Para começar tenhamos a humildade de assumir: todos nós já cometemos esse deslize.
Como eu escolhi estudar comportamento humano eu peço licença para lhes afirmar: não se deve agir assim. Não pode! É feio! NÃO FUNCIONA!
Lembro-me de um caso que chegou para mim no consultório há dez anos. Um casal. O marido começou me contando que saíra de casa porque estava envolvido em outro relacionamento e que queria a separação. Já conversara com os filhos, explicara que não amava mais a mãe deles, que queria continuar presente na vida deles como pai – e que eles aceitaram essa escolha; porém, a esposa, que estava presente com ele na consulta, ameaçava tirar a própria vida se ele a deixasse. Quando ele terminou esse relato, ela olhou para mim e disse: “É isso mesmo, se ele sair de casa eu vou me matar, e não há nada que a senhora possa fazer, ou ele fica ou eu morro e ele vai carregar essa culpa para o resto da vida”. Eu não tive quase nada a fazer por eles, pois não retornaram depois dessa sessão. Ela não queria ajuda, claramente foi à consulta com ele apenas para que eu fosse mais uma a saber dos seus planos.
Percebam que essa mulher, em meio ao desespero e à dor de estar sendo rejeitada, toma a pior decisão: a de tentar prender o outro pela chantagem. O homem, também desesperado, me disse: “Eu não quero mais ficar casado com ela, mas eu não quero que ela morra.” Esse tipo de amarra, que se imagina conseguir com chantagem, um dia se rompe e não há nenhum benefício emocional em se comportar dessa forma; mais vale enfrentar a própria dor por pior que ela seja. Não se pode, nem se consegue obrigar ninguém a nada.
A chantagem emocional é o ato de provocar sentimento de culpa no outro com objetivos próprios, e às vezes nada dignos. A arma do chantagista é provocar a culpa na tentativa de induzir alguém a fazer algo que não quer e não deve em favor deste. Ao contrário do que se pensa; os que praticam a chantagem emocional não são vítimas, porque não sentem culpa em se comportar assim, mas sabem que muitos a sentem com facilidade e se aproveitam deles sem nenhum pudor. Muitos casos de chantagem emocional ocorrem entre pessoas próximas e com forte vínculo emocional (mãe, filho, parceiro); nesses casos fica ainda mais difícil e doloroso resistir à pressão.
A regra de conduta é dizer não a qualquer tipo de chantagem – por mais difícil que possa parecer – e imediatamente buscar ajuda, como fez o homem que me procurou trazendo a esposa. O chantagista se comporta sem um padrão de conduta adequado. Provavelmente não está nada acostumado à frustração, não tolera o “não” e leva a vida sem bastar-se como gente.
É preciso um cuidado especial com as crianças para que elas não estabeleçam padrões de comportamento chantagistas. Não se deve nunca dar o que elas pedem ao se perceber que estão chantageando para isso.
Em seu livro que carrega o mesmo título deste texto, a psicoterapeuta Susan Forward descreve quatro tipos de chantagem emocional:
-A primeira é a do bullying emocional usado para inibir a outra pessoa.
–A segunda é quando o chantagista se recusa a dar aprovação e amor ao outro até que atinja seu objetivo. (Pais e mães fiquem atentos a isso).
–A terceira chantagem emocional é a que se baseia na própria dor do chantagista para manipular os outros e conseguir simpatia e aceitação. O famoso fazer-se de vítima.
-A quarta é a do sofredor: sua infelicidade é a ameaça maior que ele usa sobre os outros, colocando os chantageados na posição de responsáveis por qualquer consequência negativa de sua vida. Essa foi a que relatei no início do texto.
Seja qualquer uma dessas quatro formas de agir, não é nada bonito chantagear. Na busca por nos tornarmos pessoas melhores, nos livrarmos dessa forma tão egoísta de ver o mundo e os outros indivíduos é um passo importante. Um chantagista sofre de uma grave doença, a de não conseguir amar e de achar-se, bem lá no fundo, uma porcaria de gente, incapaz de atrair as pessoas usando formas mais saudáveis. A chantagem é um erro muito grave no exercício das relações.
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