COMPORTAMENTO

Cada vez que o coração se quebra, a gente morre um pouco

Como dói, como machuca passar por situações de tristeza, desânimo, quando perdemos alguém, quando recebemos o que jamais esperávamos de quem menos deveria, quando o amor acaba, fere, diminui. O ar sufoca, a gente não tem para onde ir, nada parece importar e, aqui dentro, nada pulsa, nada nos dá luz.

Pode vir quem quiser tentar nos consolar, que nenhuma palavra conseguirá acalmar o nosso coração, porque, ali, naquele momento de escuridão, não enxergamos saída alguma, não concebemos futuro possível a partir daquele tombo. E são tantas lágrimas, que a gente não consegue ver quem está à frente, que dirá alguma coisa que se encontra lá longe, num futuro ao qual fugimos, sem forças.

Desespero, somente isso e nada mais. Desespero que corre nas veias, retirando-nos quaisquer resquícios de fé, de esperança, de meta, de crença num amanhã menos dolorido. Na verdade, a gente não está preparado para enfrentar certas tempestades, simplesmente porque existem vendavais que sugam por completo o que nos é mais caro, o que nos traz alegria, quem sempre foi nosso porto-seguro.

Seja uma decepção amorosa, a morte de um animal de estimação ou de alguém que amamos, seja o desemprego, uma traição, até mesmo perdas materiais, a verdade é que a dor vem e se instala, de pronto, reinando soberana, minguando os mais recônditos espaços em que haja sonhos dentro de nós. E cada segundo então se arrasta, enquanto lamentamos e nos arrependemos, como se fôssemos os únicos culpados por tudo aquilo.

Entretanto, muito do que nos acontece não é culpa nossa. Não vivemos sozinhos, mas rodeados de pessoas, muitas delas capazes de nos ferir sem razão lógica. Da mesma forma, imprevistos e acidentes acontecem, o inesperado sempre está à espreita e não adianta tentarmos encontrar culpados ou razões; certas dores vêm para aniquilar mesmo, sem mais nem por quê. E, nesses momentos, como irrita aquela história de que sofrer fortalece, puxa vida. Em meio à dor, quem quer ouvir isso? Quem sequer pensa nisso?

Uma coisa é certa: as pessoas sobrevivem às mais improváveis escuridões, sim, as pessoas continuam – pessoas são incríveis! Continuam, reerguem-se, caminham, aos poucos, trôpegas, alquebradas, mas indo. Entretanto, ali já não seremos a mesma pessoa de outrora, ali não aceitaremos mais qualquer um, qualquer coisa. Ali seremos um eu que sobreviveu ao fundo do poço e voltou.

Mais – ou menos – felizes, mais – ou menos – fortes, inteiros ou despedaçados, a gente vai ficando mais seletivo em relação às coisas e às pessoas, porque então saberemos que, quanto mais amarmos, mais estaremos sujeitos à dor das perdas. Mesmo assim, continuaremos amando, porque é assim que a gente renasce, com fé e esperança.

Imagem de capa: Mark Nazh/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Recent Posts

Veja esta série na Netflix e ela não sairá mais da sua mente

Esta série que acumula mais de 30 indicações em premiações como Emmy e Globo de…

2 dias ago

Filme premiado em Cannes que fez público deixar as salas de cinema aos prantos estreia na Netflix

Vencedor do Grande Prêmio na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024 e um…

2 dias ago

Série ousada e provocante da Netflix vai te viciar um pouco mais a cada episódio

É impossível resistir aos encantos dessa série quentíssima que não pára de atrair novos espectadores…

3 dias ago

Influenciadora com doença rara que se tornou símbolo de resistência falece aos 19 anos

A influenciadora digital Beandri Booysen, conhecida por sua coragem e dedicação à conscientização sobre a…

3 dias ago

Tatá precisou de auxílio médico e passou noites sem dormir após acusação de assédio, diz colunista

"Ela ficou apavorada e disse que a dor de ser acusada injustamente é algo inimaginável",…

4 dias ago

Suspense psicológico fenomenal que acaba de estrear na Netflix vai “explodir sua mente”

Será que você é capaz de montar o complexo quebra-cabeça psicológico deste filme?

4 dias ago