Mudar algo lá fora e mudar algo dentro de nós são tarefas muitas vezes difíceis e assustadoras. A gente gosta do que é certo, do que já está estabelecido, do que é constante. A gente até força e se ilude com o que supostamente já está ali do lado, com quem permanece faz tempo, com o que somos desde cedo. A zona de conforto é deveras cômoda e muitos não ousam questioná-la, pois isso requer uma coragem absurda.
Fato é que nunca teremos certeza absoluta quanto às tomadas de decisão que assumiremos vida afora, uma vez que a escolha implica, em si, também uma renúncia. Quando optamos por algo, deixamos para trás alguma coisa e assim nos questionaremos quanto à possibilidade de o que preterimos ter sido o que deveríamos ter mantido. Jamais teremos cem por cento de certeza sobre nossas escolhas, sobre o que devemos guardar e o que necessita ser jogado fora.
E dá medo. Medo de desistir de algo ou de alguém que merecia um pouco mais de insistência. Medo de ficar dando chances à mesma pessoa inutilmente, tendo outro alguém esperando somente uma chance nossa. Medo de partir para um emprego mais afim com nossas habilidades, porém incerto quanto à remuneração. Medo de mudar o corte de cabelo ou sua cor, de usar jeans rasgado, de opinar numa reunião. Medo de se arrepender.
E, por mais que nos alertem, por mais que nos sintamos incomodados, bem lá no fundo, por mais que o que não muda não nos anime, chegará um momento em que a dor por não mudar será insuportável. Teremos, então, que tomar uma atitude, caso desejemos sobreviver, seguir em paz, voltar a sorrir com verdade. Ou isso ou vivemos pela metade, sufocados, à margem da totalidade de sonhos que nos aguardam ali pertinho, sonhos nossos, mas que dependem de nossa coragem.
Infelizmente, a hesitação em agir muitas vezes acaba culminando no desperdício de oportunidades únicas, que já terão ido embora quando resolvermos abraçá-las. Demorar-se demais nas dúvidas pode nos impedir de avançar na hora certa, de aproveitar o melhor momento, de optar por quem seria verdadeiro. E então a lamentação será dolorosa, enquanto sentimos o que deveria estar junto se esvaindo por entre nossas mãos. E então será tarde demais. Como dói o tarde demais…
Temer errar não é de todo mal, pois o medo, muitas vezes, protege-nos e alerta-nos aos descaminhos que devemos evitar. Mesmo assim, precisaremos evitar nos acomodarmos junto ao que e a quem nada trazem de bom, nada acrescentam, em nada ajudam. Mais vale um caminho de lutas em busca do que nos faz feliz do que um repouso paralisante junto a incertezas que incomodam. Vamos ser felizes agora, que o depois demora muito.
Imagem de capa: Angelo Cordeschi/shutterstock
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