Dra. Evelyn Vinocur
Alguns sintomas são nítidos e podem revelar que o seu filho pode ser portador deTDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Uma condição neurobiológica freqüente, acometendo ambos os sexos e todas as idades, com prevalência de 5 a 10% de crianças em idade escolar em todo o mundo.
O que há alguns anos poderia parecer rebeldia, preguiça ou falta de interesse e força de vontade, foi identificado há quase um século e hoje sabemos que se trata de um transtorno provocado por alterações no desenvolvimento de algumas áreas cerebrais.
Ao contrário do que se imaginava, o TDAH não é uma condição inocente e benigna . Em virtude do significativo impacto adverso causado ao longo da vida, em que se pese, entre outros, o sentimento de fracasso precoce relatado por grande parte de seus portadores, o TDAH é uma condição séria que exige diagnóstico precoce e tratamento correto.
Vários pacientes relatam que passaram anos sendo chamados de preguiçosos, desmiolados , sem futuro , no mundo da lua , a mil por hora , etc., tanto por conta dos problemas escolares que apresentavam como pela dificuldade que tinham em obedecer a seus pais, professores e de seguirem regras.
Em casos como esses, a vida costuma evoluir de modo disfuncional e desadaptativo, muito aquém do esperado, com o aparecimento de múltiplas seqüelas emocionais, insucessos crônicos, sob uma espiral decrescente de vida.
Como posso saber quem tem o TDAH?
O TDAH tem três grandes eixos sintomatológicos, o de desatenção, o de hiperatividade e o da impulsividade. Quem apresentar alguns dos sintomas abaixo, causando sofrimento, prejuízos e queda no rendimento diário e na qualidade de vida, pode ter o TDAH e deve ser submetido a uma avaliação médica.
Sintomas mais comuns de desatenção:
Freqüentemente: não presta atenção a detalhes, erra por descuido nos deveres escolares ou outras atividades, dificuldade em manter a atenção em tarefas ou jogos, parece não escutar o que lhe falam, não obedece a instruções passo-a-passo, não completa deveres ou tarefas, dificuldade de se organizar em trabalhos ou atividades, evita ou reluta em envolver-se em tarefas que exigem esforço mental prolongado (deveres escolares ou trabalhos de casa), perde objetos necessários para suas atividades (brinquedos, deveres escolares, lápis, livro, óculos, celular, etc.), se distrai facilmente devido a estímulos externos, esquece-se freqüentemente de suas atividades diárias, entre outros.
Sintomas mais comuns de hiperatividade e impulsividade:
Freqüentemente: mexe as mãos ou os pés ou se revira na cadeira, se levanta em sala de aula ou em outras situações nas quais o esperado é que ficasse sentado, corre ou sobe em locais inadequados (em adolescentes ou adultos, pode se limitar a uma sensação subjetiva de inquietação), dificuldade em brincar ou praticar qualquer atividade de lazer sossegadamente, está sempre muito ocupado ou age como se estivesse “elétrico”, fala em excesso, responde precipitadamente antes de ouvir a pergunta toda, dificuldade em esperar sua vez, interrompe ou se intromete na fala dos outros, entre outros.
Outros sintomas comuns:
Auto-estima baixa, sonolência diurna, pavio-curto, explosões afetivas, estado emocional pode oscilar várias vezes ao dia, prejuízo nas funções executivas (planejar, focar, decidir, realizar trabalhos e metas, etc.), dificuldade de auto-controle, de inibir comportamentos inadequados, dificuldade de gerenciamento do tempo e de se motivar para iniciar o dia e para tarefas de baixa motivação ou de recompensa tardia.
Como tratar?
O tratamento é fundamentalmente medicamentoso e o medicamento de primeira linha é o metilfenidato (padrão-ouro), que tem alto poder de eficácia e é aprovado pelo FDA e ANVISA. É realizado pelo médico, geralmente o psiquiatra especialista em saúde mental da infância e adolescência (ou o neurologista ou pediatra especializados no assunto). Pode incluir a psicoeducação, orientação e suporte a pais e educadores, feitos por psicólogo. Em alguns casos, é necessário um tratamento mais abrangente, com a intervenção de psicopedagogo e ou de fonoaudiólogo. Parcerias indesejáveis Em 2/3 dos casos, o TDAH não vem sozinho.
Outras condições psiquiátricas aparecem no curso da doença, dificultando o diagnóstico e prognóstico, como os transtornos do humor (depressão, distimia, transtorno do humor bipolar), transtornos de ansiedade (ansiedade generalizada, ansiedade de separação, medos e fobias, enurese noturna) tiques, Síndrome de Tourette, transtorno obsessivo compulsivo, transtornos de aprendizagem (dislexia, discalculia, disortografia), transtorno opositivo desafiador, transtorno de conduta, abuso de álcool e ou drogas.
Essas parcerias, chamadas de comorbidades, precisam ser tratadas em paralelo ao tratamento do TDAH. No mundo inteiro, existem associações altamente respeitadas com o objetivo de estudar e divulgar o TDAH. No Brasil, temos a ABDA – Associação Brasileira de Déficit de Atenção, com sede no Rio de Janeiro.
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