro, sem controle;
Paralisia, imobilidade;
Sintomas Emocionais
Sentir-se nervoso, tenso, irritado;
Sentir-se assustado, temeroso, aterrorizado;
Ser apreensivo, alvoroçado;
Ser impaciente, frustrado.
Sintomas Cognitivos
Medo de perder o controle e ser incapaz de enfrentar;
Medo de dano físico ou da morte;
Medo de enlouquecer;
Medo de avaliação negativa dos outros;
Pensamento ou imagens assustadoras;
Percepção de irrealidade ou alheamento;
Dificuldade de raciocínio, perda da objetividade;
Baixa concentração;
Confusão;
Memória fraca;
Estreitamento da atenção, hipervigilância para perigo;
Distratibilidade (incapacidade de filtrar estímulos externos irrelevantes).
Características que ajudam na identificação do transtorno de ansiedade
Identificar os sintomas quer do grupo físico, comportamental, emocional ou cognitivo, em que situação eles acontecem, com qual intensidade, com que frequência e qual o nível de sofrimento é um grande passo para melhor elaboração da estratégia a ser utilizada no tratamento. Mas é importante também a verificação de algumas características para de fato identificar se a ansiedade apresentada pela pessoa é de fato clínica e qual o tratamento mais adequado. São elas:
Intensidade Exagerada: Quando a ansiedade tende a ser muito maior frente a um determinado estímulo ou circunstância, diverso ao que é comum ser observado normalmente.
Persistência: Quando a ansiedade persiste por dias diante de uma situação, mais do esperado em situação consideradas normais.
Interferência: Quando a ansiedade interfere na vida familiar, eventos sociais, no âmbito de trabalho e em outras atividades ou áreas da vida.
Pensamento catastrófico: Quando a ansiedade faz com as pessoas criam imagens negativas e aterrorizantes.
Evitação: Quando a ansiedade leva a pessoa evitar qualquer coisa aversiva.
Perda de segurança ou do sentimento de tranquilidade: Quando a ansiedade leva a um frequente estado de insegurança e ou tensão.
Outra importante informação que deve ser pesquisado é se o paciente faz uso de substâncias (drogas, álcool, medicamentos) ou a alguma condição médica, como problemas hormonais (hipertireoidismo, por exemplo), que têm como principais sintomas a ansiedade e as oscilações de humor ou TPM, menopausa, hipoglicemia.
Classificando e entendendo 4 tipos de transtorno de ansiedade
O Transtorno do Pânico (TP) caracteriza-se por crises espontâneas, abruptas de mal-estar e sensação de perigo ou morte iminente, acompanhadas de diversos sintomas físicos e cognitivos que, em geral, atingem seu ponto máximo em segundos ou minutos e decrescem logo após. O primeiro ataque de pânico costuma ser seguido de outros, em lugares e situações diversas. A pessoa acometida por este transtorno passa a evitar esses lugares (agorafobia) por medo de uma nova crise principalmente aqueles onde a passagem ou a saída é mais difícil, como: supermercados cheios, trânsito congestionado, meios de transportes coletivos, etc. Abaixo alguns sintomas:
Falta de ar (dispneia) ou sensação de asfixia
Vertigem, sentimentos de instabilidade ou sensação de desmaio
Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado (taquicardia)
Tremor ou abalos
Sudorese
Sufocamento
Náusea ou desconforto abdominal
Despersonalização ou desrealização
Anestesia ou formigamento (parestesias)
Ondas de calor ou frio
Dor ou desconforto no peito
Medo de morrer
Medo de enlouquecer ou cometer ato descontrolado
Fobia Social ou Ansiedade Social
Medo excessivo, persistente e irracional de situações sociais ou de desempenho. A característica essencial da Fobia Social compreende um medo acentuado de situações sociais ou de avaliação, ou quando o indivíduo é exposto a pessoas estranhas. Há um intenso temor em agir de maneira humilhante ou embaraçosa, bem como o medo em demonstrar sintomas de ansiedade em situações como a de falar em público, comer e beber diante de outras pessoas, relacionar-se com pessoa em posição de autoridade, estar em festas e reuniões. Para se estabelecer o diagnóstico em crianças, esse critério deve ocorrer em contextos que envolvem o mesmo grupo etário (por ex., sala de aula), e não apenas na relação com adultos. Seus sintomas:
Coração acelerado ou aperto no peito
Voz tremula
Respiração rápida
Sudação ou ondas de calos
Boca seca
Transpiração nas mãos
Tremores
Problemas de estômago e náuseas
Tensão muscular
Corar
Tonturas ou sensação de desmaio
Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG)
O transtorno da ansiedade generalizada é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva” com muitas coisas. A pessoa com este transtorno acredita que deve estar sempre alerta, pois caso contrário, não poderá evitar consequências gravíssimas. É persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas:
Inquietação
Fadiga
Irritabilidade
Dificuldade de concentração
Tensão muscular
Micção frequente
Diarreia
Perturbação do sono
Agorafobia
Ansiedade acerca de estar em locais ou situações de onde possa ser difícil ou embaraçoso escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível, na eventualidade de ter uma um ataque de pânico inesperado ou predisposto pela situação.
