Quando pensamos no dia a dia dos profissionais que trabalham desenvolvendo novas tecnologias no Vale do Silício, é fácil imaginar escritórios não convencionais, repletos de jovens empolgados e idealistas alternando o trabalho com uma partida de sinuca. Mas a realidade pode ser bem diferente: São longas horas dentro de escritórios para realizar trabalhos sem propósito, enquanto do lado de fora o mundo enfrenta problemas econômicos, sociais e ambientais. Deste modo, milhares de pessoas estão sofrendo de ansiedade e depressão no Vale do Silício. A solução procurada tem sido a terapia. Mas, claro, ao estilo do polo tecnológico da Califórnia: por meio de uma plataforma digital.
“Pegamos fornecedores de classe mundial, sobrecarregamos eles (e você) com nossas ferramentas de software inteligentes e projetamos uma experiência perfeita para clientes e fornecedores”, diz umas dessas startups, Kip.
Através de um aplicativo, o usuário registra o seu humor em tempo real. Antes de comparecer a uma consulta, recebe perguntas formuladas por terapeutas. Na teoria, os dados podem gerar insights que terapeutas com métodos mais analógicos não conseguiriam alcançar.
“Há três anos não se falava tanto assim sobre saúde mental no Vale do Silício”, diz Michael Seibel, executivo-chefe do fundo de investimentos Y Combinator, ao New York Times. De acordo com Seibel, mais de 50 startups que oferecem serviços de terapia ou similares estão surgindo. Só a empresa dele fundou três: Stoic, Quirk e Mindset Health. Esta última cria aplicativos de hipnoterapia (terapia por meio de hipnose) para tratar ansiedade, depressão e síndrome do intestino irritável. A startup surgiu pela própria experiência dos CEOs – dois irmãos que ficaram depressivos depois de não ter sucesso com seu primeiro aplicativo.
“As perguntas que estão penetrando na consciência nacional estão fazendo o trabalho na área de tecnologia não parecer tão nobre quanto antes”, diz Meredith Whittaker, pesquisadora do Google. Whittaker se demitiu em junho, em parte para protestar contra os contratos militares da gigante de tecnologia e sua ética em torno de produtos de inteligência artificial.
Ao NYT, terapeutas e psicólogos contam que antes os clientes vinham aos consultórios por questões pessoais, mas atualmente é pela dificuldade de lidar com problemas globais, como aquecimento global e ascensão de governos autoritários.
“As pessoas da área de tecnologia estão se sentindo sem esperança”, afirma Krista Regedanz, psicóloga de Palo Alto. “Eles costumam dizer: ‘Não sei se meu trabalho está ajudando alguém’. Mesmo as pessoas que querem mudar o mundo e têm boa energia ao seu redor dizem: ‘Eu não sei. Isso importa?'”.
O crescimento de plataforma digitais para tratar a saúde mental, entretanto, trazem outro problema: de privacidade. Segundo Elizabeth Kaziunas, pesquisadora em tecnologia em saúde mental da Universidade de Nova York, esses aplicativos coletam dados que os usuários talvez não gostariam de documentar. “Não há garantia ou proteção legal”, diz Kaziunas. “Esses dados podem ser comprados ou vendidos a terceiros.”. Para ela, por exemplo, abre a possibilidade de empresas de seguro de saúde aumentarem os valores para pacientes com diagnóstico de ansiedade.
Mesmo assim, o crescimento de startups voltadas à saúde mental apontam para um maior envolvimento do Vale do Silício sobre o tema. Justin Kan, executivo-chefe da Atrium, uma empresa de tecnologia em advocacia, compartilhou ao longo do ano passado as suas lutas pessoais e os prazeres da terapia. “Algo que me ajudou foi que apaguei todas as notificações no meu celular”, diz Kan. “Não tenho mais o aplicativo do mercado de ações ou o Twitter, por exemplo, e isso melhorou meu humor.”
“O que queremos construir é um novo sistema de saúde mental”, diz Alex Katz, fundador da Two Chairs, uma startup de terapia que possui seis clínicas em São Francisco.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Época Negócios.
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