Por Suzy Scarton
Anualmente, 3,4 mil pessoas perdem a vida por dia em acidentes de trânsito no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 1,24 milhão de vítimas fatais por ano, sem considerar as milhões que sobrevivem com traumatismos. O custo global desses acidentes passa dos US$ 500 milhões ao ano. Uma das causas mais ligadas a essas mortes é a combinação entre álcool e direção. No entanto, os riscos do uso de drogas aliado à direção não são discutidos como deveriam ser. Em 2009, 18% dos motoristas norte-americanos fatalmente feridos estavam sob efeito de alguma droga (entorpecentes ou medicamentos).
Uma das principais pesquisadoras do Instituto Nacional para o Abuso das Drogas dos Estados Unidos, Marilyn Huestis, esteve em Porto Alegre na semana passada e também participou da 21ª Conferência do Conselho Internacional sobre Álcool, Drogas e Segurança no Trânsito, realizada até quarta-feira, em Gramado, na serra gaúcha. Para ela, essa falta de foco no problema é preocupante. “Alguns pais me ligam e comemoram porque o filho não bebe e dirige, ele apenas fuma maconha e dirige. As consequências, a curto prazo, podem ser vistas ao dirigir, mas, a longo prazo, a maconha afeta o desenvolvimento cerebral”, explica a pesquisadora, hoje aposentada.
Embora considerada por muitos uma droga inofensiva, a maconha, principalmente combinada com o álcool, causa alterações comportamentais. “Ao fumar e beber, a maconha atrasa o efeito máximo do álcool, e o álcool, por sua vez, aumenta o efeito máximo do THC, o maior componente psicoativo da maconha”, esclarece. A maconha faz com que o motorista dirija mais devagar e ande em ziguezague. Além disso, afeta a rapidez do poder de decisão e a habilidade de concentração. “A pessoa fica mais focada em si mesma e no que está sentindo, perdendo a noção do que ocorre ao redor dela.”
Para ela, a principal medida é evitar que as drogas caiam nas mãos de jovens, uma vez que o cérebro só termina de se desenvolver perto dos 40 anos. “Se começam a usar antes de 17 anos, a droga afetará dramaticamente o sistema nervoso, e essas alterações são permanentes. Provoca perda de QI, perda da memória recente, dificuldade de concentração e de aprendizado”, alerta.
Uma possível legalização da droga também causa inquietação à pesquisadora, que observa alguns efeitos negativos no país onde mora. “Estamos tendo problemas no estado do Colorado, nos Estados Unidos. Algumas instituições estão recomendando que grávidas fumem para evitar as náuseas, e isso é devastador. Acho impressionante que existam legislações e discussões políticas ocorrendo sem que os fatos científicos sejam levados em consideração”, critica.
TEXTO ORIGINAL DE UNIAD
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