A agorafobia poderia ser traduzida mais precisamente como o medo de ter medo. É a ansiedade antecipatória, já que se baseia no medo de se sentir mal e não poder chegar a um hospital ou obter socorro com facilidade. A pessoa com este transtorno acredita que ficar em casa estará protegido.
Os temores agorafóbicos tipicamente envolvem agrupamentos característicos de situações que incluem: meio de multidão, ficar em casa sozinho, túneis, passarelas, pontes engarrafamento, andar nas ruas desacompanhado, viajar de trem, ônibus ou automóveis. Alguns possíveis sintomas:
Tremores
Hiperventilação
Agitação
Tonturas
Sudoreses
Náuseas
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) – DSM V
O TOC que antes fazia parte da classificação dos transtornos de ansiedade (DSM IV), em maio de 2013 foi incluso em uma categoria específica – DSM V – transtorno obsessivo compulsivo e transtornos relacionados.
Muitos pacientes com TOC apresentam comorbidades que podem interferir no tratamento. As comorbidades mais comuns são: depressão, transtornos da ansiedade – especialmente as fobias específicas (medo persistente e recorrente a um determinado objeto ou circunstância) e TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).
A principal característica do TOC é a presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciadas e são consideradas com indesejáveis. As compulsões são comportamentos repetitivos que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão.
Então, o TOC consiste em pensamentos, ideias ou imagens exageradas e irracionais que invadem a consciência sem que a pessoa queira. Eles ficam patinando dentro da cabeça e o único jeito para livrar-se deles por algum tempo é realizar o ritual próprio da compulsão, seguindo regras e etapas rígidas e pré-estabelecidas, que ajudam a aliviar a ansiedade.
Algumas pessoas com este tipo de transtorno acham que, se não agirem assim, algo terrível pode acontecer-lhes, como por exemplo, nos rituais de higiene – medo de contaminação; nos rituais de simetria – supertições com cores, números. No entanto, a ocorrência dos pensamentos obsessivos tende a agravar-se à medida que são realizados os rituais e pode transformar-se num obstáculo não só para a rotina diária da pessoa como para a vida da família inteira.
Os rituais geralmente são voltados para – organização, simetria, saúde, higiene, perfeição, podendo variar ao longo da doença.
Existem dois tipos de TOC:
1. Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico – as obsessões e rituais se repetem com frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa.
2. Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito: as obsessões persistem até o exercício da compulsão que alivia a ansiedade.
3. Causas dos Transtornos da Ansiedade
Muito embora, as causas de cada transtorno de ansiedade ainda não foram descobertas, as pesquisas consideram muitas as possibilidades que podem levar uma pessoa a desenvolver esta patologia, entre elas:
Desequilíbrios fisiológicos (neuroquímica) – deficiência no papel dos neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios, como a noradrenalina e a serotonina);
Fatores genéticos – histórico de transtornos mentais na família;
Exposição a situações de estresse – emocionais, a curto e longo prazo;
Crenças pessoais – percebem o mundo negativamente, julgando as situações da vida, lugares e pessoas como perigosos e ameaçadores;
Meio familiar – âmbito familiar com muitas cobranças, pais críticos e perfeccionistas, que incessantemente exigem desempenhos insuperáveis de suas crianças, produzindo nelas sentimentos de insegurança, medo e dependência;
Vida estressante – ritmo frenético, com volume ilimitado de informação, estímulos visuais por todos os lados, pressão por consumo, carga de trabalho excessiva, competição, violência, desigualdade social, falta de segurança, entre outras;
Violência – maus-tratos físicos ou psicológicos na infância;
Pessoas mais caladas – as pessoas que não manifestam seus sentimentos ou discutem seus problemas, apenas os guardam têm maiores probabilidades de manifestarem ansiedade.
Propostas de Prevenção e de Tratamento
Para um tratamento mais assertivo dos transtornos ansiosos, é importante considerar como base principal a psicoterapia. A Comportamental é um modelo de psicoterapia onde o terapeuta busca identificar os padrões comportamentais associados ao quadro de ansiedade, estimulando o aprendizado de novos comportamentos aptos a inibir antigas posturas capazes de provocar a ansiedade.
Além da psicoterapia, muitos casos necessitam da administração de medicamentos. Uma boa maneira é associar psicoterapia com farmacoterapia, de forma coordenada. Esta associação tem o objetivo de proporcionar ao paciente habilidade através da psicoterapia para lidar com a ansiedade patológica e na farmacoterapia a ação mais rápida dos fármacos na diminuição da intensidade dos sintomas ansiosos, trazendo mais alívio e qualidade de vida.
Outras dicas que podem contribuir na melhora da qualidade de vida das pessoas ansiosas, sejam elas portadoras de uma ansiedade normal ou anormal.
Buscar saber as causas geradoras do processo ansioso;
Manter o foco em pensamentos positivos;
Praticar exercícios físicos reduz a ansiedade e ajuda na superação do estresse;
Alimentação saudável e balanceada;
Procurar conversar sobre suas angústias com alguém de confiança (amigos ou familiares);
Reservar um tempo para o lazer e para cuidar de si mesmo;
Escrever sobre os episódios ou situações que o incomoda;
Controlar a respiração;
Assistir a uma boa comédia.
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