A verdade anda perdida ou perderam-na? O descompromisso parece andar solto em nossa sociedade de consumo fácil. Notícias falsas que alimentam a propagação e a manipulação das informações para o atendimento de interesses escusos. Redes sociais facilitam falar de tudo e de todos, sobre questões das mais variadas, ao bel prazer. Será que perdemos o rumo ético da informação? Banalizamos o compromisso ético com a verdadeira face dos fatos? Que rumo então a sociedade tomará? Será que o rumo encontra algum caminho promissor nesse emaranhado de desencontros? Na interioridade humana, falar ou calar-se continua sendo uma arte, e a fórmula para superar desafios nas relações tanto de trabalho quanto familiar.

Profissionalmente, bom relacionamento interpessoal, pode ser facilitado ou dificultado com a comunicação. É essencial na vida coorporativa: a arte de calar-se. Magistral é Shopenhauer, quando escreveu sobre ter razão ou ter paz para ser feliz, de que se prestam os insultos a não ser criar mais desavenças. E tirar sua paz pessoal, ainda que você tenha razão.

Contudo, manter-se em silêncio diante do autoritarismo de alguns superiores dentro da empresa, um chefe, cliente ou colega de trabalho é uma questão delicada, que pode ser um dos fatores de adoecimento no trabalho. Entretanto, há uma linha tênue entre o silencio passivo, que tudo permite até desrespeitos, e o momento exato de falar. Tendo em mente que as vezes falar é só criar um problema ainda maior. E o recurso do silêncio pode ser evitar confrontos desnecessários ou manter o “status quo” zona de conforto (pouco producente).

O desconforto causado por palavras malditas ( dizer más palavras, conforme uma análise psicanalítica), pode permanecer impregnada em uma vida profissional. Mas, por outro lado
a omissão ou passividade em demasia podem ser tão ou igualmente danosas. Fato: Cuidado com as palavras, quando possível, as economize. Evite a todo custo o bater boca, tanto na empresa quanto em casa, ainda que se ache certo. No ambiente de trabalho falar mal dos outros então, pode ser uma pratica além de desnecessária, absolutamente detestável, não cultive isso, e se alguém o fizer na sua frente, desconverse…ele ou ela entenderão o recado..

Use de inteligência emocional para orientar o momento em que falar não é a melhor opção.

Em termos psicanalíticos a falta de noção ou de orientação tem origem no caráter insensato e insaciável de nossa experiência empobrecida gerada pela obediência ao superego. Interpretações dos fatos reduzidos às manifestações superegoicas, perdidos entre frustração e pseudo gratificação e efeitos distorcidos avaliados em termos de “regressão e agressão”. Mas, isto é conversa para outro momento. Infelizmente, nem todas nossas falas estão disponíveis para análise da nossa consciência, ou seja, a interpretação envolve o poder de lembrar, mas também o poder de esquecer. Quem foi ferido se esquece tão rápidamente quanto quem magoou?

O cerne da questão seria, quem se cala acumula mágoas? E para onde irão essas mágoas acumuladas? Onde ficam depositadas? Precisamos validar nossas questões pessoais, com bases éticas, senão a lógica da interpretação das mais variadas questões sem a ética, se tornam vazias, e a ética da interpretação sem lógica é cega. Tanto o marido déspota quanto o chefe irascível ganham o mesmo status. Ambos causarão danos, adoecimentos e pesares que durarão muito tempo. A verdade de cada um precisa ser considerada na ética. É a ética quem direciona a verdade e cria suas próprias condições de efetivação, dentro de um código próprio decifrável através da recuperação da “suposta” liberdade do que pode ou não ser dito.

Voltemos ao problema.

É preciso que o dizer inclua dentro de si, o próprio calar, espaço no qual os “ditos” não acontecem, porque o autocontrole consequência da inteligência emocional socorre. É o espaço onde as metonímias acontecem, a elipse metafórica. Mas onde está a liberdade do dizer? Nada nos obriga a dizer, a não ser nós mesmos, e a vontade incontida de vomitar os dissabores (só o superego obriga). Por outro lado, interpretar os silêncios só é possível obedecendo certas condições ou não, limites metapsicológicos relativos à interpretabilidade, muitas vezes inconscientes.

Se pudéssemos escolher, seríamos discretos no silêncio e habilidosos com as palavras, para calar e falar quando necessário; mas só aplicáveis no campo do idealismo, que se assim fosse seria um exercício diário, contínuo na condução da vida em suas mazelas, seja no contexto profissional ou familiar, válido para todo relacionamento interpessoal.

Esse exercício qualificado de saber quando falar, tornando-se cultura constituir-se-á preciosa ferramenta para que a sociedade desenvolva integral respeito à vida.

Palavras quando ditas no calor das emoções, ou ditas para ferir, manipular ou distorcer os fatos, estarão a serviço das atitudes mesquinhas, justificativas incoerentes, aos maus propósitos, comprometendo-se entendimentos, servindo a um único propósito: fechar horizontes.

Lamentavelmente, por exemplo, políticos que deveriam representar o povo, enchem seus discursos com mentiras, objetivando somente alcançar certas metas – distantes do que seria mais benéfico ao bem comum, priorizando interesses pessoais ou de interesse de pequeno grupo. Na mesma esteira, quando as relações familiares, profissionais, cotidianas, são orientadas pelos parâmetros da superficialidade.

O lado obscuro do discurso que agrada é hoje especialmente aplaudido, fala-se para agradar, ainda que antagônicas com as próprias convicções. As palavras que deveriam ser ditas, o são “maquiadas” para alcançar certos objetivos supostamente “nobres”. Pareceres emitidos sem o conhecimento da realidade, atrapalhando a promoção da justiça, com o discurso de prevalecerem subjetivismos. Interesses escusos, para ferir imagens, ou mesmo para enaltecê-las. Os usos desprovidos de ética nos discursos são tão usuais e comuns nos nossos dias. A liberdade do uso da palavra só será de fato compreendida como força significativa se houver responsabilidade. Longe das formas patológicas de agir, é possível antever o bem e as consequências revolucionárias se esse direito fosse exercido com sabedoria.

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Foto de Capa: Cottonbro/Pexels.

Laila Ali Wahab Morais

Advogada, psicóloga clínica e escolar

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Laila Ali Wahab Morais

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