Estamos vivenciando uma época de crise sem precedentes em todos os setores da vida, mas nenhuma delas é tão marcante, tão preocupante quanto a crise de valores e a que está mais comprometida é a empatia. O individualismo prepondera, as principais redes de apoio tornam-se cada vez mais desgastadas. A concorrência e o egoísmo se exacerbam e em meio a tantas condições inóspitas, mais que nunca a nossa resiliência e o emocional precisam estar fortalecidos para que o ser humano sobreviva em meio ao caos que ele próprio contribuiu de uma certa forma para viver. O resultado desta desarmonização é o desequilíbrio emocional.
Esta condição se traduz em vazio existencial, sensação de despertencimento, vícios, noites mal dormidas, doenças físicas, psíquicas e psicossomáticas. As relações interpessoais também estão cada vez mais impactadas, caracterizando-se pela debilidade dos laços, do “salve-se quem puder”, visto que geralmente as pessoas não priorizam aprofundar as raízes dos seus afetos, do comprometimento com o outro, alimento este imprescindível para o fortalecimento do ser humano nos embates da vida e que não são poucos. Pior, as pessoas perderam o compromisso consigo mesmas, postergando para depois ou delegando ao tempo a resolução de suas feridas emocionais, dos seus traumas, dos lutos mal elaborados, das dores profundas que gritam em silêncio e de situações mal resolvidas com elas mesmas e com os outros.
Hoje em dia, as pessoas acreditam que estar bem consigo mesmas é apresentar um cartão de visita de uma boa aparência, do externo, daquilo que é visível, do que se pode ter, onde tantas vezes uma tristeza profunda se esconde por trás de um sorriso disfarçado. As pessoas estão cada vez mais preocupadas em manter a qualquer custo os padrões impostos pela sociedade, mesmo que estes provoquem adoecimento. E como fica o interno, o trabalho das dores emocionais, dos estados doentios que não são elaborados? Será que o mais importante é aquilo que se vê, o que os outros percebem, mesmo se usando uma máscara? Na realidade, estamos preferindo apresentar um padrão de vida que propriamente vivenciar uma qualidade de vida plena.
Diante de tanta turbulência, vazio interior, inquietação e insatisfação, é possível ter a resiliência fortalecida nos dias de hoje? A boa notícia é que sim, é possível. Mas como fazer? Elaborei 3 dicas praticáveis para quem deseja começar a investir no fortalecimento da resiliência e no cultivo da paz interior.
Vamos conferi-las?
O velho ditado que diz que o tempo cura tudo, não se aplica a dores emocionais, pois se esta regra fosse verdadeira, não teríamos pessoas aprisionadas anos a fio em lutos patológicos, em traumas de infância, na espera do ser amado que se foi há anos, das falsas esperanças estruturadas no nada, de vivências funestas que não foram devidamente trabalhadas e que são carregadas como um peso, onde nos arrastamos pela vida passos lentos. Não se condene a carregar pesos. Somente administrar e aprender a conviver com memórias de dor não é suficiente, sendo necessário ressignificá-las. A ressignificação consiste em dar um novo sentido e um novo lugar a estas experiências aprisionadas no passado e que insistem em permanecer ali do nosso lado como um fantasma. Através da psicoterapia, as cicatrizes de uma experiência desoladora dará espaço a uma pessoa resiliente e portanto mais fortificada para enfrentar as adversidades da vida.
Ninguém nasce resiliente. A resiliência é construída no decorrer da vida, sendo a capacidade de psicoadaptação, de se reequilibrar diante das adversidades da vida, transformando as crises em oportunidades de aprendizado, fortalecimento, mudança e autodesenvolvimento. Por este motivo, o desenvolvimento desta habilidade é tão importante para a manutenção da saúde mental. Resiliência e inteligência emocional andam de mãos dadas e estão relacionadas com o desenvolvimento de habilidades psicossociais e competências emocionais e que podem ser aprendidas no decorrer da nossa existência.
Antes de explicar sobre a importância das emoções para nosso equilíbrio emocional, gostaria de ressaltar que não existem emoções negativas, mas sim emoções disfuncionais e gostaria de corroborar isto detalhadamente. Importante também salientar que não existe uma emoção melhor ou pior que a outra, mas sim a sua funcionalidade e contextualização em um determinado momento específico.
Neste artigo, irei abordar somente as emoções primárias e sua importância.
Temos quatro emoções primárias que são o medo, a raiva, a tristeza e a alegria. Estas emoções apresentam um papel fundamental nos mecanismos de defesa visando a nossa proteção e sobrevivência, seja física que psíquica. O medo, por exemplo, geralmente interpretado como uma emoção negativa, é fundamental para a nossa sobrevivência. Sem a emoção do medo, poderíamos atravessar uma rua perigosa e escura no meio da madrugada, nos colocando em uma situação de perigo. Contudo, se o medo é exacerbado, pode se caracterizar como um pânico, travando a vida. Observe que no primeiro caso, o medo é protetivo e no segundo é paralisante e portanto, sendo disfuncional. A raiva também é importante pois nos proporciona estratégia e foco para enfrentar desafios, nos mobilizando a promover mudanças naquilo que nos aflige de alguma forma. Em outras palavras, a raiva também é legítima e não pode ser ignorada. Ela traz em si uma insatisfação ambiental que precisa ser investigada e trabalhada, pois do contrário a felicidade será mascarada pois será vivenciada através da fuga do que nos aflige. O que faz a diferença é de como esta raiva é utilizada, administrada, visto que nunca deve ser confundida com agressão ou violência direcionada para pessoas, mas uma “energia” a ser utilizada nas circunstâncias adversas, na força motriz para a resolução de problemas, do que precisamos rever e transformar.
No tocante à tristeza, esta é uma emoção primária que tem importância crucial para nossa homeostase psíquica, pois “denuncia” que algo em nós não vai bem, que precisa de cuidado, de atenção, de um investimento, principalmente no autoconhecimento. É normal e até esperado que a pessoa sinta tristeza diante de uma perda, de um processo de luto ou de uma separação. No entanto, quando esta é exacerbada e de longa duração pode se traduzir em um luto patológico e estados depressivos. Já a alegria é percebida como uma emoção sempre positiva e agradável, pois nos proporciona um estado de contentamento, bem estar e até mesmo de felicidade. Mas, como aqui a palavra-chave é equilíbrio, até mesmo a alegria pode apresentar seu aspecto disfuncional quando descontrolada, quando se configura em euforia. A alegria é muito boa e sempre bem vinda, é o sal da vida; já a euforia faz parte de alguns quadros psicopatológicos dos transtornos de humor.
Lembre-se que as emoções fazem parte da nossa condição humana, pois nascemos com elas. No entanto, devemos desenvolver o auto enfrentamento para lidar com emoções disfuncionais que exigem de nós uma maior condição de maturidade e conscientização frente às dificuldades que a vida nos apresenta para que não nos tornemos reféns ou prisioneiros destas mesmas emoções que se disfuncionais são preditivas de adoecimento psicofísico e emocional e portanto inviabilizando nosso progresso enquanto pessoa.
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