Definido por distúrbios na área afetiva, cognitiva e comportamental, sendo caracterizado por oscilações de humor, irritabilidade, acessos de raiva, medo do abandono, incerteza sobre si mesmo(a), seus valores e projetos de vida, dificuldade em tomar e manter decisões, comportamento de manipulação, intolerância às frustrações, bem como condutas autodestrutivas, são algumas das características que acometem uma pessoa que sofre de Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), mais conhecido como Transtorno Borderline.
De um céu tempestuoso a um céu ensolarado, para quem sofre deste transtorno, a vida é uma verdadeira montanha-russa emocional, cheia de altos e baixos, de momentos de pico e depressão, na maioria das vezes em um breve espaço de tempo.
O termo Borderline significa “estar na borda”, na linha de fronteira, em uma condição limítrofe entre a neurose e a psicose. Acomete aproximadamente 3% da população mundial, sendo na maioria mulheres no final da adolescência e início da idade adulta, sendo a proporção de 7 mulheres para 3 homens diagnosticados com Transtorno Borderline.
As causas são multifatoriais, abrangendo desde predisposição genética, alterações no funcionamento cerebral, fatores ambientais, bem como experiências traumáticas na infância traduzidas por agressões físicas, tais como maus tratos, punições físicas severas, agressões psicossociais como o bullying, abuso sexual, assim como violência psicológica, como por exemplo, vivência com pais extremamente autoritários (não permitindo que o filho expresse seus posicionamentos no processo de estruturação da sua personalidade), morte de um ente querido, relacionamento conflituoso entre pais, separação conjugal, conviver em ambiente hostil na infância. Todos estes fatores elencados aumentam consideravelmente o risco de desenvolvimento do transtorno.
Uma das características a considerar de pessoas com Transtorno Borderline é o envolvimento em situações de risco, inclusive a ponto de comprometer sua integridade física e psicológica. Quem sofre deste transtorno, apresenta comportamentos instáveis, descontrolados, imprudentes, intempestivos, impulsivos e autodestrutivos. Por este motivo, podem se envolver em jogos patológicos, abuso de substâncias tóxicas e ilegais, compulsividade alimentar, Oniomania (compulsividade por compras), Nomofobia (uso excessivo de aparelho celular, smartphone) e sexo compulsivo. Tendem a não concluir o que iniciaram, bem como destruir em um momento o que construíram durante muito tempo, seja um projeto ou um relacionamento, sendo muito difícil manter-se numa relação afetiva, num emprego ou em relações interpessoais a longo prazo, já que a forma como o Borderline funciona prejudica imensamente todas as áreas da sua vida, sendo estressante a dinâmica de desconstrução e construção contínua de relações e perdas que a pessoa pode ter em várias circunstancias e que envolvem pessoas e coisas.
Infelizmente, é muito comum auto lesões e automutilações. Sendo assim, a pessoa se corta para aliviar sua intensa dor emocional, materializando no corpo esta emergência em resolver a situação emocional conflituosa. Em momentos críticos, a ideação e tentativa de acabar com o sofrimento através do suicídio estão presentes, tendo este transtorno de personalidade um índice altíssimo de morte por suicídio.
Para que a pessoa com Transtorno Borderline tenha uma vida de qualidade é necessário que desenvolva estratégias comportamentais para lidar com o estresse e a impulsividade. A administração do estresse é fator crucial na dinâmica do tratamento. Elenquei aqui alguns fatores em que o psicólogo pode ajudar:
-Aprender a lidar com as emoções e afetividade, verificando que suas reações emocionais são desproporcionais ao evento eliciador, sendo necessário trabalhar as distorções cognitivas e as percepções distorcidas da realidade;
-Administrar o estresse e a impulsividade, levando o paciente a ter conhecimento acerca dos conteúdos geradores de ansiedade através do processo de autoconhecimento e análise ambiental;
-Trabalhar seus medos de abandono e rejeição, bem como aprender a lidar com frustrações e críticas de maneira assertiva;
-Aprender sobre os próprios limites e inadequações relacionais, respeitando o espaço do outro;
-Trabalhar comportamentos compulsivos e de risco;
-Trabalhar a autoimagem que no borderline é geralmente distorcida;
-Aprender estratégias psicossociais para relacionar-se de maneira mais equilibrada;
-Trabalhar as ideações suicidas, o porquê das auto lesões, da intensa angústia e do vazio existencial;
-Ressignificar vivências abusivas e/ou traumáticas precoces como abuso sexual, negligência, abuso psicológico e agressões físicas;
Quem sofre de Transtorno Borderline vive em uma constante luta contra o sofrimento diário diante da sintomatologia dramática que apresento a seguir:
Ideação paranóide (por exemplo, a pessoa tem certeza que alguém está falando dela, que está sendo motivo de chacota ou que alguém a está perseguindo, sabotando, fazendo complô etc., sem que haja indícios plausíveis para tal);
-Baixa autoestima;
-Dissociações (despersonalização e desrealizaçao);
-Idealização de pessoas e situações;
-Instabilidade emocional: oscilações de humor, irritabilidade, acessos de fúria e ira;
-Comportamento de manipulação;
-Intolerância às frustrações, críticas, regras e limites:
-Condutas autodestrutivas: abuso de substâncias, auto lesão, comportamento de automutilação, pensamentos e tentativas de suicídio;
-Sentimentos de inutilidade, angústia e vazio;
-Ansiedade;
-Percepção distorcida da autoimagem;
-Relacionamentos interpessoais instáveis e caóticos;
-Dependência simbiótica (principalmente em relacionamentos afetivo-conjugais);
-Medo real ou imaginário de ser abandonado ou rejeitado;
-Instabilidade dos afetos (em um momento quer, depois já não quer mais. Aquela pessoa é a melhor pessoa do mundo, um anjo que caiu do céu para lhe ajudar, depois passa a ser a pior pessoa, um monstro que veio para acabar com a sua vida e que depois muda tudo de novo em uma permanente instabilidade;
Este artigo tem função informativa e psicoeducativa, não substituindo o diagnóstico profissional. Caso se identifique com os sintomas elucidados, procure ajuda médica e psicoterapêutica.
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