No último dia (10/09) Britney Spears apareceu para seu público em um desabafo sobre sua relação com os filho s adolescentes (Jayden James Federline, de 16 anos e Sean Federline, de 14 anos e do ex-marido o Kevin Federline, pai dos meninos, com quem moram) e da sua própria relação de filha com o pai (Jamie Spears, que teve sua tutela por 13 anos).
Para Camila Capel, especialista em desenvolvimento humano e criadora do modelo de Parentalidade Essencial, na fala da cantora é perceptível o quanto papeis de mãe e filha se misturam. “É possível enxergar uma menina machucada por sensações do passado e o quanto o lugar de filha ainda é protagonista dessa história. Exatamente por isso, fica muito difícil se apropriar de seu papel de mãe desses garotos”, diz.
A especialista analisa que o que Britney escancara na mídia é a exposição de uma dinâmica comum em pais presos às suas vivências de infância e que, apesar de terem crescido, carregam um passivo emocional que os impedem de se apropriarem da educação dos filhos como figuras de referência.
Do ponto de vista da Parentalidade Essencial sobre o desenvolvimento humano, no terceiro setênio, período de quatorze aos vinte e um anos, a idade em que se encontram os filhos da cantora, o jovem vive um momento onde busca a verdade do mundo. Nesta etapa, não é suficiente o cuidador falar, os jovens precisam perceber a autenticidade do que é dito pelos pais. Se isso não acontece com essas figuras, certamente os adolescentes buscarão outras pessoas para suprirem esta necessidade. Daí ser comum ouvir relatos de rompimentos e adolescentes que recorrem a tios, avós, ídolos, religiões e figuras que representem esta coerência entre o que falam e o que fazem.
Camila explica que, do ponto de vista do desenvolvimento mais ampliado, este é um momento onde o “eu”, a individualidade, está se afirmando e como consequência, afastar-se dos pais pode tornar-se necessário para a identificação de si. Capel ressalta que esse afastar-se será mais ou menos intenso de acordo com a construção de vínculo que foi feita nos dois setênios anteriores, durante toda a infância.
Ainda sobre a adolescência, a especialista lembra que testar limites é outra tônica dessa fase. “A tendência de querer expandir limites, emancipar-se, faz parte da tempestade hormonal pela qual o adolescente passa. Portanto, contestação e confronto aos pais é um comportamento esperado nessa fase. Se o jovem não conta com limites muito definidos das figuras de autoridade, e tiver oportunidade de viver livremente, o caminho fica duplamente arriscado: sua saúde física corre riscos, pela busca do prazer, recompensa, aliada a necessidade de aceitação e pertencer a um grupo. O adolescente pode se colocar em situações com as quais ainda possivelmente não tenha maturidade para administrar ou arriscar a própria vida”.
Sob o ponto de vista do desenvolvimento adolescente, Camila Capel explica que o processo que Britney relata como “cancelamento” dos filhos em relação a ela, é algo esperado partindo de um jovem. A especialista pontua que o que torna a situação dramática é a falta do contorno e limites sobre até onde eles podem ir, de fato.
“Parece faltar a base dos pais (e não apenas da mãe) para lidar com o processo natural da construção de identidade dos filhos. O que evidencia que ambos, pai e mãe, também não contaram com esses limites na sua própria educação. Britney criticou seu pai por todo o histórico que envolve sua história e, a despeito de todas as questões e sentimentos que envolvem o tema. Quase nunca achar um culpado encerra assuntos familiares tão complexos”, diz.
A Parentalidade Essencial aponta que é preciso ir além do óbvio e do lugar de julgamento e de encontrar culpados, pois este olhar dual – certo ou errado – não nos permite observar as camadas mais profundas das relações e como podemos aprender com novelo do processo transgeracional que acontece entre pais e filhos, que não começa nos filhos de Britney, nem termina nela e em seu pai. “Somos o que fica de histórias dos nossos pais que, por sua vez, foram rastros de histórias de seu próprios pais, em uma linha progressiva que chega a centenas e milhares de tantas outras vivências. Diversas linhas da ciência comprovam que as memórias ancestrais e até mesmo a memória celular atuam sobre nossas crenças, quer tenhamos consciência ou não”.
Britney Spears alterna em suas falar os papéis de menina e mãe e parece clamar por ser vista, incluída, aceita, amada… A relação da artista com o pai aponta para o paradoxo dos limites necessários aos jovens e como o excesso deles castra sua força, não dando ao jovem a chance de emancipar-se, tornando-se eterno filho.
A especialista conclui com uma reflexão importante: “a história de Britney fala, de certa maneira, de um drama que todos vivemos, em maior ou menor escala. Nossas necessidades da infância nunca terão sido atendidas plenamente e é na relação com nossos filhos que teremos oportunidade de revisitar isso. Os desafios da parentalidade são uma chance que a vida nos traz de ressignificarmos histórias, faltas e necessidades não atendidas. Sob este ponto de vista, não somos vítimas e nossos pais não são culpados. Somos pais reproduzindo a relação parental primordial com nossos próprios filhos, mas a diferença de que não somos mais crianças e, através da consciência que desenvolvemos, temos a chance de olhar nossa biografia, acolher o que ainda sentimos falta, termos autocompaixão pela criança que já fomos e nos apropriarmos, mais fortes, dos nosso papel na educação das nossas crianças atuais. Saímos do ciclo de culpados- inocentes e podemos educar nossos filhos com a verdade que eles esperam de nós enquanto educadores e criamos a possibilidade de reescrever o futuro”, finaliza.
Camila Capel é idealizadora do modelo de Parentalidade Essencial, uma visão científico-espiritual do ser humano.
Tem uma formação multidisciplinar em áreas como Parentalidade; Treinamento de Habilidades Parentais; Capacidade Analítica; Inteligência Emocional; Escuta Terapêutica; Educação de Pais e Autoeducação.
É instrutora de Mindfulness and Compassion, especialista em CBT – Terapia Cognitivo Comportamental, Psych-k, Programação Neurolinguística, e técnicas de comunicação e mediação transformativa.
Sua visão sistêmica sobre “ser humano” é base para sua atuação como escritora, com o objetivo de compartilhar aprendizados e experiências para inspirar pessoas a trilharem o caminho do autoconhecimento, para uma vida mais plena.
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