Por Cecilia Barría para o site da BBC
Leonardo da Vinci, Albert Einstein, Isaac Newton, Michelangelo… a lista de gênios da história da humanidade está cheia de personalidades que transbordam criatividade.
Mesmo sem chegar a esse patamar, as pessoas que têm ideias originais em sua vida cotidiana possuem um cérebro diferente dos demais, segundo pesquisa liderada por Roger Beaty, especialista em neurociência cognitiva pela Universidade Harvard.
Assim como a inteligência, a criatividade é algo que todos temos em maior ou menor medida. De fato, para equilibrar o orçamento, planejar as férias ou mesmo mentir, é preciso ter ideias engenhosas.
Pouco a pouco, os cientistas começam a descobrir quais zonas do cérebro se relacionam à criatividade e a identificar processos como ideias espontâneas ou pensamento controlado (aquele que pondera se algumas “ideias loucas” podem chegar a funcionar na vida real).
“Medimos a atividade do cérebro em pessoas que trabalhavam em tarefas que exigem pensamento criativo (por exemplo, pensar em usos diferentes para objetos cotidianos) e descobrimos que os que têm as ideias mais originais demonstraram um padrão diferente em suas conexões neurais”, afirmou Beaty à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Beaty estudou o comportamento das distintas redes neurais de 163 pessoas, por meio de ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI, na sigla em inglês). Essa técnica permite obter imagens das atividades em múltiplas áreas do cérebro durante atividades que envolvem habilidade artística e criativa, como pensar “fora da caixa”, falar em linguagem figurativa, improvisar um música, compor poemas ou produzir algo visualmente artístico.
“Conseguimos prever – modestamente – a habilidade criativa de uma pessoa a partir da força de suas conexões neurais no interior de uma mesma rede”, prosseguiu o cientista.
“Em geral, pessoas com conexões mais fortes tiveram ideias melhores.”
As redes neurais criativas
Durante a pesquisa, publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Beaty identificou que o pensamento criativo ocorre sobretudo no interior de três redes neurais.
São elas: a rede de modo padrão, usada quando o cérebro está gerando ideias e simplesmente imaginando; a rede de controle executivo, ativada para a tomada de decisões e avaliações de ideias; e a rede de saliência, usada para discernir quais ideias são relevantes e para facilitar a transição das ideias entre os modos padrão e executivo.
Essa última rede tem uma função-chave, ao fazer uma ponte entre o mecanismo de geração de ideias e o de avaliação destas.
Em geral, essas redes não funcionam simultaneamente. Por exemplo, quando se ativa a rede de controle executivo, a padrão pode deixar de trabalhar.
Mas a pesquisa sugere que “as pessoas criativas têm uma habilidade maior em coativar redes neurais que costumam trabalhar separadamente”, explicou Beaty. “O cérebro criativo está conectado de uma maneira diferente, e as pessoas criativas são mais capazes de ativar sistemas cerebrais que tipicamente não funcionam juntos.”
Os mais criativos conseguem acessar redes neurais distintas simultaneamente
Treinando o cérebro?
Essas conclusões vão na mesma linha de estudos prévios realizados com mentes criativas como músicos de jazz, poetas e artistas visuais. Agora, Beaty planeja mapear a atividade cerebral em diferentes atividades criativas, das artes às ciências, para entender se é possível “treinar” o cérebro para aumentar a criativdade.
O pesquisador tem destacado, porém, que o pensamento criativo não é necessariamente algo exclusivo de poucos sortudos e que ainda é preciso entender melhor como funciona esse complexo esforço neural.
Ainda assim, disse, é possível treinar o cérebro em determinadas áreas para estimular ideias originais.
“O treinamento em diferentes campos, como a escrita criativa, pode funcionar – em parte – para melhorar a conectividade neural dentro de uma mesma rede”, ensinou.
Imagem de capa: Shutterstock/Kuttelvaserova Stuchelova
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