Já são conhecidos os danos que maus tratos graves, como abuso sexual, podem causar à saúde mental das crianças. Nova pesquisa demonstra que bater e empurrar também podem desencadear abuso de álcool e drogas, transtorno de ansiedade e outros problemas de comportamento
Punições físicas aplicadas pelos pais para disciplinar os filhos podem desencadear uma série de problemas mentais entre as crianças ao longo da vida. Segundo um novo estudo publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics, agressões – mesmo que não sejam as formas mais graves de abuso, como sexual ou negligência, comprovadamente prejudiciais à saúde mental – como empurrar, bater e agarrar, estão associadas a distúrbios de ansiedade e de personalidade.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Physical Punishment and Mental Disorders: Results From a Nationally Representative US Sample
Onde foi divulgada: revista Pediatrics
Quem fez: Tracie Afifi, Natalie Mota, Patricia Dasiewicz e Harriet MacMillan
Instituição: Universidade de McMaster, Canadá
Dados de amostragem: 600 pessoas com mais de 20 anos de idade
Resultado: Até 7% dos transtornos mentais – como ansiedade, abuso de álcool e drogas, transtorno obsessivo compulsivo (TOC),e variações de humor – apresentados por adultos podem ser atribuídos a punições físicas severas na infância (bater, empurrar, agarrar).
Segundo os autores do trabalho, está clara a relação entre maus tratos às crianças, tanto físicos e emocionais quanto abuso sexual, e problemas emocionais apresentados por elas durante a vida adulta. No entanto, de acordo com eles, pouco foi estudado sobre os efeitos negativos das punições físicas que são usadas como uma forma de castigo, para a saúde mental dos indivíduos.
Para a pesquisa, uma equipe da Universidade de McMaster, no Canadá, se baseou em dados de 600 americanos inscritos no Exame Nacional de Epidemiologia em Álcool e Condições Relacionadas, dos Estados Unidos, que coletou dados de 34.653 pessoas maiores do que 20 anos entre 2004 e 2005. Os autores observaram que entre 2% e 7% dos distúrbios mentais apresentados pelos participantes — entre eles os transtornos de humor, ansiedade, bulimia, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e abuso de álcool e drogas — foram atribuídos a punições físicas na infância.
Os autores da pesquisa explicam que, embora essa porcentagem pareça pequena, ela já é suficiente para mostrar que os castigos físicos podem ser considerados como fatores de risco para problemas mentais. Eles acreditam que esses resultados reforçam a ideia de que reduzir o castigo físico pode ajudar a diminuir a prevalência de transtornos mentais na população em geral.
Brasil – Uma pesquisa divulgada em junho pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo indicou que um em cada cinco brasileiros sofreu punição física regular, ou seja, ao menos uma vez por semana, na infância, e que pouco mais de 70% apanharam ao menos uma vez quando crianças. O levantamento, feito em 2010 com 4.025 pessoas de onze capitais do país, também mostrou que os indivíduos que relataram sofrer mais punições físicas apresentavam mais chances de adotar a violência na criação de seus filhos.
Fonte indicada: Veja
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