PSICOLOGIA DO ESPORTE

Ausência de psicólogo pode atrapalhar a Seleção masculina em um momento tão delicado?

Por Tauan Ambrosio

 

Estreia da Seleção Brasileira masculina na Olimpíada. A ansiedade é normal, já esperada. O jogo contra a África do Sul estava no minuto 68, placar zerado. Luan, que entrara no segundo tempo, deu passe açucarado para Gabriel Jesus. O ídolo palmeirense, negociado com o Manchester City por R$ 124 milhões, deu um passo a mais e acabou perdendo uma chance incrível.

A bola bateu na trave, e a estreia não teve gols. Abalado pela chance desperdiçada, Gabriel Jesus chegou a dizer que não conseguiria dormir de noite por causa do lance. Logo foi defendido pelos companheiros de time. Espírito de equipe.

Só que na segunda rodada, contra o Iraque, o placar também ficou inalterado. A Seleção saiu sob vaias, Neymar voltou a jogar mal e o Brasil terá uma verdadeira decisão contra a Dinamarca na quarta-feira (10).

A pressão e ansiedade, que poderiam ser exorcizadas na estreia, acumulou. Uma surpresa, levando em conta o excelente nível técnico dos jogadores e o bom trabalho feito pelo técnico Rogério Micale. E a capacidade para lidar com o jogo mental começa a ser mais exigida.

Durante o período de preparação para a Olimpíada, na Granja Comary, os jornalistas se impressionaram positivamente com muitas coisas. A falta de um psicólogo no grupo foi talvez a única exceção. Questionado sobre o assunto no primeiro dia de entrevistas coletivas em Teresópolis, o coordenador da base, Erasmo Damiani, explicou o motivo da ausência.

“Não temos psicólogo porque é período curto, a competição em si é uma motivação, daremos essa sustentação aos jogadores (…) não podemos colocar toda pressão em cima da não conquista dessa medalha. A cada passo nós veremos dentro do grupo a situação, cabe a nós que comandamos passar tranquilidade aos atletas, a cobrança é inevitável. Nós temos que dar sustentação, se tivermos êxito passa a ser muito importante, mas não é obrigação da conquista”, disse.

Especialista em psicologia do esporte, João Ricardo Cozac discorda e critica a falta de um profissional especializado na comissão técnica: “Seria muito importante um trabalho psicológico na equipe olímpica. Por conta da pressão e da expectativa, enormes durante o torneio”, afirmou para a Goal Brasil .

“A comissão técnica disse que, por ser um torneio de tiro curto, não exigiria um trabalho psicológico. Eu penso o contrário. Existe uma tensão maior ainda do que o normal, porque o único título que falta ao futebol da Seleção Brasileira é o ouro olímpico. Então isso também gera uma tensão maior, pode elevar a ansiedade dos atletas. E quando um atleta, em geral, tem uma ansiedade muito elevada, os fatores de concentração, raciocínio, tomada de decisão e fatores psicológicos como um todo podem ser abalados negativamente”.

Cozac, que é presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte, disse que o trabalho teria que ser de longo prazo, presente a cada convocação olímpica. Mas lamenta o que ele considera um “preconceito e desinformação” em relação ao trabalho dos psicólogos no esporte. No futebol, ainda, isso seria até maior.

“O futebol é um continente à parte no universo esportivo brasileiro, porque tem uma resistência muito grande à renovação. E a psicologia do esporte representa uma renovação para o futebol brasileiro. Renovação essa que já é uma realidade, há muitos anos, em vários países da Europa, Estados Unidos e outros lugares. No Brasil ainda existe muito preconceito e desinformação, diante dos benefícios fundamentais dessa área da preparação esportiva”, lembrou. “A gente sabe que a parte psicológica exerce, muitas vezes, um papel determinante no rendimento e no resultado de uma competição”.

Os atletas do Brasil são, apesar da pouca idade, experientes. Estrelas em seus clubes. Neymar, astro da companhia, está mais do que acostumado à pressão. Na Copa do Mundo de 2014, por exemplo, mostrou maturidade impressionante até ser cortado após lesão na coluna nas quartas de final contra a Colômbia. Já fez gols decisivos nos maiores torneios do mundo.

Entretanto, todos são humanos – sujeitos a dúvidas e inseguranças normais a qualquer pessoa de qualquer parte do planeta. Contra a Dinamarca, às 22h, eles podem entrar em campo sem tanta segurança emocional. A ausência de um profissional especializado pode cobrar a sua conta. Ou o debate pode se esvair caso o barbante estufe para o Brasil logo no início, mas em esportes de alto rendimento é sempre bom deixar o planejamento absolutamente completo.

O jeito, agora, é esperar e ver o que acontece.

TEXTO ORIGINAL DE GOAL

Psicologias do Brasil

Informações e dicas sobre Psicologia nos seus vários campos de atuação.

Share
Published by
Psicologias do Brasil

Recent Posts

Para a psicologia, o que significa ter muitas roupas que você não usa?

Por que temos tanta dificuldade em nos livrar de roupas que não usamos? Segundo especialistas,…

19 horas ago

Mãe recorre à Justiça para deixar de sustentar filha de 22 anos que não estuda e nem trabalha

Segundo a mãe, a ação judicial foi a única forma de estimular a filha a…

21 horas ago

Obra-prima da animação que venceu o Oscar está na Netflix e você precisa assistir

Uma pequena joia do cinema que encanta os olhos e aquece os corações.

2 dias ago

O filme da Netflix que arranca lágrimas e suspiros e te faz ter fé na humanidade

Uma história emocionante sobre família, sobrevivência e os laços inesperados que podem transformar vidas.

2 dias ago

Dicas para controlar os gastos e economizar nas compras

Você ama comprar roupas, mas precisa ter um controle melhor sobre as suas aquisições? Veja…

3 dias ago

Minissérie lindíssima da Netflix com episódios de 30 minutos vai te marcar para sempre

Qualquer um que tenha visto esta minissérie profundamente tocante da Netflix vai concordar que esta…

3 dias ago