Neste período tão extremado que estamos vivendo devido à pandemia de Covid-19, os pais têm carregado pesados fardos de estresse e responsabilidade, preocupando-se consigo mesmos, mas também observando as dificuldades dos filhos, e existe uma preocupação mundial com a depressão entre os jovens.
Mas não são apenas os adultos, os jovens e os adolescentes que estão sofrendo com este longo perído de isolamento social a que fomos submetidos; crianças pequenas também podem ter depressão, mas pode parecer muito diferente, o que torna difícil para os pais – ou médicos – reconhecê-la e fornecer ajuda.
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Para a Dra. Rachel Busman, psicóloga clínica do Child Mind Institute, na cidade de Nova York, pode ser difícil pensar sobre depressão em crianças mais novas porque imaginamos a infância como um período de inocência e alegria.
Mas é importante saber que até dois a três por cento das crianças de seis a 12 anos podem ter depressão grave, segundo Busman. E crianças com transtornos de ansiedade, que estão presentes em mais de 7% das crianças de três a 17 anos, também correm o risco de desenvolver depressão.
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A depressão foi originalmente concebida como um problema adulto. A Dra. Maria Kovacs, professora de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, disse que nas décadas de 1950 e 60, havia psiquiatras infantis que acreditavam que as crianças não tinham desenvolvimento do ego suficiente para sentir depressão, mas que pesquisas realizadas por ela e outros colegas nos anos 70 mostrou que “crianças em idade escolar podem sofrer de depressão diagnosticável”.
Antes da adolescência, a depressão é igualmente comum em meninas e meninos, embora entre os adolescentes seja duas vezes mais comum em meninas, e essa predominância perdura durante a maior parte da vida adulta, até a velhice, quando novamente parece se igualar.
Como é a depressão em crianças pequenas?
Segundo a Dra. Kovacs, quando crianças pequenas estão deprimidas, não é incomum que “o humor primário seja irritabilidade, não tristeza; a criança fica muito ranzinza”. E as crianças são muito menos propensas a entender que o que estão sentindo é depressão ou a identificá-la dessa forma.
“Quase nunca acontece que elas digam: ‘Algo está errado porque estou triste’”, disse Kovacs. Cabe aos adultos procurar sinais de que algo não está bem, disse ela.
A melhor maneira de os pais reconhecerem a depressão em crianças pequenas não é tanto pelo que a criança diz, mas pelo que ela faz – ou para de fazer. Procure por “mudanças significativas no funcionamento”, disse a Dra. Kovacs, como “se uma criança para de brincar com suas coisas favoritas, para de responder ao que costumava responder”.
Isso pode significar que a criança perde o interesse pelos brinquedos, jogos, piadas ou rituais que costumavam ser divertidos, ou que não parece interessada nas habituais idas e vindas da vida familiar.
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“Você tem um filho que era de um jeito, e então você vê que ele está mais irritado e triste”, disse o Dr. Egger, que agora é o diretor médico e científico da Little Otter, uma nova empresa online de saúde mental para crianças.
As crianças podem parecer chateadas, ter menos energia ou cansar-se facilmente. E podem começar a reclamar de sintomas físicos, especialmente dores de estômago e de cabeça. Elas podem dormir mais – ou menos – ou perder o apetite.
Como o tratamento pode ajudar?
“Os pais devem levar muito a sério os sintomas da criança”, disse o Dr. Jonathan Comer, professor de psicologia e psiquiatria da Florida International University. “Em formas sérias, eles aumentas como uma bola de neve com o tempo, e o início mais precoce está associado a resultados piores ao longo da vida.”
Em um estudo longitudinal de 2016, a Dra. Kovacs e seus colegas traçaram o curso da depressão começando na infância e encontraram episódios recorrentes na vida adulta.
Portanto, se você notar mudanças como abstinência de atividades, irritabilidade ou tristeza, fadiga ou distúrbios do sono que persistem por duas semanas, considere a avaliação da criança por alguém que esteja familiarizado com problemas de saúde mental em crianças dessa idade.
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Comece com seu pediatra, que saberá sobre os recursos disponíveis em sua área.
Os pais devem insistir em uma avaliação abrangente da saúde mental, disse o Dr. Busman, incluindo a coleta da história dos pais, passar um tempo com a criança e conversar com a escola. Uma avaliação deve incluir perguntas sobre sintomas de depressão, bem como procurar outros problemas, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ou ansiedade, que podem estar na raiz do sofrimento da criança.
A depressão não se presta necessariamente a explicações simples de causa e efeito, mas a Dra. Kovacs enfatizou que, no primeiro episódio em uma criança, quase sempre há um estressor específico que desencadeou o problema.
Pode ser uma mudança na constelação familiar – um divórcio dos pais, uma morte – ou pode ser algo mais sutil, como uma ansiedade que saiu do controle. Se uma criança começa a terapia, parte do tratamento será para identificar – e falar sobre – esse estressor.
“Os pais devem ver as dificuldades dos filhos como oportunidades de intervenção”, disse o Dr. Comer. “A maioria dos problemas de humor na primeira infância desaparecerá com o tempo, cuidados parentais sensíveis e ambientes de apoio”.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações do The New York Times e Today.
Imagem de capa de A life without animals is not worth living por Pixabay