Poucas coisas terão tanta importância para o desenvolvimento de uma criança, como o acto de brincar.
Podemos ser levados a pensar que o jogo não passa de um modo de passar o tempo, mas é inequivocamente, muito mais que isso. O jogo surge-nos como a mais espontânea actividade infantil, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento das diversas facetas da personalidade.
A função do jogo é auto-educativa. É através dele que a criança cresce e evolui para a adolescência e para a maturidade.
Psicomotricidade e actividade intelectual
O brinquedo favorece o gesto, a coordenação de movimentos e o controlo. Ao jogar ao berlinde (bolinha de gude), por exemplo, as crianças tentam adquirir alguma precisão ao nível do toque, para que não percam. Esta precisão é de extrema importância para a coordenação motora.
Ao mesmo tempo, a atracção pela cor ou pela forma, a sua correcta utilização e, em alguns jogos didácticos, a possibilidade de seriação (do maior para o mais pequeno; encaixes de cores e tamanhos distintos), permite favorecer o desenvolvimento de formas de pensamento cada vez mais complexas.
A criança aprende a conhecer, armazena dados na memória e estuda a relação causa-efeito. Deste modo encontra novas estratégias para solucionar problemas e aprende a controlar emoções.
Segurança e afecto.
O brinquedo assume nesta área um significado muito forte. Movido por forças mágicas, permite um tipo de relação afectiva cujo efeito pode ser muito tranquilizador. Todos nós conhecemos crianças que dormem agarradas a bonecos de peluche porque estes lhes transmitem segurança e afecto.
Substitui-se, simbolicamente, a mãe e, deste modo, consegue-se reencontrar um equilíbrio interno. A intensidade da relação estabelecida entre as crianças e os brinquedos, pelo significado aliado à possibilidade de descarregar emoções/sentimentos, funciona muitas vezes como processo espontâneo de psicoterapia.
A criança atira o boneco ao ar, bate-lhe, arranca-lhe os cabelos, como forma de expandir uma raiva interior que seria muito nociva se continuasse a ser interiorizada. Os pais preocupam-se quando a criança está a brincar com um amiguinho e diz frases do tipo “matei-te”, “vou-te dar um tiro”, mas estes momentos são de extrema importância porque assim pode estar a arrumar internamente conflitos que existem dentro de si.
Não nos podemos esquecer nem transmitir às crianças a ideia de que o mundo que nos cerca é pleno de coisas boas. Existem fadas e príncipes mas também bruxas e madrastas.
Este é um momento em que a sua agressividade é expandida e exorciza as coisas más que existem dentro ela. Se a criança puder encarnar o lobo mau mas também o capuchinho vermelho, irá ter possibilidades de se tornar um adulto equilibrado que, perante as situações adversas saberá encontrar soluções sensatas.
Aprender regras
Ao partilhar com os outros as diversas actividades lúdicas, a ter necessidade de respeitar regras, assumir de diversos papeis por forma a conjugar os vários participantes no jogo. A criança adquire assim regras do comportamento humano e elabora o seu próprio processo de socialização.
Deste modo, percebe que existe o outro e que existem leis que é preciso respeitar para que as coisas corram bem. “Agora é a minha vez”, “ganhei e tu perdeste” “eu estou á tua frente com três pontos”, tudo isto transmite à criança a ideia de que é necessário respeitar os outros para que seja possível manter uma sã convivência.
Educar através do jogo
Também na educação, o brincar ocupa um espaço vital. As crianças pequenas, aprendem muito melhor quando associam o acto de aprender ao prazer do jogo. Se só transmitirmos a ideia, elas não vão aprender tão facilmente como se a associarmos a um jogo.
Aí o conceito vai ser imediatamente absorvido. Esta questão é fundamental, porque podem-se fazer imensos trabalhos com crianças, usando o jogo como instrumento. Por exemplo, a educação ambiental tem passado muito por programas em que o jogo tem o papel fundamental.
Ensinar as crianças a aproveitarem a sucata e com ela construírem os seus brinquedos é extremamente fácil, porque imediatamente uma rolha se transforma num extraterrestre e uma garrafa numa nave espacial.
Para ela representa isso mesmo e livra-se das limitações dos brinquedos já pontos e feitos em série. Apresentar vários materiais é estimular a imaginação. É sempre preferível os jogos de construção ou então brinquedos muito simples – bonecas de trapo, por exemplo.
As crianças perdem rapidamente o interesse por brinquedos sofisticados, uma vez que a sua utilização os esgota com rapidez.
Os bebés apreciam cores e sons
Quanto mais intimidade existe com a criança, mais os pais conseguem saber o que mais lhe agrada. A cor, textura, versatilidade e simplicidade, são factores a ter em conta na escolha do brinquedo.
Além disso, tem que se ter sempre presente a idade da criança já que se for muito pequena, irá ter tendência para levar tudo á boca e os perigos abundam em brinquedos que possuam elementos pequenos, arestas afiadas.
Se bem que as crianças já demonstrem interesse pelo jogo antes dos três anos, o facto é que é depois desta idade que tudo assume outra forma. Nos primeiro três meses, os brinquedos sonoros são os mais apreciados. O movimento, o colorido dos mobiles, a música das caixinhas, os bonecos de peluche, são os preferidos.
Jogos de faz-de-conta
Por volta dos 2 anos, surgem os jogos simbólicos. Deste modo a criança consegue realizar os seus desejos e resolver os seus conflitos por intermédio dos brinquedos. É chegada a altura de o sentar numa mantinha e deixá-lo brincar livremente.
Brinquedos simples e coloridos, favorecem a imaginação e são os mais apreciados. Jogos de encaixe, legos de peças grandes, bonecas de trapo. Por volta dos cinco anos, surge o “faz-de-conta”, a oscilação entre o mundo interior e o mundo exterior permite o assumir de papeis diferentes e o trabalhar da personalidade.
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente