Por Jackeline Barros
Uma vez ouvi (ou li, não lembro ao certo) que para se conhecer verdadeiramente uma pessoa, é necessário que se conviva com ela tempo suficiente para se consumir um quilo de sal.
Achei essa afirmativa muito interessante. E desde então, ela fincou morada em minha memória.
No meu primeiro dia de faculdade, sentei ao lado de uma moça loira e muito bem vestida. Ou melhor, ela sentou-se ao meu lado, visto que eu já havia chegado e aguardava o início da aula. Logo, ela sacou um talão de cheques (o que era um sinal de status na época) de sua bolsa de marca e começou a rabiscar ou ver algo nele. Rapidamente pensei: “que mulher exibida. Só pra mostrar que tem cheques.” Meses depois, a mocinha loira, entre tantos outros alunos da turma, tornou-se minha melhor amiga. Hoje, 22 anos depois, nossa amizade continua firme e forte.
Muitos de nós já vivemos situações semelhantes. Para mais ou para menos, já erramos na dose quando o assunto é o julgamento alheio. Para mais ou para menos, já julgamos de forma antecipada e precipitada, para depois nos arrependermos do resultado. Na escola, numa mesa de bar, ao ser apresentado ao amigo de um amigo, no trabalho… em diversas situações da nossa vida já caímos na armadilha da análise alheia apressada. E, se isso não aconteceu diretamente com você, muito provavelmente aconteceu com alguém próximo.
As perguntas que valem um milhão de dólares não são aquelas que dizem respeito aos outros – se ele é um chato ou não, se é simpático, boa gente, arrogante, tímido, a melhor ou a pior pessoa do mundo – mas fundamentalmente são aquelas que dizem respeito a nós: por que temos essa pressa em conceituar os outros? De onde vem essa urgência? Quem instituiu que assim deveria ser? Por que a minha opinião a respeito das outras pessoas precisa ser formulada em poucas horas? Por que não analisar, ponderar, esperar?
Parece que há um medidor implacável em nossa mente, nos dizendo que temos a obrigação de dar um veredito imediato sobre o outro. É como se houvesse uma disputa: quem definir primeiro a outra pessoa, recebe um prêmio. Não há esse medidor. Não há prêmio algum nos aguardando.
É como se tivéssemos também, além do medidor e da disputa imaginários, uma bola de cristal e uma espada, prontas para serem usadas a qualquer momento. A primeira é usada no julgamento. A outra para a sentença sumária. E nessas “inquisições” apressadas, esquecemos que é necessário tempo para se conhecer o outro – minimamente pelo menos – e só aí formar uma opinião sobre ele. É necessário “o tempo do sal”.
E durante esse “tempo”, podem acontecer inúmeros fatos que nos levem a um aprofundamento dessa relação ou, muito pelo contrário, nos levem ao afastamento do outro.
É isso aí, nos enganamos o tempo todo a respeito dos outros. E esses enganos são motivados por nosso hábito – pouco saudável – de julgar e sentenciar as pessoas no primeiro encontro (às vezes, no primeiro olhar). E pior, nem sempre estes enganos nos trazem o aprendizado que deveriam.
Então, o bom mesmo é não julgar sumária e antecipadamente. Nada de, no primeiro encontro, sentenciar o outro com nossa análise rápida e rasteira. Nada de, numa primeira conversa, dizer de forma enfática – como fazemos algumas vezes – fulano é isso ou aquilo. Também, e não menos importante, nada de idealizações exageradas sobre o outro que mal acabamos de conhecer. Nada de projeções exageradamente positivas. Nada de pressa. Vamos usando o “tempero” na medida certa, e assim ele vai dando gosto e sentido às nossas vidas.
Então, o mais prudente é esperar e aprender com “o tempo do sal”.
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