A internação em uma unidade de terapia intensiva afasta o indivíduo de tudo o que o identifica: tira-o de suas atividades, de sua família, de suas vestes, seus pertences, deixando o paciente restrito ao leito, que é constantemente manipulado em razão da intensidade de cuidados, onde poderá estar exposto a ruídos, odores e privação ao sono, motivando repercussões emocionais, tais como: insegurança, sensação de ruptura e, em alguns casos, sentimento de abandono, medo de depender de outras pessoas, da limitação e principalmente medo da morte.
As angústias, até então evitadas, poderão se manifestar através de alterações de humor, sentimentos confusos de vulnerabilidade e de preocupação com seus familiares que ficaram em casa. Esses sentimentos, somados ao impacto das mudanças orgânicas e a interpretação individual dada à doença e a seu tratamento, podem facilitar ou prejudicar a reabilitação psicossocial. A internação de um membro da família causa sentimentos de ansiedade e de estresse que exigem a mobilização de múltiplos recursos internos dos envolvidos no enfrentamento da crise, que em algumas ocasiões, podendo ser evolutiva ou traumática, trazendo mudanças constantes no núcleo familiar, desestabilizando e, com o tempo, reorganizando as funções familiares.
A atuação do psicológico com paciente internado na UTI tem como principal objetivo identificar características de funcionamento psíquico normal ou patológico nas condições de uma patologia e quais as intervenções pertinentes a qualquer uma destas condições. A condição crítica do paciente exige que o psicólogo leve em consideração os aspectos clínicos de cada caso de forma bastante criteriosa, pois só assim será possível separar quadros psíquicos de quadro orgânicos e definir condutas. Para atuar é necessário conhecer bem os fundamentos da psicologia do desenvolvimento, do processo psíquico envolvido no adoecer, da psicopatologia, do processo de morte e das intervenções.
Além dos conhecimentos específicos, de preparo teórico, técnico e prático é preciso ter flexibilidade, pois mesmo as rotinas mais rígidas não impedem imprevistos e situações aparentemente tranquilas, que podem rapidamente transformar-se em situações de crise. É necessário ter conhecimento, capacidade de decidir e agir sob tensão e motivação para executar novas intervenções para atender as necessidades.
Cada atendimento deve ter começo, meio e fim, podendo ser necessárias intervenções pontuais e eficazes com máximo de acerto, pois, por vários motivos, o paciente pode não estar lá no dia seguinte. O psicólogo deve trabalhar em proveito do favorecimento das relações humanas, auxiliando a equipe a ter uma visão global do paciente como pessoa. As intervenções psicológicas durante a permanência no Centro de Unidade Intensiva tem como objetivo criar condições para que o paciente ou seus familiares possam mobilizar recursos internos e externos a fim de favorecer a elaboração da situação de crise. As situações favoráveis ao bem–estar emocional que beneficia o paciente são responsabilidade de todos os profissionais que lhe prestam atenção e cuidado, bem como de seus familiares. Entretanto, cabe ao psicólogo tentar promover especificamente o equilíbrio psíquico do paciente/familiares.
Para compreender tal tarefa, o psicólogo deve estar preparado teórica e tecnicamente conhecendo os fundamentos de seu trabalho, buscando aprimorar suas intervenções e aprofundar seus conhecimentos interessando-se também pelas áreas afins. É necessário desenvolver características pessoais para agir sob estresse e intervir em situações de crise em benefício dos pacientes beneficiando-se da experiência, conceituando seu papel, estabelecendo limites, demonstrando a eficácia de suas intervenções a cooperação com o tratamento e facilitando o diálogo, criando assim, situações favoráveis ao desenvolvimento do seu trabalho.
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