Por Eduarda Renaux

Bob-Esponja e o infantil no adulto

O desenho Bob-Esponja Calça Quadrada é um programa que “vingou” nessa geração. E se deu certo é porque a história dá algum suporte, mesmo que imaginário, a algo do nosso modo de viver. Não é incomum que adolescentes e adultos gostem da Esponja e até exibam adesivos do desenho em suas mochilas, janelas e cadernos. Os “memes” também são muito presentes utilizando os personagens como apoio, e até, nas telas do cinema ele apareceu. Minha hipótese é que o tamanho sucesso é que Bob-esponja é uma metáfora do infantil.

Aqui se faz importante situar que infantil e infância não são sinônimos. Embora o infantil comece na infância, ele não fica por lá. E essa carismática Esponja pode nos ajudar a entender como isso funciona.

Bob-Esponja trabalha numa lanchonete cujo o dono, o Siri Cascudo é o símbolo do capitalismo. A ambição incalculável do caranguejo faz alusão a prevalência dos objetos e marcas sobre as relações humanas, algo bem contemporâneo. Mas Bob parece levar numa boa, pois isso que é o brincar na infância, brincar de ser adulto e lidar com isso.

Bob trabalha com um molusco que retrata o adulto frustrado, mal-humorado, obediente por opção, submisso, cuja os ideais da infância que tanto lhe deram trabalho para recalcar, a esponja faz questão de revelar. E por isso a convivência é “mal-dita”. E como o adulto sempre esta ás voltas com o infantil, não por acaso, eles são vizinhos de casa!!

Aqui a primeira metáfora do infantil – não conseguimos separar a vida pessoal da profissional. Pois somos quem somos e nosso infantil vai conosco para onde quer que vamos. O que podemos fazer é trabalha-lo em nós e faze-lo ser menos barulhento, ou seja, menos sintomático.

Essa é outra característica da esponja: ela é muito barulhenta, não passa despercebida. Assim como o infantil em nós. É barulhenta porque tudo absorve e cria uma teoria “extraordinariamente imaginativa” para dar conta do que não compreende. A esponja no mar é como o humano na terra, respira a cultura, esta imersa e inundada pela linguagem. Vale reparar que a esponja retratada no desenho é a esponja tal como conhecemos – a de cozinha. Diferente de todos os outros personagens que são mais fieis aos animais marinhos. E não é por acaso, pois a esponja alude aquele objeto que tudo absorve, excessivamente inflada por aquilo que a rodeia.

Lançados nessa linguagem simbólica, onde não somos mais movidos pelo instinto animal, mas pela nossa história e civilização, a Esponja vem revelar esse desamparo não morando com os pais. Eles até existem, mas poucas vezes dão “as caras” ao universo da pequenina esponja.

O infantil é se deparar com esse constante desaparecimento e aparecimento dos pais, que quando aparecem, surgem para tirar satisfações sobre as escolhas feitas. Os pais do Bob, são os pais da demanda, os pais do infantil. E por isso, na clínica trabalhamos com os “pais do infantil” mesmo no adulto.

O desenho passa a sensação de uma Esponja sem identidade sexual muito bem definida.  O que certamente é o que de mais complexo se apresenta no psiquismo na infância, onde a diferença sexual e a origem dos bebês é um enigma a ser decifrado. Muitas vezes é muito conflituado para os pequenos, e para os grandes também.

Como lidam com essa diferença é o que vai dar bordas a sua personalidade. E por isso a calça quadrada e o riso são as marcas inaugurais do personagem. O infantil acha muita graça daquilo que desconhece, principalmente da diferença sexual. Crianças costumam rir do “pipi”, da falta dele, do beijo dos adultos, do cocô, dos puns, das bundas, de tudo aquilo que pode servir de base para suas curiosidades “infantis”.

Quando Bob-Esponja foi para as telas do cinema, fez jus ao que se propos. Ali a metáfora é do crescimento, como se tornar um adulto.  A trajetória foi cheia de aventuras, perigos, choques de realidade, retirando a onipotência da infância e seu mundo mágico.

Sim, Bob-esponja que mora num abacaxi e frita hambúrgueres em baixo da água foge da lógica consciente e racional. Mas esta totalmente coerente com a lógica do infantil, que é aquela que nos interessa, provoca e que persiste no adulto. Todos temos o infantil dentro de nós. Mas como fica mais leve quando damos um formato a ele: até podemos tentar enquadrá-lo, porém é acima de tudo maleável e poroso, e por isso, passível de transformação.

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