Por Sílvia Marques
O filme Atração fatal é um cult dos anos 1980 , estrelado por Michael Douglas, Gleen Close e Anne Archer. A trama começa de forma bem banal e triste: um homem bem casado com uma mulher gentil, compreensiva e atraente, pai de uma engraçadinha menina de cinco anos , aproveita uma breve viagem da família para viver um caso relâmpago com uma mulher sexy e inteligente, que demonstra ser descomplicada.
O filme apresenta cenas quentes e a química sexual entre os personagens protagonistas é visível e magnética. Porém, quando a esposa volta de viagem e Dan, o personagem de Michael Douglas, espera regressar tranquilamente e ileso à sua rotina, descobrimos juntamente com ele, que Alex, interpretada por Gleen Close, não era tão descomplicada assim e que ela queria muito mais do que algumas transas ardentes.
Ela queria viver um relacionamento sério, para valer. Ela queria se casar , ter filhos, constituir uma família. E para ela pouco importava que Dan já tenha uma. Empreende uma feroz perseguição para conseguir o que deseja: o que ela considera o amor.
Num primeiro momento, podemos pensar que Alex é uma personagem psicopata pois é capaz de cometer atos hediondos, incluindo homicídio. Porém, Alex não é desprovida de emoções ou capacidade empática. Ela não comete as suas atrocidades friamente. Ela faz sofrer , mas ela sofre também. Imensamente. Profundamente.
Alex , provavelmente, sofre do transtorno de personalidade Borderline. Esta síndrome apresenta o mecanismo oposto à psicopatia. Psicopatas têm baixa ação no cérebro límbico, acarretando numa total falta de compaixão pelas outras pessoas. Já no transtorno de personalidade Borderline , a ação do cérebro límbico é fortíssima, fazendo com que todas as emoções explodam à flor da pele. Tudo é sentido com extrema intensidade , gerando muitos conflitos e sofrimento, pois como o próprio nome da síndrome afirma , a pessoa vive no limite. Limite das emoções. Quando a síndrome começou a ser estudada , consideravam que ela ficava no limite da neurose com a psicose. Me parece que o transtorno de personalidade Borderline está mais para psicose. Inclusive , é um transtorno que se confunde , às vezes, com a bipolaridade. Porém, não devemos confundir pessoas mais emotivas e sensíveis com portadores desta síndrome.
Os Borderlime oscilam de humor bruscamente , de forma bastante evidente e chocante. É um transtorno bem mais comum nas mulheres. Cerca de 75% dos casos são do sexo feminino. Muitos Borderline tentam o suicídio. Diferentemente da psicopatia pode ser tratada, pois o Borderline sofre muito e apenas quem sofre procura ajuda profissional. A pessoa não deixará de ser Borderline, mas com a associação de medicamentos e terapia pode conquistar uma boa qualidade de vida.
São traços marcantes desta síndrome a baixa autoestima e a extrema dependência afetiva. Borderlines morrem de medo de serem abandonados e são capazes de grandes humilhações e sacrifícios para manterem laços afetivos. É relativamente comum mulheres Border se envolverem com homens psicopatas. Os psicopatas sabem tirar proveito da fragilidade das Borderline.
Outros dois bons exemplos de personagens Borderline são Sussana, de Garota interrompida, interpretada por Winona Ryder e a personagem Bianca , vivida por Letícia Sabatella , na série brasileira Sessão de terapia , dirigida por Selton Mello.
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS
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