São Paulo, 24 de outubro de 2022 – Na reta final das eleições, o 2° turno deste ano está aflorando atritos com posicionamentos políticos divergentes com relação ao país e estado, em alguns lugares. Porém, a partir disso, é onde a alegria ou revolta vêm à tona, fazendo com que muitas pessoas, ao explicitar suas escolhas políticas, discutam e até rompam relações, como a familiares e/ou amigos.
Para a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, Regiane de Aquino Ribeiro Serralheiro, as eleições de 2018 foram marcadas pelo estreitamento e por um estremecimento das relações familiares e sociais, de maneira geral. Mas esse cenário começou a se desenhar desde os eventos de 2016 e seus desdobramentos, nos quais as ideias e posições antagônicas provocaram um grande abismo entre pensamentos diferentes.
Para o futuro do país e do estado onde houver 2º turno, as discussões são necessárias, desde que sejam saudáveis e com respeito. E para que isso aconteça a psicóloga comenta que: “o respeito e a tolerância ao diferente precisam estar presentes, mas com a preservação de valores democráticos básicos. Permitir-se sair da bolha e avaliar nossas posições é importante, além de entendermos que às vezes podemos estar errados. Reconhecer que os indivíduos podem mudar de opinião, que o diferente não é um inimigo a ser combatido e recuperar os valores essenciais e humanos são elementos saudáveis para o nosso desenvolvimento”, afirma.
De acordo com Regiane, o prejuízo pelo rompimento das relações pode ser observado pelo próprio distanciamento. “O sofrimento e o estresse podem ser potencializados pela radicalização, bem como o estímulo ao ódio pelo diferente, mas é importante destacar que algumas relações, já fragilizadas, podem ter sido potencializadas por esse momento e suas rupturas foram aceleradas. Para a reconciliação de uma relação que foi rompida, ambos os lados precisam estar dispostos a exercitar a tolerância”, aconselha.
“As brigas e afastamentos políticos decorrem da dificuldade em ouvir e lidar com o diferente. A intolerância com pensamentos divergentes não combina com o processo democrático, que é muito importante, devendo ser protegido a todo custo”, explica a docente.
Para evitar este tipo de situação, a psicóloga diz que os indivíduos não devem tomar o todo apenas por uma parte, ou seja, precisam compreender que todos podem estar equivocados. Para Regiane, é preciso analisar bem as posições e refutar notícias falsas. “Reduzir o discurso motivado por ódio em que adversários são inimigos, é um exercício essencial. Reconhecer que somos dotados de diversos sentimentos como a raiva, o amor, entre outros, nos torna humanos e em situações extremas, podemos direcionar nosso ódio para algo ou alguém”, enfatiza.
Por fim, Aquino conta que “dialogar, combater notícias falsas e exercer a tolerância pode ser um caminho, desde que ambos os lados possibilitem, pois a valorização implica na disputa entre dois grupos que não estão dispostos ao diálogo, já que estão convictos de suas posições. Enquanto adversários forem vistos como inimigos, os grupos se fecham em suas bolhas, tornando as diferenças ainda mais inconciliáveis. Infelizmente, poderá haver situações que neste momento não é possível a reconciliação; neste caso, dar tempo ao tempo pode ser importante, respeitar o momento de cada um e até compreender que algumas situações poderão ser irreversíveis”.
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