Os conflitos verbais são manifestações naturais e convenientes numa relação amorosa. O que determina o fortalecimento ou o enfraquecimento da união amorosa é o tipo de briga produzida pelo casal: construtiva ou destrutiva. Desentendimentos ocorrem devido à inabilidade em se comunicar, tornando as brigas disfuncionais e o diálogo ofensivo.

Culturalmente, a briga carrega um rótulo negativo que a associa ao estremecimento e ruptura dos laços amorosos. Entretanto, a briga pode aprofundar a intimidade, fortalecer e enriquecer a relação. Obviamente, também pode ser destrutiva quando uma competição é estabelecida entre os parceiros, que agem como se estivessem em lados opostos. Focados no ataque, o outro é um rival a ser derrotado por meio de estratégias e argumentos. Todavia, na relação amorosa, quando um vence, os dois perdem.

Brigar é uma ação que, como tantas outras, exige aprendizado. No amadurecimento do indivíduo, as brigas boas são ferramentas valiosas para o sujeito conhecer suas limitações e necessidades, além de poder identificar como ele e o outro funcionam e qual o padrão de funcionamento da relação. O outro não é um adversário, mas um parceiro no mútuo processo de crescimento.

A consciência sobre si garante habilidades relacionais e emocionais. Para uma briga construtiva é necessário identificar e admitir as emoções existentes. O conhecimento e controle sobre as emoções permitem expressá-las assertivamente. Além de tomar consciência sobre seu funcionamento, para saber brigar é preciso estar ciente de sua participação e responsabilidade nas situações enfrentadas pelo casal, compreendendo que a atitude de um influencia o outro em um processo de retroalimentação.  

A briga boa serve para melhorar a relação e a si mesmo, não para mudar o outro ou provar quem tem razão. O casal bom de briga se detém à questão atual, sem abordar problemas passados; não generaliza com “sempre” ou “nunca”, nem censura com “por que”; se expressa sem ferir e não usa o que sabe a respeito do outro para machucá-lo ou enfraquecê-lo. Quem é bom de briga não faz acusações, mas fala sobre seus sentimentos. Um parceiro que fala sobre a mágoa que sente, sem transformar a raiva em expressões hostis, deixa o outro propenso a ouvir e a se colocar em seu lugar.

Tão nocivo quanto brigar a todo instante é evitar exageradamente as brigas, armazenando sentimentos que provocam afastamento e não permitem desenvolver intimidade com o outro. Conter constantemente as insatisfações faz com que as frustrações sejam acumuladas, podendo transbordar em ações impulsivas e carregadas de intenso ressentimento.  A excessiva calmaria da relação sem conflitos pode ser a manifestação da ignorância que os parceiros possuem um sobre o outro.

Casais que mantêm brigas construtivas enriquecem a relação, fazem a manutenção do relacionamento e não acumulam conteúdos potencialmente explosivos. Quando o parceiro não é um oponente a ser vencido, as brigas não são ameaças e a relação é um espaço de compreensão e incompreensão, e, sobretudo, de acolhimento e companheirismo.

Marciane Sossmeier

Psicóloga clínica com enorme interesse nos processos e mecanismos envolvidos nas interações e comportamentos humanos. Com orientação psicanalítica, mantém uma abordagem integral do ser humano e sua subjetividade. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pós-graduanda em Dinâmicas das Relações Conjugais e Familiares pela Faculdade Meridional (IMED). .

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