POR ANA PAULA PEIXER
Eu havia assistido o filme “Garota Interrompida” há uns 13 anos, foi a primeira vez que eu havia ouvido falar do Transtorno Borderline.
É um transtorno de personalidade. Diferente do “transtorno de humor”, não tem “cura”, são características que precisam de ajuda do psicoterapeuta, e muitas vezes de ajuda medicamentosa, indicação do psiquiatra.
Enfim, quando ouvi falar, jamais imaginei que poderia me deparar com esta característica em minha própria vida. Olhá-la no espelho todos os dias.
Mas não é fácil o diagnóstico de um transtorno como esse. Pode levar anos, e o meu levou mesmo.
Desde criança sentia uma sensibilidade extrema. Sentimentos de inadequação, sentia muita dor emocional, percebia que eu era muito diferente dos meus amigos de escola, observava e questionava coisas da vida, muito antes das pessoas ao meu redor.
O tempo foi passando, e este sentimento de inadequação só aumentava.
75% dos Borderlines sofreram abusos ou abandono na infância.
Borderlines podem chegar a perceber até 4 vezes mais rápido expressões faciais.
São dotados de grande sensibilidade e sentem profunda dor emocional.
Têm um problema sério com medo de abandono ou rejeição, por isso, muitas vezes fazem qualquer coisa pra serem aceitos e amados, podem até se colocar em risco por isso.
O medo do abandono os faz ter muita dificuldade com vínculos afetivos.
Sentem-se atraídos por pessoas de má índole ou sociopatas, pois muitos cresceram em famílias doentes e disfuncionais, o que os faz acreditar que merecem permanecer no padrão de rejeição e maus tratos, assim, tornam-se vitimas de si mesmos.
E assim, depois de 15 anos de terapia, depois de muitos traumas familiares, em relacionamentos, na vida e na carreira, uma depressão aterradora me conduziu ao psiquiatra, e em contato com as medicações e a busca pelo melhor prognóstico, descobri, tenho o transtorno.
Não se é o transtorno, somos quem somos, apenas com funcionamento cerebral diferente, uns dos outros; mas meu caráter, meus valores, meus talentos e minha capacidade de amar e receber amor não podem e não devem ser retalhadas pelo transtorno.
O avanço da ciência e da medicina, as novas medicações, o movimento anti-manicomial trouxe muita luz e liberdade para pessoas com transtornos de personalidade.
Hoje não há mais necessidade de internação para casos onde a medicação permite que a pessoa tenha uma vida normal.
Costumo dizer que é como um carro, sem óleo ou sem gasolina não funciona.
Da mesma forma o cérebro precisa de química específica para funcionar bem, e as medicações fazem isso.
Hoje tomo um antidepressivo (dual), que é ansiolítico também, e um estabilizador de humor, e posso dizer que vivo em paz. Meu cérebro está menos ansioso e minha mente parou de girar e girar sem parar. A terapia me ajudou a ter autoconhecimento e percebo minhas próprias paranóias, assim me permito acreditar um pouco na vida e nas pessoas, nas relações.
Ainda tenho muito pra trilhar neste caminho de autoconhecimento e autoaceitação, aceitação do amor, do que é bom, do que faz bem, mas pelo menos dei o primeiro passo.
Tenho uma preocupação em ajudar outras pessoas que precisam de orientação e tratamento eficaz, a qualidade de vida delas depende disso.
Que este texto possa ajudar alguém, em algum lugar.
Fonte indicada: Obvious
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