Por Raquel Baldo Vidigal
Tanto no meu dia a dia, como no consultório, vejo pais se gabando de suas técnicas educacionais. Alguns pais não precisam de ajuda, pois acreditam ser muito espertos e saberem todo o necessário para educar seus filhos.
Eles seguem os moldes que lhes foram apresentados em sua própria educação ou seguem ideias formadas na base do “achismo”, experiência ou vontade. Não temem errar e não pensam nos impactos gerados em seus filhos, provavelmente porque não acreditam que seus filhos terão alguma dificuldade ou problema relevante, afinal são seus filhos e como costumam dizer: Estou aqui vivo, não estou?
Há também, aqueles outros pais que precisam de toda ajuda possível, sabem quase todas literaturas de autoajuda para educação de filhos, seguem técnicas de dormir, comer, estudar, brincar, para ver TV, para isso ou para aquilo. A agonia de não saber o que fazer ou de errar é tão grande, que preferem seguir a risca cada dica ouvida e testada (com algum sucesso) no mundo para que seu filho não sofra com seus erros de pais, normalmente estão muito preocupados que seus filhos vivam ou sintam o que eles viveram.
Penso comigo, que peso emocional estas crianças carregam! E que tristeza essa base de relacionamento familiar.
Os pais olham tanto para as estruturas ao redor, sendo elas hábitos herdados das gerações ou novidades salvadoras, mas esquecem de olhar e sentir seus filhos.
Qual colégio escolher?
Tem que ser o melhor (o mais rígido ou o mais liberal).
Não está dando conta, dos estudos?
Vamos buscar aulas extras e particulares.
Tem que fazer inglês, afinal quero um bom futuro para ele.
Quer dinheiro? Quanto precisa?, não nego, mas quero resultados.
Não, é melhor não dar nada de dinheiro e nem celular, ele tem que aprender a ralar na vida para valorizar o que ganha!
Criança não pode ficar na TV ou Tablet, tem que ficar fora de casa, então vamos colocar em atividades físicas (3 ou 5 vezes na semana).
Criança tem que gostar de ler, para ser um adulto de bons hábitos, então vamos montar uma biblioteca. Não pode dormir tarde ou comer isso.
Vamos todos assistir Peppa.
Alguém disse que é melhor não dar chupeta, pois é um hábito ruim, aliás como dizia minha avó deixa chorar no berço que um dia aprende a não chorar mais. Outro diz, mas eu ouvi dizer que é bom dar chupeta, que ajuda acalmar e que é melhor não deixar chorar por isso meu filho, dorme, come, anda, faz tudo comigo!
Tantos achismos baseados em tamanhas expectativas, desses pais, para terem filhos supremos, bem sucedidos e felizes, na infância e vida adulta. E ao mesmo tempo uma escandalosa falta de afeto nessa relação! Há tanto esforço dedicado na escolha de um colégio, mas nem mesmo sabem dizer qual a forma de pensar de seus filhos.
Para a dificuldade de acompanhar os estudos e tirar excelentes notas, arrumam professores e aulas extras, mas não sentam com ele para entender o que acontece e propor ajuda ou até mesmo cogitar alguma mudança.
Não conversam. Não ouvem.
Atividade física faz bem sim, mas qual seu filho gosta?
Criança precisa se divertir ela aprende viver brincando e sentindo prazer, não cumprindo regras. Dar chupeta ou não, olhe e entenda seu bebê, ele vai te mostrar se precisa ou não! Ler é um excelente hábito mesmo, mas assim como tudo na vida é preciso estímulo e identificação. Não basta dar o livro e cobrar, é preciso ler, reler e reler com ele e perceber se seu filho gosta ou não!
Pais espertos e técnicos ou permissivos demais geram filhos sofridos e perdidos, dentro deles mesmos. Perdidos, porque não foram encontrados (as vezes nem procurados) pelos olhares de seus pais. Tornam-se pessoas inseguras, agressivas, individualistas, pois não aprenderam a sentir, apenas cumpriram etapas, regras e técnicas vazias de afeto.
O olhar e a função dos pais é muito mais que garantir segurança e educação.
Pais bons são pais suficientes, aqueles olham para seus filhos, erram e arrumam juntos, sentem e permitem que seus filhos se expressem como seres em formação. Conduzem sim as regras, mas de forma orientadora e ensinam a seus filhos que eles existem, pois são sentidos e percebidos em suas características particulares, não para atender as necessidades de seus pais e é isso que os ajudará um dia na vida a trilhar algum caminho.
O sucesso será tornarem-se pessoas vivas dentro delas, com coragem para saber o que querem e gostam, para escolher e para se esforçar. Os pais são a primeira experiência que temos de relacionamento com mundo e através desta muita coisa será ditada em nossas escolhas amorosas, profissionais, sociais, de vida. Filhos de pais técnicos e apenas provedores costumam ser vazios, perdidos, tristes, técnicos, seguem regras, não sentem suas escolhas e vida, apenas cumprem o calendário da vida.
São crianças (mesmo quando adultas) abandonadas dentro da própria família, sem espaço, lugar ou referencia para sentir a vida e numa espera angustiante por um dia em que será encontrado por algum olhar que o reconheça como ele mesmo!
Imagem de capa: Shutterstock/Brian A Jackson
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST