Um antidepressivo que costuma ser receitado para adolescentes pode ser “ineficaz e inseguro” para as populações que ele deveria ajudar, segundo uma nova análise de um estudo feito 14 anos atrás.
A pesquisa, publicada em meados de setembro na revista THE BMJ, contradiz resultados anteriores segundo os quais a paroxetina – vendida sob os nomes comerciais de Paxil, Aropax e Seroxat – é segura para pessoas com menos de 25 anos.
A nova pesquisa descobriu que o remédio pode ser associado com incidentes ligados a suicídio, incluindo pensamentos suicidas e tentativas de suicídio, e não oferece vantagens em relação a placebos.
A análise, realizada por uma equipe internacional de pesquisadores liderada pelo professor Jon Jureidini, oferece novos insights sobre o Estudo 329, um teste altamente controverso conduzido em 2001 pela GlaxoSmithKline, a fabricante do Paxil. Na época, a empresa se chamava SmithKline Beecham.
Cientistas independentes criticaram os testes logo depois da publicação dos resultados, questionando a pesquisa e afirmando que a descoberta de efeitos colaterais perigosos tinha sido minimizada.
Jureidini e sua equipe fizeram a primeira análise externa das quase 77 mil páginas de documentos relacionadas ao teste.
Eles descobriram que o estudo original pode de fato ter minimizado a prevalência de incidentes ligados a suicídios, usando um sistema de codificação que levou a menos jovens serem identificados como suicidas. O estudo 329 observou que 5 dos 275 adolescente do estudo demonstraram sinais de comportamento suicida, enquanto a nova análise encontrou pelo menos 12.
“A discrepância é estranha”, disse ao The Washington Post David Healy, co-autor do novo estudo. Ela parece ter ocorrido porque o estudo de 2001 reclassificou tentativas sérias de suicídio como “instabilidade emocional” – uma frase que se refere à tendência da pessoa de rir ou chorar inesperadamente.
“Não é preciso ser especialista para encontrar [esses casos]”, afirmou Healy. “Na verdade, é preciso ser um especialista excepcional para evitar encontrá-los.”
Desde 2004, as embalagens de Paxil tem uma advertência obrigatória de que o remédio pode aumentar o risco de suicídio entre crianças; em 2007, o aviso foi estendido para pessoas de até 25 anos.
A paroxetina é considerada benéfica para adultos com mais de 25 anos que sofrem de depressão.
Em 2012, a GlaxoSmithKline se declarou culpada e pagou uma multa de 3 bilhões de dólares por promover o Paxil e outros remédio para usos não-aprovados.
Nove dos autores do estudo de 2001 lançaram um comunicado defendendo a pesquisa. Eles indicam planos de escrever uma carta aprofundada refutando as afirmações do artigo da BMJ, mas disseram que não há prazo para a apresentação do documento, pois “vai ser necessário um trabalho significativo para que ele seja rigoroso”.
“Descrever nosso teste como ‘mal reportado’ é pejorativo e errado, tanto em termos das melhores práticas de pesquisa da época como em termos de uma retrospectiva do ponto de vista das melhores práticas atuais”, escrevem eles.
“A decisão da GlaxoSmithKline de oferecer os dados do Estudo 329 para os pesquisadores reflete o compromisso da empresa com a transparência”, disse a empresa num comunicado enviado ao The Huffington Post.
O comunicado reconhece que “há um risco maior de suicídio em pacientes pediátricos e adolescentes tratados com antidepressivos como a paroxetina” e afirma que o fato é “amplamente conhecido”.
O The New York Times observa que a nova análise representa uma mudança nos hábitos científicos, apontando para uma nova era de autoexame. O número de retratações de artigos científicos explodiu nos últimos anos, e os autores do novo estudo pedem a liberação de dados e protocolos dos testes preliminares.
Tal liberação, afirmam eles, aumentaria o rigor da evidência científica e ofereceria uma crítica isenta dos remédios receitados para as crianças.