Mais ou menos 104 Km, em linha reta. E, cerca de 120 Km, pelas estradas. Essa é a distância entre Recife e João Pessoa. Uma das menores distâncias entre capitais brasileiras. Se não me engano a menor (informação a confirmar). Em menos de duas horas, é possível fazer esse trajeto. Uma viagem relativamente rápida, em que se pode conhecer essas belíssimas cidades.
Mas, imaginem que nesse percurso, todas as residências fossem da cor branca. E todos os veículos trafegando na estrada, fossem vermelhos. Todas as árvores, pinheiros. Todas as pessoas estivessem vestidas com roupas do mesmo modelo e da mesma cor. Calça e blusa, cinzas, por exemplo. E os únicos animais avistados, fossem cavalos. E todas as placas de trânsito, sinalizassem que a velocidade máxima, fosse de 60 Km/h.
Só de pensar começo a imaginar o quão cansativo – ao invés de relaxante – esse percurso seria. Acho que não aguentaria chegar nem a metade desse caminho, sem que o tédio me abatesse profundamente.
Para nossa sorte – e sanidade mental, talvez – essa viagem, só existe na minha imaginação – e agora, na de vocês, queridos leitores. Não há árvores iguais, carros da mesma cor, pessoas trajando as mesmas roupas. Tão pouco, há apenas um tipo de animal…….nada disso. O que vemos entre essas duas capitais, ou em qualquer trajeto que já fizemos ou venhamos a fazer na vida, é diversidade. Em todos os aspectos.
Ufa! Que bom!
Agora, imagine que essa estrada, onde a diversidade é escassa, fosse a nossa vida. E nessa vida, todos gostassem apenas de uma cor, de um tipo de carro, de um mesmo estilo musical, de uma mesma comida, de um mesmo perfume. Se todos tivessem uma altura padrão, a mesma ideologia política, a mesma religião……imaginou? Então, como você acha que seria essa vida? Como seria habitar esse mundo padronizado?
Pessoalmente, penso que enlouqueceria tão rápido, que jamais teria atingido minha vida adulta. E, se tivesse conseguido essa proeza, estaria irremediável e completamente insana.
Ao contrário do que alguns podem supor, viver com pessoas diferentes, viver com diferenças, viver com a diversidade, nos permite viver melhor. Talvez nos permita, sobretudo, viver.
As diferenças, a despeito da dificuldade que temos em entendê-las e conviver com elas, em certas ocasiões – pode nos ajudar a manter o convívio social e, uma certa dose de sanidade mental – ainda que essa observação possa vir a soar estranho para alguns. Pois, são elas – as diferenças – que, de certa maneira, não nos deixam mergulhar no tédio absoluto do igual. Do padrão irrestrito. Da mesmice absoluta. Do ‘tudo igual’.
E aos nos impedir de habitar esse lugar do ‘tudo igual’, o diferente, nos proporciona um certo, equilíbrio. Equilíbrio esse, que muitos de nós, nem percebe que existe.
É obvio que, para se manter uma relação – de qualquer tipo – é necessário ter afinidades. Não estou querendo negar esse fato. O que estou querendo trazer à baila, é a perspectiva de que o diferente não é necessariamente ruim. E que não devemos obrigatoriamente – resguardados os casos em que a diferença do outro, nos impede de exercer nossos direitos, ou coisa do gênero – nos sentir ofendidos por ele.
Querer que os outros pensem e ajam exatamente como nós, é de certa maneira, ignorar essa espécie de equilíbrio – muito tênue e quase imperceptível – e buscar uma padronização de comportamentos que seria insuportável.
Sim, as diferenças podem ser um bálsamo para a nossa existência.
Então, da próxima vez que nos depararmos com algo diferente daquilo que julgamos correto, e antes de refutá-lo veementemente como muitas vezes fazemos, que tal pensar um pouco melhor sobre essa questão? Porque como disse o maravilhoso, Nelson Mandela:
“As nossas diferenças são a nossa força enquanto espécie e enquanto comunidade mundial.”
Ps.: Minha área de formação, não é a área de saúde. Então, quando falo em sanidade mental, falo apenas como observadora do comportamento humano. Não tenho intenção – nem poderia ser diferente – de dar diagnóstico sobre o assunto.
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