Por Edith Casal
O tempo é um desses fatores que tem o poder de atormentar almas, pela sua imensidão e ao mesmo tempo a sua finitude. Às vezes parece inalcançável, como se os dias e as horas tivessem sido encurtados e nunca fossem suficientes para completar tudo o que precisamos fazer. Temos a sensação de que os minutos se infiltram como gotas de água entre os dedos e não podemos fazer nada a respeito. Não conseguimos focar.
Diferentemente do que muitos imaginam, grande parte do tempo que perdemos é perdido trabalhando ou realizando alguma dessas atividades que chamamos de “produtivas”. Isto acontece por causa da falta de foco: mesmo fazendo a tarefa, o nosso próprio estado de dispersão nos leva e demorar mais do que o necessário para completá-la.
“Nascemos para viver, por isso o capital mais importante que temos é o tempo…”
–Facundo Cabral–
De uma forma ou de outra, a consequência dessa percepção de que o tempo não dá para tudo é um estado de angústia. Aparece uma tensão entre a forma como o relógio avança e a necessidade de cumprir com os objetivos propostos. Nessas condições, também é possível que apareçam os bloqueios e os erros que não fazem mais do que aumentar a demora.
Existe todo um conjunto de ações compulsivas que realizamos dia a dia e que consomem grande parte do nosso próprio tempo. Dentro delas podemos mencionar algumas muito comuns como essa mania de olhar o celular a cada cinco minutos. O mais provável é não encontrarmos nada novo, ou que se houver alguma coisa nova não seja relevante, mas às vezes não conseguimos evitá-lo.
Também é muito comum que uma coisa semelhante aconteça com algumas janelas no computador. Se você checar, existem mais de 20 ou 30 visitas a um site ou rede social, na maioria dos quais não encontramos informação nova, nem relevante.
Cada um tem seu próprio repertório de ações compulsivas ou repetitivas. Algumas pessoas simplesmente interrompem seu trabalho para permitir que o seu pensamento voe, para olhar ao seu redor ou para fazer qualquer coisa que desvie seu foco de atenção da tarefa principal que realizam.
Justamente por serem compulsivas, estas ações são inconscientes. São feitas sem pensar e nelas gastamos uma boa parte do tempo. Respondem a uma dificuldade de se concentrar, à ansiedade ou a uma estratégia de trabalho deficiente.
As dificuldades emocionais também nos roubam mais tempo do que imaginamos. Além disso, também nos roubam disposição e motivação para focarmos nos nossos objetivos. Os problemas não resolvidos implicam uma carga emocional que silenciosamente se transfere a tudo que fazemos.
Todos já deixamos de lado alguma tarefa, seja por um motivo ou outro, e essa tomou vida própria nas nossas mentes. A partir desse momento, de forma repetitiva e anárquica, invadiu o espaço da nossa própria consciência. Desse pensamento nasceram estados de ansiedade que não tinham nada a ver com a situação na qual você se encontrava naquele momento.
Os conflitos sem resolver pesam no dia a dia. Incidem severamente na nossa própria capacidade de concentração, já que são como ruídos incômodos que dão falsas tréguas e aparecem nos momentos mais inoportunos, estragando situações prazerosas. Finalmente, transportam você para o passado ou para o futuro, deixando de lado as sensações que emanam da sua situação atual.
O tempo, ou melhor dizendo a sua percepção, é uma dimensão essencialmente psicológica. Ele anda ou para de andar em função do que você sentir ou do que você estiver pensando. Um minuto é interminável no dentista e passa em um suspiro quando você está em uma situação agradável. E justamente estando tão influenciado pelo que há na mente, precisa ser administrado de uma forma mais racional.
Para focar e administrar melhor o tempo, a primeira coisa é reconhecer e aceitar que sempre teremos alguma coisa pendente para fazer. Isso não precisa ser fonte de angústia, mas precisa ser encarado como uma característica inerente à própria vida. Sabendo disto, o próximo passo é imaginar uma metodologia que combine atividade e pausas. A dispersão é também uma resposta ao cansaço e está comprovado que o cérebro começa a se cansar depois de 25 minutos de atenção focada em uma única atividade.
Além disso, é importante que nas horas em você não estiver trabalhando, se dedique a atividades criativas. O tempo de ócio é tão ou mesmo mais importante que o mesmo tempo de trabalho. Compreende todos esses lapsos de liberdade, nos quais é possível liberar tensões e renovar a sua energia emocional.
Não desperdice esses valiosos momentos em atividades repetitivas, como assistir televisão. Também não invista todo o seu descanso em situações que saturem ou que sejam enfadonhas: isso não lhe permite descansar de verdade. Para aproveitar melhor o seu tempo de trabalho, aprenda a usufruir de um descanso de alta qualidade. Assim você saberá focar naquilo que é importante e o fará com mais sucesso.
Imagem de capa: Shutterstock/ImageFlow
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