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Automutilação/Cutting: Ferir o corpo para aquietar a mente.

Comportamento mais comum em sujeitos adolescentes, a automutilação, também denominada de self cutting (“cortando a si mesmo”) consiste em cortes intencionais que o sujeito faz em sua própria pele, no intuito de ferir-se, deixando uma cicatriz no corpo (os braços são o local mais comum).

Existem outras formas de automutilação, tais como: arranhões, queimaduras, mordidas, etc. mas vamos falar especificamente do ato de cortar-se.

O comportamento de cortar-se ocorre, geralmente, em um momento em que o sujeito vivencia uma experiência emocional muito angustiante e não consegue verbalizar sua dor, transferindo sua sobrecarga emocional para o corpo, ou seja, para buscar alívio de uma dor psíquica, esta é convertida em dor física.

Podemos pensar que o corpo é um instrumento que nos permite estar no mundo e expressar a nossa subjetividade. A imagem corporal pode transmitir a nós mesmos e aos outros uma mensagem de sucesso ou de fracasso, dependendo da relação que estabelecemos com nosso corpo.

Em Psicanálise dizemos que existem duas pulsões básicas que impelem o sujeito a agir: a) uma pulsão de vida: com o objetivo de preservação e de ligação afetiva aos outros; b) uma pulsão de morte: no sentido de buscar o desligamento das coisas e das pessoas em um processo de rompimento.

Para uma vida emocional saudável estas pulsões devem estar em harmonia e equilíbrio.

Embora pareça incompreensível em um primeiro momento, na automutilação estão presentes estas duas pulsões (de vida e de morte). Ao ser incapaz de conter o excesso de angústia o psiquismo transborda para o corpo, sendo que o sujeito sacrifica uma parte de seu corpo no intuito de proteger-se da dor e descarregar os afetos que o ameaçam.
Submete-se a um sofrimento para livra-se de outro sofrimento.

No entanto, trata-se de um ato lesivo que pode tornar-se uma compulsão, repetindo-se frequentemente, aumentando em sua gravidade e nos riscos que pode provocar (inflamação, amputação, risco de suicídio).

Podemos pensar que no comportamento de automutilação está presente o sentimento de culpa e o desejo (inconsciente) de autopunição.

Assim, a agressividade dirigida a si mesmo pode ser uma defesa contra a agressividade dirigida ao exterior. Os sofrimentos que tornam-se difíceis de serem nomeados, simbolizados e expressos em palavras e o desejo de atacar o outro podem se tornar um auto ataque.

Para ajudar o paciente que pratica automutilação é necessário, como em todo sintoma, investigar sua dinâmica psíquica, suas relações afetivas, seus vínculos parentais e as pressões emocionais a que o sujeito está submetido.

A automutilação pode estar relacionada, ainda, a outros transtornos psicológicos (depressão, ansiedade, obsessão, etc.)

O trabalho do psicólogo consiste em auxiliar o sujeito a falar de seus sentimentos, a se posicionar diante do outro, a identificar suas potencialidades e a resgatar sua autoestima.

Quanto antes for procurada ajuda psicológica para casos como estes, maiores são as chances de progressos.

Audrey Vanessa Barbosa

Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).

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