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Brasil dos absurdos kafkianos

 

Franz Kafka foi um escritor de família judaica de língua alemã, nascido em Praga, atual República Tcheca, a 3 de julho de 1833, que nunca confessou o judaísmo e morto de tuberculose em 1924. Kafka viveu na mesma época de Freud, mas não se conheciam, usavam em suas obras a psicodinâmica, arte onírica e o método catártico.

Desde criança, teve conflitos com a tirania do pai, onde escreveu uma missiva sob o nome de “Carta ao Pai”, que remetia um progenitor apático à falta de afeto do filho, gerando lhe um complexo de inferioridade. O pai encarnava um juiz intratável, símbolo do autoritarismo paterno, que deu fama as obras de Kafka.

Kafka foi servidor da Cia de Seguros do seu país, onde se agoniava ao ver filas de pessoas que entregavam requerimentos que sabia jamais seriam expedidos. Na infindável disputa entre os servidores da estatal, que conspiravam contra cidadãos, Kafka deu voz aos oprimidos contra a burocracia do estado.

A genialidade de Kafka fala de um mundo absurdo, insensato e difícil de ser vivido, em que denunciou as forças políticas e econômicas opressoras. Por isso, foi um autor proibido nos países comunistas e nazistas. O século 20 deu a largas parcelas da humanidade as absurdidades descritas nas obras de Kafka, entre elas: A Metamorfose, O Processo e O Castelo, servem de anunciação da nova forma de dominação que surge no século 21, sobretudo no Brasil.

A metamorfose tem como figura teatral uma barata, bicho em que um caixeiro-viajante, se transformou após acordar de uma noite de sono. Mas não se trata de um delírio e sim de um fato social, que Gregor Samsa deixou de ser gente e agora não passa de um pobre inseto. A solução seria a sua internação no asilo de inválidos. Hoje os aposentados brasileiros podem se encontrar na mesma situação de Samsa.

O Processo mostra o desalento do indivíduo frente às instituições políticas, judiciais e religiosas corruptas, contra as quais é árduo lutar. Relata que todos sabem que é uma acusação, mas ninguém sabe do quê, todos querem a ajudar, ainda que ninguém possa fazer nada. Quem acusa, quem julga e quem condena Josef K., é o sistema como um todo. Em nosso país muitos são processados, pelo absurdo de serem pobres, mas não sabem o porquê das acusações.

O Castelo, conta história de um agrimensor que foi contratado para realizar serviços profissionais num Castelo, mas que nele nunca conseguiu entrar por causa de inúmeros obstáculos, impedindo de realizar seu trabalho. Estranhamente o avaliador, após dias, recebe uma carta insana do dono da mansão que lhe dá elogios, agradecendo o trabalho que nunca conseguiu realizar. Isso lembra os preconceitos que as domésticas sofrem ao tentar buscar empregos em condomínios de luxo.

Enfim, o Brasil está sofrendo os absurdos kafkianos produzidos pelo atual modelo econômico e político excludente, que chefiados por estatais, criam mais dificuldades para população ter acesso aos seus direitos fundamentais.

Jackson César Buonocore

Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

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